4 de abr. de 2007

A unanimidade sobre os bombeiros

Dias atrás, mas precisamente em 29/03/2007, escrevi neste espaço sobre algumas constatações apuradas pelo Latinobarómetro (http://www.latinobarometro.org/), um imenso relatório feito a partir de pesquisa de opinião pública realizada em 18 países da América Latina. O relatório pode ser encarado como uma síntese do pensamento de 400 milhões de pessoas que vivem na região e um dos vários temas abordados foi o grau de credibilidade de instituições, como Congresso, Justiça e Partidos Políticos, entre outras. Apesar de não se enquadrar na categoria “institituições”, propriamente ditas, o elenco de opções incluía bombeiros e vizinhos, além do rádio, TV, jornais e revistas.

O texto completo por ser lido aqui (http://robson-pereira.blogspot.com/2007/03/vizinhos-mais-confiveis-do-que.html)

No texto abaixo, pretendo abordar apenas uma pequeníssima parte do relatório, mais especificamente a liderança absoluta dos bombeiros (82%) no ranking de credibilidade nos 18 países onde a pesquisa foi realizada.

Tamanha credibilidade nos bombeiros, apesar de não ser nova, continua um mistério para mim. Não que discorde dos resultados da pesquisa ou mesmo que eles não mereçam. Só não entendo. Talvez isso ocorra pela imagem de heróis que ontestam ou pelos perigos que enfrentam salvando vidas alheias enquanto colocam as suas próprias em risco.

Procurando pistas para eliminar ao menos parte destas dúvidas, localizei dados importantes no relatório Perfil das Organizações de Segurança Pública, divulgado recentemente pela Secretaria Nacional de Segurança Pública. É um calhamaço, com quase 150 páginas, analisando descrevendo o chamado Perfil das Organizações de Segurança Pública, englobando atividades do Corpo de Bombeiros, Policia Militar, Polícia Civil e da Guarda Municial em todo o País.

Merece uma leitura mais apurada e quem estiver disposto pode encontrar a íntegra do documento no endereço www.infoseg.gov.br/quest_pm_vers_2005.pdf. Separei alguns dados globais na expectativa de chegar a alguma conclusão. Servem, no mínimo, para conhecermos um pouco mais da rotina dos nossos “super-heróis”.

Na média nacional, 62,4% do efetivo do Corpo de Bombeiros têm mais de 10 anos de serviço. Os equipamentos utilizados por eles são modernos e constamente renovados. A maior parte participa ou já participou de programas de reciclagem profissional.

Mas ao contrário do que supõe a nossa vã filosofia, as atividades mais executadas pelos bombeiros não é o combate ao fogo ou operações que representem um alto risco de vidas. A estatísticas da Secretaria Nacional de Segurança Pública revelam que atendimentos pré-hospitalares, registro de ocorrências de acidentes e avaliações de projetos e realização de vistorias são as atividades mais realizadas por bombeiros em todo o País.

Vejamos:

O “perfil” dos bombeiros traçado pela Senaseg, a partir de dados repassados pelos próprios bombeiros, reserva um capítulo para a análise do cotidiano profissional da categoria, distribuido em cinco tipos de ocorrências: Incêndios, Explosões, Acidentes, Salvamentos, Buscas e Resgates, e Falsos Avisos e Ocorrências Não Atendidas.

Em 2005, o relatório nacional de atividades dos bombeiros registram 137.779 ocorrências de incêndios, 149 de explosões, 484.024 ocorrências de acidentes, 308.162 de salvamento, busca e resgates e 131.292 falsos avisos e não atendidimento.

Fazendo as contas, dá um total de 1.061.406 ocorrências.

Reparem que a soma de acidentes e falsos avisos e ocorrências não atendidas representam cerca de 60% do total.

Ao detalhar o item “Salvamento, Buscas e Resgates”, como 308.162 registros de ocorrências, algumas surpresas:

- em 38.162 vezes os bombeiros foram chamados para atividades de captura ou salvamentos de animais.

- existem na relação 40.134 registros para extermínio de insetos, número que equivale a duas vezes e meia o total de ocorrências de afogamento;

- 37.647 registros para corte de árvores, o que representam quase 10 vezes mais do chamados para tentativas de suicídios;

- 2.809 desobstruções de vias públicas;

- 143.994 ocorrências registradas como “outras”;

- 90% dos chamados descritos no item “explosões” não incluiam artefatos explosivos.

No grupo dos incêndios, as ocorrências mais freqüentes incluem residências e incêndios florestais. As menos freqüentes, aeronaves, cinemas ou teatros.

No item acidentes, as ocorrências mais comuns foram as de acidentes com vítima não fatal. Raros foram os casos envolvendo acidentes ferroviários e com aeronaves.

Não sei se o festival de estatíticas acima ajuda a entender o por quê de tamanha – e certamente merecida – credibilidade dos nossos bravos bombeiros. Mas uma conclusão é inevitável: a profissão (o meu sonho decriança) é típica daqueles de carne e ossos, como qualquer ser comum, com muito pouco espaço reservado a super-heróis.

Um último comentário a respeito: o leque de opções nessas pesquisas de opinião publica sobre credibilidade deveria ser ampliado. Gostaria de ver o resultado de uma amostra envolvendo outros personagens do dia a dia das pessoas. Quem ganharia o duelo bombeiros x carteiros ou até mesmo bombeiros x garis. Até por que ganhar de políticos e partidos políticos é bater em “cachorro morto”, como dizem por aí.

PM custa 6,5 vezes mais do que bombeiros

De acordo com dados recolhidos no Perfil das Organizações de Segurança Pública, realizado e divulgado pela Secretaria Nacional de Segurança Pública, o orçamento do Corpo de Bombeiros nas 27 unidades da Federação é da ordem de R$ 1,7 bilhão, o que dá uma média de R$ 10,74 por habitante. A mesma conta feita para a Polícia Militar chega ao valor de R$ 68,19, para cada brasileiro, quase sete vezes mais.

Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo, nesta ordem, respondem por metade do orçamento do Corpo de Bombeiros, embora exista uma diferença significativa no efetivo nesses estados.

O Rio de Janeiro, com o segundo maior orçamento, tem o maior efetivo, com 14.125 bombeiros, seguido por São Paulo, com 9.730. Já o Paraná, com orçamento anual de quase meio bilhão de reais, o maior orçamento entre as 27 unidades da federação, tem em seus quadros 2.899 profissionais.

Depois do item Folha de Pagamento (65,2%), os maiores gastos no orçamento vão para equipamentos de informática (13,6%) e equipamentos para capacitação (10,5%). Para armamentos letais, não letais e munições, o gasto anual é ZERO, pois como sabemos, bombeiro que é bombeiro não anda armado.

A maior parte do Corpo de Bombeiros tem orçamento próprio (19 entre as 27 unidades) e 18 contam com planos de ações anuais. Ações de prevenção, ampliação e modernização estão incluidas no planejamento anual de toda a corporação.

No total, em todo o País, são 1.061 unidades operacionais, divididas entre batalhões, grupamentos, destacamentos e pelotões, entre outras. Três em cada 4 dessas unidades funcionam 24 horas por dia, sete dias por semana.

Em 2005, o efetivo total em todo o País era de 60.652 profissionais, divididos em 12 categorias. Entre essas, soldados (41%) subtenentes e sargentos (25%) e cabos (20%), reúnem 86% do contingente profissional. Um em cada quatro bombeiros concluiu uma faculdade, 64% têm entre 30 e 45 anos de idade; e apenas 7,5% tem mais de 45 anos.

Bombeiros: homens, dentro; mulheres, fora

Pense rápido e responda: você já viu uma salva-vidas ou uma combatente de incêndios? Não?

Pois saiba que no relatório divulgado pela Secretaria Nacional de Segurança existem informações suficientes para compreender os motivos pelos quais isso ocorre: na média nacional existem 11,7 bombeiros do sexo masculino para cada mulher na corporação – a maior relação em todo o segmento de segurança pública, incluindo a Polícia Militar, Polícia Civil e Guarda Municipal.

Em números gerais, o sexo feminino constitui não mais do que 7% do efetivo existente nos Corpos de Bombeiros no Brasil.

Vale lembrar que concursos para ingresso de homens e mulheres são realizados conjuntamente, mas existe um limite máximo de 10% para o ingresso de mulheres bombeiras.

Cerca de 30% do efetivo dos Corpos de Bombeiros, independente do sexo, dedicam-se a funções não operacionais. Merece destaque a constação de que a relação homens e mulheres em funções operacionais – no “front” - é bem mais alta do aquela observada em tarefas administrativas. Enquanto nestas prevalece uma relação de 10 homens para cada mulher, nas tarefas operacionais, onde supostamente reside o “perigo” e certamente se encontra a origem de grande parte da excelente imagem pública detectada nas pesquisas, esta relação sobe para 26 homens para cada mulher.

A presença do público feminino entre os bombeiros varia bastante de Estado para Estado. O Espírito Santo, por exemplo, apresenta uma relação bem equilibrada, com um efetivo composto por 1,5 homem para cada mulher, amenor relação em todo o País, seguido de perto pelo Mato Grosso, com 2,1.

Rio de Janeiro (4,7), Bahia (5,1) e Amapá (5,8) são estados onde a quantidade homens comparada à de mulheres também fica abaixo da média nacional.

A partir daí, a relação fica cada vez mais desfavorável para o sexo feminino, a começar por São Paulo, a maior e economicamente a mais desenvolvida Unidade da Federação, que apresenta em quadros apenas 264 mulheres bombeiros, número 36 vezes menor do que o efetivo de homens.

Em Pernambuco, Maranhão e Mato Grosso do Sul a relaçao ainda fica abaixo de 50 por 1. No Pará, sobre 54,6. Paraíba e no Rio Grande do Sul, com média de 70,3 homens para cada mulher atuando como bombeiro, “empatados”, colocando por terra qualquer tentativa de explicar a baixa presença feminina pelo aspecto regional.

Nas quatro primeiras posições na liderança negativa no quesito gêneros aparecem dois estados da Região Sul e dois da Região Nordeste. No primeiro caso, o Paraná possui entre os seus bombeiros 144 vezes mais homens do que mulheres, enquanto em Santa Catarina tal relação sobe para 187 por um (ou por uma, melhor dizendo).

Já o Ceará e o Rio Grande do Norte somam apenas 8 mulheres em seus quadros efetivos de bombeiros. No primeiro, a relação homens e mulheres é de 235, índice que chega a 270,5 homens para cada mulher na terra onde nasceu Luís da Câmara Cascudo, historiador e o maior estudioso do folclore brasileiro de todos os tempos.

Uma última observação: negros também são minoria entre os bombeiros, respondendo por apenas 13,7% do efetivo em todo o País. Mas sobre isso não tenho maiores informações. Quem sabe as tenha, num futuro texto postado aqui.

3 de abr. de 2007

Segredos de chumbo no fundo de um poço

Todas as quintas-feiras, de tardinha, um grupo de de septagenários ocupa uma das mesas de um tradicional clube às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, na Zona Sul do Rio, para jogar cartas e “conversa fora”, como faz questão de ressaltar um deles. Quem passa e ver aqueles senhores grisalhos, em bermudas e chinelos, jamais poderia imaginar que são personagens que fizeram e até mudaram a história do País. No meio deles, Ivan Mendes de Souza, general da reserva, último ministro-chefe do temível Serviço Nacional de Informação, o SNI, criado e comandado pelo “bruxo” Golbery do Couto e Silva.


Para quem não se lembra, o general Ivan Mendes de Souza serviu ao longo de todo o governo do então presidente José Sarney, embora escolhido por Tancredo Neves, que morreu antes de assumir.


O general tem certamente muitas histórias para contar, mas freqüentemente recorre a um “ah, eu não me lembro” para evitar questões mais delicadas. Quase sempre consegue. Na última ocasião em que estive com ele, porém, cometeu um "pequeno" deslize, embora com todaa certeza nãotenha percebido.


Contava-me o general, numa entrevista para o Estadão, que nunca foi publicada, que logo que assumiu o Comando do Quartel Militar na Região do Araguaia, berço de muito sangue e romantismo, se deparou com um buraco largo e fundo dentro das dependências do quartel.


Chamou um subalterno e perguntou, curioso:


- O que é isso aqui?.


- Meu general, é aí que jogamos aquele pessoal que conseguimos pegar, ouviu como resposta. Ivan Mendes garante que mandou tampar no mesmo dia o poço.


Uma boa escavação na área pode revelar surpresas nada românticas.

2 de abr. de 2007

Impacto profundo, mas improvável

Pegue sua agenda e anote. No dia 7 de agosto de 2027, pela manhã, um asteróide estará passando a 387 mil quilômetros de nossas cabeças. A distância é mais ou menos a mesma que separa a Terra da Lua. Parece muito, mas em termos astronômicos é como olhar para a casa do vizinho – de um vizinho incômodo, vale dizer.

A data não tem nada de apocalíptica. Ela apenas resume alguns estudos da Nasa em seu programa Cercando a Terra (http://neo.jpl.nasa.gov/), cujo objetivo é vasculhar o espaço à procura de objetos que possam representar algum tipo de perigo e analisar formas – ou tentativas - de impedir que tais corpos caiam no nosso planeta. Pelo menos em tese, a Nasa considera possível interferir na trajetória de tais corpos, façanha que Hollywood já conseguiu em algumas ocasiões.

Como fazer isso não é o caso para discutirmos aqui, até porque nem sempre as coisas saem como planejadas. Quer um exemplo? Pegue a agenda de volta e tente descobrir onde você estava na noite de 7 de janeiro de 2002, quando um outro asteróide, batizado como YB5, passou “pertinho” daqui.

Abro aspas para reproduzir um trecho de um email que recebi da astrônoma Daniela Lazzaro, coordenadora da Área de Astronomia do Observatório Nacional, em resposta a uma consulta que fiz sobre o tal asteróide:

O mais preocupante em relação a este objeto foi o fato de ter sido descoberto apenas cerca de duas semanas antes de sua aproximação máxima com a Terra. Ou seja, pela primeira vez se descobriu um objeto em possível rota de colisão com a Terra muito “em cima da hora”. Se, de fato o objeto estivesse em rota de colisão, não teríamos tido tempo de fazer absolutamente nada! Era sentar e esperar o impacto.

Aspas fechadas, concluo:

O YB5 tinha 300 metros de diâmetro e a sua aproximação máxima foi equivalente a duas vezes a distância que nos separa da Lua. Quem estiver interessado no assunto, a página pessoal de Daniella Lazzaro (www.daf.on.br/~lazzaro/dani.htm) é um bom ponto de partida. Aproveite para visitar o site do Observatório Nacional (http://www.on.br/) e dê uma olhada na sessão a sessão “O Astrônomo Assistiu”, com críticas de filmes como Impacto Profundo, Missão a Marte ou Marte Ataca, feitas por quem entende do assunto.

Para aqueles que ficaram impressionados com a data lá em cima, uma informação que serve como alívio. Existem centenas de registros de “riscos de impacto” listados no programa Cercando a Terra, administrado pela Nasa. Para cada registro, uma fartura de detalhes, como diâmetro do objeto, data em que estará mais perto de nossas cabeças e velocidade de aproximação, entre outras.

O importante mesmo é observar a última coluna da tabela, conhecida como Escala de Torino, referência à cidade italiana onde em 1999 foi realizado um grande encontro de especialistas especificamente para discutir o grau de periculosidade para a humanidade de asteróides, cometas ou qualquer outro objeto especial. A escala vai de 0 a 10, mas, até agora pelo menos, todos os registros da Nasa trazem o número 0, o que em português claro indica uma probabilidade zero de choque com a Terra nos próximos 100 anos.

1 de abr. de 2007

O mercado pós-vida explode na internet

Morte sempre foi uma tema tabu em várias sociedades, mas recentemente ganhou um aliado importante e um campo fértil a ser explorado. Mais de 5 milhões de endereços na Internet abordam e discutem livremente o assunto, ao mesmo tempo em que consolidam um mercado que se tem revelado extremamente lucrativo.

Destaco quatro ou cinco histórias recolhidas na Web e que ilustram bem o tamanho desse mercado. Algumas podem parecer mórbidas – certamente, muitos entederão assim -, mas vamos tentar deixar de lado, temporariamente, ao menos, preconceitos ou juízos de valor.

A primeira dessas histórias diz respeito a uma celebração que se repete há 40 anos, quando familiares e amigos de James Bedford se reúnem para um aniversário diferente. Não há o tradicional “parabéns prá você”, tampouco os votos de “muito anos de vida”, mesmo porquê James Bedford, o homenageado, morreu em 1967, logo após completar 74 anos.

No mesmo dia em que morreu, a família mandou congelar o corpo, um desejo várias vezes reiterado pelo próprio Bedford. Jamais passaria pela sua cabeça episódios como a Guerra do Golfo, a derrocada do Império Soviético, o ataque às torres gêmeas do WTC, o enforcamento de Sadam Hussein e muito menos a eleição de Luiz Inácio da Silva para a presidente. Mas James acreditava na possibilidade de, “um dia, no futuro”, ter a sua vida restaurada e descobrir que o câncer que o matou deixara de ser um desafio para a medicina.

Foi o primeiro homem a ser congelado com base em métodos científicos. Depois dele, milhares de pessoas foram submetidas à mesma técnica, a criogenia. De maneira simplificada, funciona assim: retirar-se todo o sangue do cadáver e o substitui por uma substância anticongelante, seguida pela imersão de todo o corpo em um tubo repleto de nitrogênio líquido.

O processo completo já foi testado com êxito relativo em pequenos animais, mas não há garantias de que possa dar certo com um ser humano. Pelo contrário, cientistas de renome garantem que o sonho de Bedford continuará a ser sempre um sonho, (ele “pensa” que está dormindo), exceto no que diz respeito à cura para o câncer.

Tal certeza não é compartilhada pelos pesquisadores da Alcor Life Extension Foundation (www.alcor.org) e do Cryonics Institute (www.cryonics.org), apenas duas entre um vasto leque de empresas que atuam nesse segmento – o congelamento de seres humanos com vistas a uma hipotética ressurreição.

A primeira procura se defender contra as críticas que recebe de todosos lados, dizendo que “apenas preserva o corpo hgumano em estado viável para possa ser tratado no futuro”, apostando, como muitos outros no avanço espetacular da medicina.

Já o Instituto Crionics vai direto ao ponto, a julgar pelasua página na internet, com o sugestivo apelo “sua última chance de viver”, em lugar de destaque.

A taxa de inscrição para programas como esses não é alta, mas o custo total, com direito a assistência permanente por um período de até dois séculos, pode chegar a US$ 120 mil, sob a forma de um seguro de vida contratado pelo interessado e que tem nas empresas os principais beneficiários.

Em pelo menos um caso, a questão foi parar nos tribunais.

Uma das filhas do lendário Ted Willians, um dos maiores nomes do beisebol americano, morto em julho de 2001, aos 83 anos, tenta reaver o corpo do pai, que repousa em uma das urnas da Alcor. Willians foi congelado com autorização do filho mais velho, supostamente para atender um pedido feito anos atrás pelo astro.

A filha argumenta que o pai jamais manifestou tal intenção e desconfia que o irmão pretenda vender – bem caro – “porções” de DNA do maior nome do beisebol em todos os tempos.

Além das centenas de corpos congelados (a uma temperatura que pode chegar a 300 graus negativos), pelo menos outras mil pessoas de várias partes do mundo (o Brasil, inclusive) encontram-se na lista de espera da Alef e do Cryonics.

Crematórios viram fabricantes de diamantes

De olho nas estatísticas de órgãos oficiais que apontam um índice de 25% de cremações nos Estados Unidos, várias empresas tentam inovar com um leque bem variado de opções para as cinzas de entes queridos. A criatividade neste mercado passa a ser o limite, como demonstra o pessoal da LifeGem Memorials (http://www.lifegems.com/). A empresa, com sede em Chicago, promete produzir diamantes inteiramente produzidos com cinzas de seres humanos, como forma de, literalmente, eternizar parentes e amigos.

A técnica utilizada é relativamente simples: as cinzas decorrentes de uma cremação tradicional são purificadas em forno especial capaz de atingir uma temperatura próxima dos 1.700 graus centígrados. O resultado é uma quantidade de carbono – o mesmo material dos diamantes – que é submetida a um processo de compressão por um período mínimo de um mês.

Dependendo da quantidade de cinzas de cada “cliente” é possível conseguir-se até 50 diamantes. Os preços variam entre US$ 4 mil e US$ 22 mil, dependendo do grau de pureza do diamante. As cinzas não utilizadas são devolvidas à família e poderão ser utilizadas para a reposição das peças em caso de roubo ou perda.

Diamantes sintéticos, é bom que se diga, são fabricados há mais de meio século, mas esta é a primeira vez que cinzas humanas estão sendo utilizadas na fabricação desses pequenos objetos de desejo. No Japão, mais de 90% dos mortos são cremados, o que me leva a prever um futuro promissor para a atividade.

Uma obra de arte macabra

A Memorial Art (http://www.memorialart.com/), uma empresa localizada no Mississipi, aposta num segmento do mercado pós-vida no mínimo curioso: obras de artes como uma forma “elegante de demonstrar amor e perpetuar um sentimento”. Cinzas humanas e de animais de estimação são usadas pela empresa em quadros ou esculturas, próprias ou de terceiros.

A técnica foi criada e aperfeiçoada quando uma das sócias da Memorial Art revolveu utilizar as cinzas da própria mãe em uma tela. O resultado agradou e as encomendas, segundo ela, nunca mais pararam. As cinzas são colocadas com bastante cuidado sobre telas, de modo a não interferir na pintura.

Quem também está de olho neste mercado, é a Eternal Reefs (http://www.eternalreefs.com/), uma empresa criada mais recentemente para atuar no gerenciamento de cemitérios submarinos. As cinzas são colocadas dentro de pequenas esferas de cimento, que juntas, formam uma espécie de coral artificial.

Um banco de coral, depositado no litoral da Flórida ou da Carolina do Norte, pode chegar a US$ 5 mil, mas a empresa oferece a opção de corais coletivos, formado a partir das cinzas de vários mortos, ao custo unitário de US$ 850. No site da empresa, além de vídeos e fotografias, é possível conferir o calendários dos próximos funerais submarinos.

Opções bem mais mais caras do que as citadas acima são oferecidas pela Houston's Celestis (http://www.memorialspaceflights.com/). Em vez do mar, a empresa optou pelo espaço como depositário dos restos mortais de seres humanos. As cinzas são acondicionadas em pequenos recepientes de alumínio e lançadas a partir de uma base aérea localizada na Califórnia.

O preço é salgado. A Celestis cobra cerca de US$ 1 mil por cada grama de cinza depositada na órbitra terrestre. Se o destino for a órbitra lunar, o preço sobre para US$ 12,5 mil, valor cobrado para o transporte de um frasco com sete com sete gramas de cinzas.

Quem não gostaria de olhar para o céu e sentir que um ente querido está neste momento em algum ponto do Universo?, provoca um porta-voz da Houston' Celesties. Os cilindros com as cinzas percorrem uma distância equivalente a 28 mil vezes a órbitra do planeta antes de retornar à atmosfera terrestre, quando se desintegram (tanto o cilindro quanto o seu conteudo, é bom que se diga).

Toda a trajetória das cinzas - até a evaporação - pode ser acompanhada no próprio site, por meio de mapas online. Uma “cerimônia” que asssiti indicava que o reingresso na atmosfera terrestre ocorreu em uma região da Austrália.

Cinzas famosas e anônimas

Antes de morrer, em agosto de 2002, Edward Headrick, inventor do frisbee, aquele disco de plástico que os americanos adoram lançar uns para os outros, pediu aos seus familiares que suas cinzas fossem colocadas no interior de um desses brinquedos voadores especialmente modelados para a ocasião. O disco, segundo Headrick, não deveria ser guardado, mas “jogado por aí” para que alguém, sem saber da história, ficasse com ele. Ninguém sabe ao certo se o pedido foi ou não atendido, no todo ou em parte. Há quem jure que sim.

Já a Forever Entrepises, responsável pela administração de vários cemitérios na Califórnia, Kansas e Missouri, acha injusto que recordarmos nossos antepassados apenas por um nome, um par de datas ou mesmo um determinado fato talhados na pedra sepulcral. Por isso resolveu colocar no mercado o primeiro memorial multimídia. Trata-se do ForeverNetwwork (www.forevernetwork.com), uma superprodução digital capaz de fazer inveja a algumas produções de Hollywood.

O pacote completo, oferecido no site da empresa a US$ 4 mil, inclui um documentário com os principais fatos ocorridos desde o nascimento até a morte do ente querido. O material é exibido em telas de plasma líquido durante o funeral e permanece disponível para a posteridade, podendo ser reeditado, por exemplo, para receber novos conteúdos.
Talvez não seja por acaso que um dos maiores cemitérios da Forever Entrepises, o Hollywood Memorial Park, encontre-se localizado próximo aos estúdios da Paramount. Ali, estão sepultados, entre outros, o ator Rudolph Valentino (1875-1926) um dos maiores nomes da história do cinema.

A expansão dos velórios virtuais

Administração moderna de cemitérios, com o uso das mais modernas tecnologias, não é privilégio de americanos, como demonstra o Grupo Vila (www.grupovila.com.br), que há mais de meio século administra alguns dos maiores cemitérios instalados no nordeste brasileiro. Um dos destaques do grupo empresarial é o Cemitério Morada da Paz, considerado um dos mais avançados do País, dotado, inclusive, de um ateliê próprio, de onde saem as obras de artes que decoram o cemitério.

Mas a grande novidade não está no luxo e conforto oferecidos pela Morada da Paz, mas no velório virtual. Web câmeras estrategicamente instaladas permitem acompanhar ao vivo, pela Internet, as últimas homenagens aos mortos. A intenção, de acordo com os administradores do cemitério, é permitir que parentes e amigos que moram em outras cidades ou mesmo fora do País possam acompanhar o velório e prestar solidariedade à família. Faz sentido, não faz?