30 de jun. de 2013

Uma PEC para tornar obrigatória a indecência


Financiamento de campanha e representatividade de candidatos e partidos (voto em lista, voto distrital simples ou composto, como exemplos) são temas praticamente certos no plebiscito da reforma política. Mas tem um em especial que me dá coceiras e incertezas: as execráveis emendas parlamentares individuais, distribuídas a deputados e senadores, a título de financiamento de projetos e obras em seus redutos eleitorais. Até quando teremos de aturar essa vergonhosa compra de votos?
Em tempo: Tramita nos bastidores da Câmara dos Deputados a PEC 565 que pretende tornar OBRIGATÓRIA A INCLUSÃO NO ORÇAMENTO DA UNIÃO  de verba específica para o pagamento das emendas individuais dos parlamentares. A obrigatoriedade é uma forma de garantir o recebimento da bolada, independentemente do humor do governante de plantão. O cálculo seria feito levando-se em consideração a arrecadação federal. Em valores de hoje, seriam cerca de R$ 7 bilhões para rateio - o que garantiria aos nobres parlamentares cerca de R$ 12 milhões

29 de jun. de 2013

Os médicos cubanos e o exame da OAB

O título acima junta na mesma linha dois temas frutos do mesmo absurdo, ambos corporativistas. O exame da OAB continua sendo uma aberração jurídica, mesmo que  respaldada pelo STF. Serve apenas para manter controle sobre o número de advogados e, ao mesmo tempo, encher os cofres da OAB e de meia dúzia de privilegiados empresários donos de cursinhos. São três exames por ano, que somam algo em torno de 350 mil candidatos dos quais não mais do que 30 mil vão conseguir aprovação. Os "reprovados" gastaram tempo e dinheiro em uma faculdade legalmente habilitada, mas ficarão de fora, impedido de trabalhar - repita-se - com o respaldo do STF.

Com os médicos, o corporativismo se dá de outra forma, talvez mais perversa, pois é um corporativismo elitista, cujo uso em excesso "pode levar à morte".  Vejamos:

O Brasil tem 388.015 médicos em atividade. Deste total, 275.310 (70%) estão concentrados nas regiões Sul e Sudeste. Na Região Norte, são 16.538 médicos. A média nacional é de 2 médicos por 1.000 habitantes - duas vezes maior do que nas regiões Norte (1,01) e Nordeste (1,2 médico por 1.000 habitantes). Na melhor posição está o Sudeste (2,67), seguido pela região Sul (2,09) e o Centro-Oeste (2,05).

Todos esses números podem - e devem - ser conferidos em Demografia Médica no Brasil - Volume 2 - CFM/CREMESP - Fevereiro 2013. O endereço está no Google.

Não faltam médicos no Rio de Janeiro. Não faltam médicos em São Paulo. Faltam médicos no SUS, seja no Rio, seja em São Paulo, e faltam médicos onde não há mercados para a especialização.

E por que faltam médicos no SUS?

Entrem em qualquer sala do sexto ano e perguntem: quantos médicos aqui pretendem atuar na atividade básica? De cada 50, se aparecer um será muito. Detalhe importante: todo esse debate dos médicos importados de Cuba ou de Portugal gira em torno disso. Ninguém falou até agora em importar especialistas, mas exclusivamente médicos que queiram atuar na linha de frente, na chamada atividade básica, em áreas onde os médicos brasileiros NÃO QUEREM ATUAR. Um não querer legítimo, mas com consequências dramáticas, como a advertência nas embalagens de medicamentos.

 A Prefeitura Municipal de Feijó, no interior do Acre, por exemplo, está à procura de " 03 (três) médicos "clínico Geral" (atividade básica) , que estejam dispostos a atuar em nossa cidade, com o contrato de salário no valor de R$ 10.500,00 (Dez mil, e quinhentos reais)". Observe que o mais importante nesse trecho do edital não é o salário, mas a presença da expressão DISPOSTOS.

Pareceu-me uma súplica.

Interessados, de acordo com o edital, devem entrar em contato com Rosaldo Firmo de Aguiar, Secretário Municipal de Saúde, no endereço "Trav. Diamantino Augusto Macedo, S/H - Cidade Nova - Feijó - Acre. CEP 69.960-000 - Fone/Fax: (68) 3463-3372 E-mail: saude@feijo.ac.gov.br".

 Nem sei se os médicos importados chegarão um dia a Feijó ou a Caracol, no interior do Piauí. O que sei é uma criança que nasce naquelas bandas está condenada a viver quase 10 anos a menos do que a criança que nasce no Rio ou em São Paulo. (Taxa de fecundidade total, taxa bruta de natalidade, taxa bruta de mortalidade, taxa de mortalidade infantil e esperança de vida ao nascer, por sexo, segundo as Grandes Regiões e Unidades da Federação - Síntese dos Indicadores Sociais 2010 - IBGE).

Isso é inaceitável e como tal deveria ser também inegociável. Ou será que o artigo 5º da Constituição não vale para o Piauí?

Sobre vaias e aplausos no Maracanã

Ganhou clima de final de novela a discussão se a presidente Dilma Rousseff deve ou não encerrar oficialmente a Copa das Confederações, amanhã, no Rio. Há uma tendência pelo empate entre os que acham que "Sim, ela deve ir" e os que opinam pelo "Não, seria um desgaste inútil". Claro que estou deixando de fora os devoradores de alma, a parcela que gostaria de ver repetida e ampliada,  a sonora vaia recebida por ela na cerimônia der abertura do torneio, em Brasília. 
Nesse embate, relembro o caso do garoto levado pelo pai para assistir um Fla x Flu em uma tarde dominical de outono no Rio de Janeiro.  Arquibancadas lotadas. O locutor oficial anuncia, de forma solene, a presença "do ilustríssimo senhor presidente da República" e diz algo parecido com "feliz do povo que pode receber o seu presidente com os braços abertos; feliz do presidente que pode receber seu povo de braços abertos". Antes mesmo que a frase fosse concluída, 100 mil pessoas aplaudem o general Emílio Garrastazu Médici. 
Vaiar a Dilma é mole. Daqui a 40 anos ninguém se lembrará de tê-la vaiado em uma tarde-noite dominical do Rio de Janeiro. Duro é aplaudir um facínora. Duro é lembrar, tanto tempo depois, a imagem daquele garoto (eu) aplaudindo um ditador.

12 de abr. de 2009

Internet conquista audiência e respeito

Aqueles que duvidavam do poder da Internet terão de rever boa parte dos seus argumentos. Dois acontecimentos recentes – o sequestro da filha do apresentador Sílvio Santos e os ataques terroristas em Nova York e em Washington – colocaram a Internet ao lado da TV como fonte básica de informação em tempo real. As emissoras que transmitiram ao vivo os dois episódios e os seus desdobramentos bateram recordes de audiência, o mesmo ocorrendo com os principais sites de notícias do País.

E isso não ocorre apenas quando se tratam de catástrofes. Pouco a pouco, a Internet também consolida uma audiência cativa e específica no dia a dia – esta sim, sem concorrência com nenhum outro meio de comunicação, pelo menos enquanto não chegar por aqui a terceira geração de celulares ou a chamada banda larga. Exemplo desse predomínio ocorre na oferta de serviços bancários.

Todos os meses, cerca de 4,7 milhões de pessoas maiores de 18 anos, a grande maioria situada nas escalas A e B da pirâmide social, acessam, a partir de suas casas, algo em torno de 2 bilhões de páginas diferentes na Internet. Talvez cause surpresa, mas uma em cada seis destas páginas está localizada em um site de banco.

É isso mesmo: Itaú, CEF, Banco do Brasil, Bradesco, Real e Unibanco, em uma relação liderada pela Receita Federal, tiveram em conjunto 293 milhões de páginas diferentes acessadas em julho. Se tivessem em um mesmo endereço, a audiência destes sites seria a segunda maior da Internet brasileira, o que demonstra bem o poderio do setor financeiro também no mundo www.

Sob os mais variados pontos de vista, o setor bancário brasileiro ostenta números expressivos na Internet, não apenas por aqui, mas também se comparados com os EUA, o berço do capitalismo e da própria Web. Um levantamento divulgado recentemente pelo The New York Times concluiu que entre 22% e 25% dos clientes dos dois maiores bancos privados brasileiros - Bradesco e Itaú – realizam regularmente operações financeiras on-line - uma participação relativa bem maior do que os 15% do Wells Fargo, líder no mercado americano de transações bancárias pela rede.

O curioso nesta história é que a desconfiança do usuário brasileiro, que o impede de digitar o número do seu cartão de crédito na Internet e que tem sido apontada como o grande entrave para a expansão do comércio eletrônico no País, parece não prosperar no site do seu banco - assim como já não funcionava em postos de gasolina, restaurantes ou parques de diversão.

Mensagens do tipo "fique tranquilo, pois você está em ambiente seguro" é aceita como garantia e logo você estará digitando não apenas os números de sua conta bancária, mas também - pasme! - a sua senha "pessoal e intransferível". A partir daí, é como se estivesse na própria agência, utilizando de praticamente todos os serviços disponíveis no mundo real, com a vantagem de não precisar enfrentar filas torturantes - ou seguranças sempre prontos a duvidar de um inofensivo telefone celular.

Talvez seja esta a receita para o sucesso na Internet: sites que facilitem as nossas vidas – seja informando e explicando o que está acontecendo agora do outro lado do Atlântico, seja encurtando caminhos entre você, a agência bancária ou a bilheteria do cinema. Infelizmente, por mais simples que possa parecer, a fórmula ainda é ignorada por um bom número de endereços na Internet.

Correio eletrônico para todos

A série de ataques terroristas sobre Nova York e Washington certamente vai tirar o brilho sobre uma importante medida adotada pelas autoridades de Houston, também nos Estados Unidos. No início da semana, o governo local deu um passo importante contra a chamada exclusão digital, ao oferecer, de uma só vez, a todos os seus 2 milhões de habitantes, contas gratuitas de email e acesso a um software que reúne processador de texto, planilha de cálculos, agenda e outros aplicativos úteis no dia-a-dia. A iniciativa, inédita nos EUA e provavelmente no mundo, foi possível graças a um convênio entre o governo local e a Internet Access Technologies, a empresa que desenvolveu o software, que recebeu o sugestivo nome SimHouston (www.simdesk.com).

A diferença básica de outros sistemas de disseminação do uso da Internet está no fato de que o software é instalado em servidores centrais e não nos computadores pessoais, o que reduz consideravelmente os custos e permite o acesso a partir de qualquer máquina conectada à Internet. Jornais norte-americanos especulam que outras cidades devem adotar providências semelhantes nas próximas semanas. O último levantamento da Nielsen/NetRatings revela que três em cada cinco norte-americanos têm acesso a um computador conectado à Internet em casa ou no local de trabalho.

Sons para celulares

Cansado de ouvir sempre o mesmo tom de chamada do seu telefone celular? Que tal personalizá-lo com um trecho da trilha sonora de "Os Flinstones", de "A Pantera Cor de Rosa", "Missão Impossível" ou até mesmo do hino do seu clube de futebol? Embora de utilidade e gosto discutíveis, centenas de endereços na Internet estão oferecendo o serviço, em um leque de opções que agrada a alguns, diverte a outros e irrita a muita gente. Alguns sites chegam ao requinte de oferecer softwares de edição, que permitem ao usuário "compor" o som que quer ouvir ao atender uma ligação, usando como notas musicais as próprias teclas do aparelho celular.

Para quem estiver interessado - ou apenas quiser se divertir um pouco testando as opções disponíveis - aqui vai uma dica e uma advertência. A dica: utilize como palavras-chaves em um site de buscas "ring tones", "toques de campainha" ou "som para celular". A advertência: de cada 10 endereços que vão aparecer na sua tela, pelo menos sete oferecerão o serviço gratuitamente de forma, digamos, "informal". Segundo a Envisional, uma empresa inglesa especializada em identificar conteúdos piratas na Internet, esta "informalidade" causa um prejuízo diário de US$ 1,5 milhão às empresas detentoras dos direitos autorais dos tais ring tones.

Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo,em 13/09/2001

Encontro inevitável entre moda e tecnologia

No final de 1996, Nicolas Negroponte e Neil Gershenfeld, ambos do Massachussets Institute of Techonology, escreveram uma coluna para a Wired e para a Agência Estado com o enigmático título Wearable Computers, algo como Computadores "Vestíveis", numa tradução literal que não encontra amparo no Aurélio. O texto se baseava em um conceito ainda hoje muito difundido no Media Lab, o de que as pessoas deveriam estar "dentro" do computador e não sentado diante de um.

O computador deveria ir aonde as pessoas fossem. E como todas, em maior ou menor grau, estariam vestidas, os dois pesquisadores vislumbravam nos tecidos e nos acessórios pessoais a arquitetura e aliados perfeitos para a concretização de algumas das idéias analisadas em laboratório. Pois o inevitável encontro entre a tecnologia e a moda aconteceu e, pelo visto, não há retorno.

Algumas das principais empresas têxteis do mundo trabalham atualmente no desenvolvimento de tecidos que, além de práticos e confortáveis, são também inteligentes. A ponto de permitir que uma camisa ou um vestido mudem de cor em função da temperatura ambiente ou até mesmo do estado de espírito de quem se deixa trair, por exemplo, pelos batimentos cardíacos.

Meias que retêm o suor do corpo e calças com ajuste automático à silhueta também estão chegando ao mercado. Logo será a vez de lingeries ou tailleurs e, apesar de o conceito por trás dos wearable computers ultrapassar o universo fashion, ninguém deve se espantar quando em breve for anunciado o primeiro desfile high tech e, consequentemente, a primeira top model cibernética virar capa de revistas especializadas em moda.

Imaginem brincos receptores de áudio, óculos monitores ou transmissores de vídeo, sapatos e sandálias dotados de modem ultra modernos ou uma jaqueta jeans com acesso à Internet e ainda por cima capaz de reproduzir arquivos em MP3. Parece exagero? Pois saiba que algumas dessas maravilhas, fruto de parcerias entre empresas de alta tecnologia e fabricantes de roupas ou até mesmo de jóias já estão no mercado, ainda que a preços proibitivos para a grande maioria dos mortais.

Antes do Natal, por exemplo, a jaqueta do parágrafo acima terá na etiqueta as marcas Levi's e Philips e um valor estimado na casa dos US$ 2 mil. A Hitachi também promete colocar no mercado ainda este ano a sua versão de wearable computers, com acesso total à Internet, numa parceria com a Xybernaut (www.xybernaut.com), que desde 90 fornece aplicações para mercados profissionais. O equipamento ainda parece pouco prático e consiste num módulo central em forma de cinto, um teclado adaptado ao pulso, com fones e visores apoiados no ouvido.

Em outra linha de atuação, a Land’s End (www.landsend.com), especializada na venda por catálogos, e a Image Twin, uma empresa de tecnologia, tentam expandir o comércio de roupas pela Internet, com a instalação de quiosques dotados de um aparelho capaz de reproduzir qualquer silhueta em três dimensões. O tal scanner é capaz de "ler" 200.000 pontos da superfície do corpo, tornando possível a confecção de uma roupa realmente sob medida. As informações são armazenadas em um banco-de-dados e podem ser enviadas para as confecções associadas ao sistema, que entregam em casa o modelo pronto para ser usado, sem a necessidade de nenhum ajuste.

Enquanto o body-scanning não chega por aqui, é possível simular a confecção de quase 300 modelos no site da empresa (www.mvm.com). Você preenche um quadro com várias informações e um software se encarrega de sugerir o estilo que melhor se adapta ao seu modo de vida e às suas medidas. A partir daí, você passa a contar com a ajuda de um consultor virtual de moda. Experimente contar "mentirinhas inocentes" e se divirta – ou não - com os resultados.

Desenhando para vestir

Grandes nomes do design e da tecnologia estarão reunidos em outubro na quinta edição do International Symposium on Wearable Computers, em Zurique. A programação do evento (http://iswc.gatech.edu/) resume tudo o que está sendo pensado e desenvolvido sobre os tais computadores "vestíveis", inclusive com demonstrações práticas de algumas aplicações aparentemente futurísticas. No centro das atenções, a preocupação em moldar ao corpo humano várias tecnologias já existentes no mercado.

Um dos destaques mais aguardados é um desfile de moda, produzido por uma equipe multidisciplinar, que reúne estilistas, físicos e especialistas em nanotecnologia, entre outros campos do conhecimento (www.wearablegroup.org). Alguns modelos que serão apresentados foram produzidos a partir de fios que funcionam como cabos transmissores de informações ou capazes de atuar como baterias solares para garantir o funcionamento dos equipamentos "vestíveis".

Bizarros e mutilados

Até o final do mês é possível conferir a evolução da moda e dos costumes em www.mode2001.be, uma grande exposição organizada pelo Museu de Arte Contemporânea da Antuérpia, Bélgica. Como sugestão, procure pela mostra Mutilate?, que possibilita uma reflexão sobre o universo fashion a partir de uma abordagem histórica e como homens e mulheres movidos por razões estéticas, sociais ou religiosas enveredaram pela decoração e manipulação corporais. Um dos destaques desta mostra são os corselets criados e exibidos pelo polêmico estilista sul-africano Mr. Pearl.

Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo, em 06/09/2001