6 de abr. de 2009

Morro do Castelo, Cristo Redentor e internet

Um aspecto sempre fascinante na Internet é a possibilidade de você encontrar o que precisa na hora apropriada. Quando se trata do resultado de uma partida de futebol, da nova taxa de juros fixada pelo Copom, dos desdobramentos do escândalo do dia ou mesmo do roteiro de um bom filme e da resenha do livro lançado na semana passada, não há segredos. A qualquer hora do dia ou da noite, basta acessar um portal confiável e a informação estará disponível.

Mas quando se trata de assuntos específicos a saída é recorrer a uma boa ferramenta de busca na esperança de que ela nos leve rapidamente ao objeto da procura. Nestes casos, quase sempre o resultado da consulta estará em endereços especializados ou em websites pessoais – uma categoria ainda pouco explorada na Internet, a não ser pelos serviços de hospedagem de sites.

É verdade que boa parte das páginas pessoais continua sob efeito da febre inicial que marcou a chegada da Internet comercial e não passa de ingênuos (no bom e no mau sentido) exercícios explícitos de vaidades incontroláveis. Mas como tudo na “mãe de todas as redes”, vale o bom senso e a nossa capacidade de separar o que é útil daquilo que não passa de mera exibição.

Fazendo esta distinção, invariavelmente você encontrará ditas páginas pessoais que primam pela utilidade e bom gosto. Oferecem, gratuitamente, conteúdos valiosos a despeito da pouca visibilidade que as fazem conhecidas apenas por alguns poucos curiosos ou por ocasião de concursos periódicos sobre “o melhor da Internet”.

Recentemente, durante uma exposição sobre imagens do Rio de Janeiro no início do século senti necessidade de informações que me levassem a entender como a cidade se modificou tanto em tão curto espaço de tempo. A questão não era simplesmente relacionar imensas planícies com arranha-céus e avenidas congestionadas, mas descobrir onde foram parar o Colégio dos Jesuítas, fundado pelos padres José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, ou o Castelo de São Sebastião, que se destacavam no cenário colonial.

Após uma série de buscas diretas na Internet, o resultado ainda deixava a desejar. Dias depois, uma reportagem na tevê tocou no assunto e forneceu a dica que faltava. No meu caso, a palavra-chave que eu precisava: Morro do Castelo. Um dos primeiros endereços a surgir na tela (www.geocities.com/RainForest/1661/), uma página pessoal produzida pelo historiador Carlos Kessel, era, de fato, o que eu procurava.

Não foram apenas o castelo-fortaleza e o colégio construídos pelos colonizadores portugueses que desapareceram do cenário carioca. O morro inteiro foi demolido em prazo recorde - por obra e graça de um prefeito nomeado em 1920 pelo então presidente Epitácio Pessoa. Junto com o cargo, Carlos Sampaio, o prefeito, recebeu a missão de preparar” o Rio de Janeiro para uma grande exposição internacional, dois anos depois, por ocasião do centenário da Independência do Brasil.

A cidade perdeu o morro (www.carioca.webbr.net/image/ant0001.jpg) e as construções históricas, mas ganhou a Avenida Rio Branco, a Biblioteca Nacional, o Museu de Belas Artes, e até o Aeroporto Santos Dumont. Do Morro do Castelo, um capítulo da geografia do Rio que não aparece nos postais e que raramente é contado em salas de aulas, sobraram apenas alguns poucos metros, hoje conhecidos como Ladeira da Misericórdia. E um bom site pessoal para recontar esta história.

Sete novas maravilhas

A Prefeitura do Rio anunciou no início da semana a formação de uma comissão para organizar as comemorações pelo 70o aniversário da construção do Cristo Redentor, no dia 12 de outubro. Muita coisa está sendo planejada, mas pelo menos uma providência simples deixou de ser tomada e com ela uma oportunidade prática e econômica de divulgar ainda mais o principal cartão postal da cidade.

A vitrine seria o endereço http://www.new7wonders.org/ onde está sendo realizada uma votação para a escolha das Sete Novas Maravilhas do Mundo. Faltando pouco mais de quatro meses para o fim da votação, mais de 5,5 milhões de pessoas de 237 países já participaram desta que está sendo considerada a primeira eleição realmente mundial já realizada na Internet. O site computou até agora 31.250 votos de brasileiros. A estátua do Cristo Redentor não aparece na relação de candidatas.

Entre os mais votados, aparecem o palácio-mausoléu Taj Mahal, na Índia, (411 mil votos), Chichén Itzá, uma cidade maia no México (405 mil votos) e as Muralhas da China (308 mil votos). Os resultados devem ser anunciados em 2003, na Grécia, no mesmo local onde há mais de dois mil anos teria surgido a primeira lista com as Sete Maravilhas do Mundo Antigo - Os Jardins Suspensos da Babilônia, A Estátua de Zeus, O Mausoléu de Halicarnassus, O Templo de Artemis, O Colosso de Rhodes, O Farol de Alexandria e As Pirâmides do Egito.


Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo em 23/08/2001

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