29 de mar. de 2007

Desemprego, violência e inflação

Outros dados que considerei importante destacar na última edição do Latinobarómetro:

1. Desemprego e violência são os problemas que os cidadãos latinos consideram mais importantes, com 24% e 16%, respectivamente, embora com variações importantes de país para país.

2. Em 8 das 18 nações onde a pesquisa foi realizada, o desemprego foi apontado como o inimigo a ser vencido. O Brasil faz parte deste grupo.

3. Já violência, foi apontada como o maior problema em cinco países. A Argentina caiu neste grupo.

4. Para os habitantes da República Dominicana, o problema mais afligente na atualidade é a inflação.

5. Na Colômbia, um em cada três entrevistados apontou o terrorismo como o maior problema enfrentado pelo país.

Mas como média é média, o fantasma do desemprego e o crescimento da violência podem ser considerados os principais problemas na América Latina de hoje, rezevando-se, na maioria dos 18 países, nas duas primeiras posições do ranking.

Vale registrar que em apenas 3 anos dobrou o número de pessoas que passaram a considerar a violência como o problema mais grave na região (de 8%, em 2003, para 16%, em 2006). Enquanto o desemprego, no mesmo período, caiu de 30% para 24% na prioridade identificada pelos latinos.

Uma onda? Não. No máximo, uma marola

No dia 30 de janeiro deste ano, Marta Lagos, diretora do Latinobarómetro, uma Organização Não-Governamental, com sede no Chile, esteve na sede da Organização dos Estados Americanos, a OEA, para apresentar uma síntese do pensamento de 400 milhões de pessoas residentes nos 18 países que formam a chamada América Latina. A pesquisa coordenada por ela é realizada anualmente desde 1995 e o trabalho é explicitamente inspirado em estudo semelhante realizado no âmbito da União Européia.

A maioria dos temas abordados no Latinobarómetro é recorrente. Repete-se ano após ano, como forma de acompanhamento permanente do pensamento médio de cada cidadão sobre temas de interesse comum da região onde vivem. Mas a cada pesquisa um ingrediente novo é incluído nas pesquisas e é exatamente este tema novo que acaba chamando a atenção da mídia como um todo.

Nos dados apresentados por Marta Lagos, o tema predominante este ano foi uma espécie de radiografia da democracia na América Latina, talvez, influenciado pela polêmica visão do presidente da Venezuela, Hugo Chavez, sobre a tal “onda esquerdista” que estaria varrendo a região.

Pelos dados coletados pelo Latinobarómetro, Chavez equivocou-se, a começar pelo seu próprio país. Numa escala de 0 a 10, onde 0 representa a extrema esquerda e 10, a extrema direita, a América Latina registrou média de 5,4. ou seja, ligeiramente mais para a direita do que para a esquerda. Cerca de 40% dos venezuelanos se declararam como “de centro”, enquanto 33% auto definiram-se como “de direita”. Só 27%, portanto, estariam, na Venezuela, absorvidos pela tal “onda esquerdista”.

Vários outros índices aferidos pelo Latinobarómetro derrubam a tese levantada pelo presidente venezuelano, mas isso já foi bastante explorado pela imprensa e não vale a pena repetí-los aqui. Quem tiver maiores interesses nessa e em outras questões relacionadas, pode acessaro documento em http://www.latinobarometro.org/. Tem dados interessantes, inclusive sobre o que os latinos americanos entendem por democracia.

Nos números oficiais, apenas oito mortos no Alemão


Rio em Foco, uma área do site oficial da Prefeitura do Rio de Janeiro (http://www.rio.rj.gov.br/), apresenta números interessantes sobre a cidade. Vale uma uma visita, mas não acredite - ou pelo menos desconfie de algumas informações contidas na página. Um exemplo: citando os dados mais recentes do IBGE relativos ao registro civil o site garante que em 2000 ocorreram apenas 8 óbitos no Complexo do Alemão, onde vivem cerca de 50 mil pessoas. Em um único final de semana de 2007 foram encontrados no local sete corpos, todos com idade entre 16 e 22 anos, praticamente o mesmo número de “óbitos” ocorrido ao longo dos 12 meses de 2000. Duvido de ó dó.

Mas o site revela outras estatísticas menos polêmicas e mais razoáveis. Pesquisando dezenas de tabelas relativas aos números que os cartórios de Registro Civil repassam ao IBGE fica mais fácil entender porque Copacabana tornou-se uma princesa envelhecida. É claro que a hipótese é pouco provável, mas o bairro caminha para ser transformar num recanto fantasma. Além de concentrar a maior população de pessoas acima de 65 anos, é o único em toda a cidade com crescimento populacional negativo (mais óbitos do que nascimentos), característica típica de bairros ou até mesmo cidades que simplesmente desapareceram do mapa....

Pegadinhas de 1º de abril

Existem várias versões sobre a origem do 1º de abril, uma data comemorada, vamos dizer assim, em muitos outros países. A mais provável tem a ver com a entrada em vigor do calendário gregoriano, que antecipou em três meses o início do ano. Os conservadores não gostaram e passaram a definir a data como o dia da mentira. Mas a resposta dos modernistas não tardou e no “novo” 1º de abril passaram a distribuir convites para festas inexistentes na casa dos conservadores.

Todo mundo conhece uma boa mentira ou um bom trote de 1º de abril e com a internet as histórias ficaram mais engraçadas, independentes se ocorridas ou não na data em questão. Afinal, um dia só por ano para pregar uma peça emalguém é muito pouco. A minha preferida, por sinal, acontreceu num mês de junho, numa aldeia ao sul de Portugal.

Alguns gaiatos fizeram circular panfletos anunciando uma “mamografia coletiva” que seria realizada por satélite. No dia marcado várias mulheres foram para o quintal com os seios de fora acreditando piamente no avanço da tecnologia. O “trote” só foi descoberto dois dias depois com a manchete de bem-humorado editor. “Satélite põe mamas ao léu”, assinalou no ato da página do Correio da Manhã, um dos mais importantes diários de Portugal.

A história completa pode ser lida nos arquivos do próprio jornal. Acesse www.correiomanha.pt e pesquise a expressão “mamografia por satélite”, assim mesmo, com aspas.

Uma das “pegadinhas” mais polêmicas no mundo virtual foi criada por dois adolescentes americanos que criaram o site Bonsai Kitten. O destaque do site era uma inverossímel “técnica milenar de miniaturalização de árvores e plantas, adaptada pelo doutor Michael Wong Chang parauso em seres vivos. As fotos no site mostravam inocentes gatinhos transformados em cinzeiros ou garrafas decorativas.

Até o FBI foi chamado a investigar tamanha crueldade contra os animais, mas logo se descobriu que tudo no site, inclusive o tal doutor Chang, não passava de uma brincadeira - de gosto duvidoso, é bem verdade. Os dois adolescentes foram processados judicialmente pela Associação Americana de Proteção aos Animais por não deixarem claro que as receitas para “engarrafar gatos” não tinham fundamento e poderia induzir pessoas a experimentar as tais fórmulas.

Outra piada muito bem montada pode ser vista no endereço www.malepregnancy.com. Já na página de abertura, o site destaca uma capa da revista Time com a foto de um homem oriental no oitavo mês de gravidez. O site está hospedado no Randolph Y. Teasley Hospital e a técnica para engravidar o tal homenzinho que aparece na foto foi desenvolvida pela GenoChoice, “o principal centro de pesquisas em reprodução humana em todo mundo”.

A Time, que fique bem claro, nunca publicou tal matéria e tanto o hospital quanto o centro de pesquisa citados existem apenas na mente de Lee Mingwei e de Virgil Wong, ambos artistas plásticos que decidiram usar a tecnologia para chocar a sociedade. Uma área do site mostra até os batimentos cardíacos do bebê em “tempo real”.
Com um novo 1º de abril chegando todo cuidado é pouco, principalmente para quem passa horas e horas na internet. E se o amigo leitor conhece um bom trote sobre o dia da mentira, use o link abaixo para contar.

Vó Lucíola, da Mangueira, carioca centenária

E por falar na turma da Terceira Idade, o IBGE garante que sete anos atrás existiam na Cidade Maravilhosa exatamente 952 pessoas com idade igual ou acima de 100 anos. Com um pouco de esforço, dá para fazer uma lista com todos eles. Como não fiz a tal lista, cito apenas uma que em setembro estará completando 107 anos de idade. Estamos falando de Vó Lucíola, figura querida na Mangueira, mas pouco conhecida fora dos domínios territoriais do morro que é sinômimo de samba.

Vó Lucíola, foi uma das primeiras moradoras da Mangueira. Quem deu o terreno onde o seu pai construiu a casa – no mesmo lugar onde hoje fica a quadra da Estação Primeira – foi mestre Candinho, que cuidava dos cavalos do imperador Pedro II e por isso mesmo era pessoa temida e respeitada por todos. Quando decidiram pelo local da quadra da Escola de Samba a família de Vó Lucíola mudou-se para uma casa de tijolos – a primeira no morro – no local onde hoje é conhecido como “Buraco Quente”.

Estive com Vó Lucíola não faz muito tempo. Detalhe curioso: Vó Lucíola tem 14 filhos, 69 netos, 119 e bisnetos e 40 tataranetos. Isto se não nasceu mais algum nos últimos nove meses, quando tive a honra de entrevistá-la. Na saída ganhei um beijo de presente e a certeza de que ainda resta um fio de esperança. Tomara que esteja tudo bem com ela e com o seu inseparável cachimbo.


As 10 principais lideranças na América Latina

O Top Ten dos líderes da América Latina, segundo o Latinobarómetro ficou assim, sempre lembrando que foi utilizada a tradicional escala de 0 a 10:

Luiz Inácio Lula da Silva - 5.8
Michelle Bachelet – 5.5
Álvaro Uribe – 5.4
Néstor Kirchner – 5.0
Tabaré Vázquez – 5.0
Evo Morales – 5.0
Hugo Chávez – 4.6
George W. Bush – 4.6
Alan García – 4.5
Fidel Castro – 4.4

Aproveite o rankng e teste o seu grau de conhecimento, colocando o nome do país ao lado de cada presidente.

A dificuldade de ser líder na América Latina

É difícil ser líder na América Latina, concluiu o Latinobarómetro. Isso porque, apesar de (obviamente) conhecer bem o seu próprio presidente, pequena é a parcela da população latina que admite conhecer o principal mandatário de um país não necessariamente vizinho ao seu.

Cerca de 40% da população da Argentina, Brasil, Bolívia, Peru e Chile reconhecem os nomes dos seus respectivos presidentes. Mas ser presidente de um país não-vizinho é amargar um anonimato na região.

Mesmo Fidel Castro, há várias décadas no poder, e George Bush, o mais poderoso em todo o mundo, tem um índice de conhecimento considerado baixo pela população da América Latina. Segundo o Latinobarómetro, 21% da população da região não conseguiu dizer quem é um ou quem é o outro.

Hugo Chavez também é um completo desconhecido fora de seus domínios. Cerca de 30% dos latino americanos não o conhecem.

Para tentar encontrar um possível candidato a líder na região, o Latinobarómetro usou duas escalas. A primeira, mostra o quanto cada presidente é conhecido nos demais países. A outra, é a avaliação que a população local faz sobre ele.

Os que se saíram melhor no quesito reconhecimento foram, pela ordem, o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, a chilena Michelle Bachelet e o uruguaio Álvaro Uribe.

No quesito aprovação, as três primeiras posições foram mantidas. Na escala de 0 a 10, deu Lula, com 5.8, Michelle Bachelet, com 5.5 e Álvaro Uribe, 5.4.

Nos 18 países onde foi realizada a pesquisa, o brasileiro Lula ficou reprovado apenas no Chile, El Salvador e Honduras, com índice de aprovação de 4.9 nos três países. Já o maior índice de aprovação do presidente brasileira foi registrado na Venezuela, com 7.0.

Curiosamente, George Bush e o venezuelano Hugo Chavez possui o mesmo índice de desaprovação (39%) na América Latina. Ambos estão pouco acima do cubano Fidel Castro, que embora conhecido por 79% da população latino americana (ou desconhecido por 21%, conforme o ponto de vista), recebeu a pior avaliação, com 41% de desaprovação.

Sobre Bush, o Latinobarómetro concluiu sua imagem é melhor nos países da América Central e na Colômbia e pior na Argentina, no Uruguai e no Chile. Enquanto no Panamá Bush tem uma imagem positiva de 61% da população, na Argentina para míseros 6%.

Vizinhos mais confiáveis do que presidentes

Ao voltar sua atenção praticamente para as questões de natureza estritamente ideológica, faltou espaço na mídia para abordar temas bem mais próximos do dia-a-dia do cidadão latino.

Vejamos alguns desses resultados, todos extraídos do relatório original produzido pelo Latinobarómetro:

1. O cidadão comum na América Latina confia mais no seu vizinho do que no presidente do seu país. Vizinhos, 58%, presidentes, 47% na média da região.

2. Jornais e revistas (44%) têm menos credibilidade do que Rádio (69%) e TV (64%). E também são menos confiáveis dos que os vizinhos (58%).

3. A confiança no Congresso (27%) é maior apenas do que nos partidos políticos (22%), a instrituição com menor índice de credibilidade em toda a América Latina, situação que se manteve inalterada desde que a pesquisa de opinião pública foi realizada pela primeira vez em 1995.

4. No topo da tabela de confiabilidade também não houve alteração. Bombeiros (com índice de credibilidade de 82%) e Igreja (71%) ocupam as duas primeiras posições no ranking da América Latina. Aceito, mas sinceramente não consigo entender.

Enfim, para que você mesmo faça outras comparações possíveis, eis o ranking completo:

Bombeiros – 82%
Igreja - 71%
Rádio – 69%
TV – 64%
Vizinhos – 58%
Presidente – 47%
Tribunal Eleitoral – 47%
Jornais e Revistas- 44%
Forças Armadas – 44%
Estatais – 43%
Empresas Privadas – 42%
Polícia – 37%
Judiciário – 36%
Congresso – 27%
Partidos políticos – 22%