12 de abr. de 2009

Internet conquista audiência e respeito

Aqueles que duvidavam do poder da Internet terão de rever boa parte dos seus argumentos. Dois acontecimentos recentes – o sequestro da filha do apresentador Sílvio Santos e os ataques terroristas em Nova York e em Washington – colocaram a Internet ao lado da TV como fonte básica de informação em tempo real. As emissoras que transmitiram ao vivo os dois episódios e os seus desdobramentos bateram recordes de audiência, o mesmo ocorrendo com os principais sites de notícias do País.

E isso não ocorre apenas quando se tratam de catástrofes. Pouco a pouco, a Internet também consolida uma audiência cativa e específica no dia a dia – esta sim, sem concorrência com nenhum outro meio de comunicação, pelo menos enquanto não chegar por aqui a terceira geração de celulares ou a chamada banda larga. Exemplo desse predomínio ocorre na oferta de serviços bancários.

Todos os meses, cerca de 4,7 milhões de pessoas maiores de 18 anos, a grande maioria situada nas escalas A e B da pirâmide social, acessam, a partir de suas casas, algo em torno de 2 bilhões de páginas diferentes na Internet. Talvez cause surpresa, mas uma em cada seis destas páginas está localizada em um site de banco.

É isso mesmo: Itaú, CEF, Banco do Brasil, Bradesco, Real e Unibanco, em uma relação liderada pela Receita Federal, tiveram em conjunto 293 milhões de páginas diferentes acessadas em julho. Se tivessem em um mesmo endereço, a audiência destes sites seria a segunda maior da Internet brasileira, o que demonstra bem o poderio do setor financeiro também no mundo www.

Sob os mais variados pontos de vista, o setor bancário brasileiro ostenta números expressivos na Internet, não apenas por aqui, mas também se comparados com os EUA, o berço do capitalismo e da própria Web. Um levantamento divulgado recentemente pelo The New York Times concluiu que entre 22% e 25% dos clientes dos dois maiores bancos privados brasileiros - Bradesco e Itaú – realizam regularmente operações financeiras on-line - uma participação relativa bem maior do que os 15% do Wells Fargo, líder no mercado americano de transações bancárias pela rede.

O curioso nesta história é que a desconfiança do usuário brasileiro, que o impede de digitar o número do seu cartão de crédito na Internet e que tem sido apontada como o grande entrave para a expansão do comércio eletrônico no País, parece não prosperar no site do seu banco - assim como já não funcionava em postos de gasolina, restaurantes ou parques de diversão.

Mensagens do tipo "fique tranquilo, pois você está em ambiente seguro" é aceita como garantia e logo você estará digitando não apenas os números de sua conta bancária, mas também - pasme! - a sua senha "pessoal e intransferível". A partir daí, é como se estivesse na própria agência, utilizando de praticamente todos os serviços disponíveis no mundo real, com a vantagem de não precisar enfrentar filas torturantes - ou seguranças sempre prontos a duvidar de um inofensivo telefone celular.

Talvez seja esta a receita para o sucesso na Internet: sites que facilitem as nossas vidas – seja informando e explicando o que está acontecendo agora do outro lado do Atlântico, seja encurtando caminhos entre você, a agência bancária ou a bilheteria do cinema. Infelizmente, por mais simples que possa parecer, a fórmula ainda é ignorada por um bom número de endereços na Internet.

Correio eletrônico para todos

A série de ataques terroristas sobre Nova York e Washington certamente vai tirar o brilho sobre uma importante medida adotada pelas autoridades de Houston, também nos Estados Unidos. No início da semana, o governo local deu um passo importante contra a chamada exclusão digital, ao oferecer, de uma só vez, a todos os seus 2 milhões de habitantes, contas gratuitas de email e acesso a um software que reúne processador de texto, planilha de cálculos, agenda e outros aplicativos úteis no dia-a-dia. A iniciativa, inédita nos EUA e provavelmente no mundo, foi possível graças a um convênio entre o governo local e a Internet Access Technologies, a empresa que desenvolveu o software, que recebeu o sugestivo nome SimHouston (www.simdesk.com).

A diferença básica de outros sistemas de disseminação do uso da Internet está no fato de que o software é instalado em servidores centrais e não nos computadores pessoais, o que reduz consideravelmente os custos e permite o acesso a partir de qualquer máquina conectada à Internet. Jornais norte-americanos especulam que outras cidades devem adotar providências semelhantes nas próximas semanas. O último levantamento da Nielsen/NetRatings revela que três em cada cinco norte-americanos têm acesso a um computador conectado à Internet em casa ou no local de trabalho.

Sons para celulares

Cansado de ouvir sempre o mesmo tom de chamada do seu telefone celular? Que tal personalizá-lo com um trecho da trilha sonora de "Os Flinstones", de "A Pantera Cor de Rosa", "Missão Impossível" ou até mesmo do hino do seu clube de futebol? Embora de utilidade e gosto discutíveis, centenas de endereços na Internet estão oferecendo o serviço, em um leque de opções que agrada a alguns, diverte a outros e irrita a muita gente. Alguns sites chegam ao requinte de oferecer softwares de edição, que permitem ao usuário "compor" o som que quer ouvir ao atender uma ligação, usando como notas musicais as próprias teclas do aparelho celular.

Para quem estiver interessado - ou apenas quiser se divertir um pouco testando as opções disponíveis - aqui vai uma dica e uma advertência. A dica: utilize como palavras-chaves em um site de buscas "ring tones", "toques de campainha" ou "som para celular". A advertência: de cada 10 endereços que vão aparecer na sua tela, pelo menos sete oferecerão o serviço gratuitamente de forma, digamos, "informal". Segundo a Envisional, uma empresa inglesa especializada em identificar conteúdos piratas na Internet, esta "informalidade" causa um prejuízo diário de US$ 1,5 milhão às empresas detentoras dos direitos autorais dos tais ring tones.

Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo,em 13/09/2001

Encontro inevitável entre moda e tecnologia

No final de 1996, Nicolas Negroponte e Neil Gershenfeld, ambos do Massachussets Institute of Techonology, escreveram uma coluna para a Wired e para a Agência Estado com o enigmático título Wearable Computers, algo como Computadores "Vestíveis", numa tradução literal que não encontra amparo no Aurélio. O texto se baseava em um conceito ainda hoje muito difundido no Media Lab, o de que as pessoas deveriam estar "dentro" do computador e não sentado diante de um.

O computador deveria ir aonde as pessoas fossem. E como todas, em maior ou menor grau, estariam vestidas, os dois pesquisadores vislumbravam nos tecidos e nos acessórios pessoais a arquitetura e aliados perfeitos para a concretização de algumas das idéias analisadas em laboratório. Pois o inevitável encontro entre a tecnologia e a moda aconteceu e, pelo visto, não há retorno.

Algumas das principais empresas têxteis do mundo trabalham atualmente no desenvolvimento de tecidos que, além de práticos e confortáveis, são também inteligentes. A ponto de permitir que uma camisa ou um vestido mudem de cor em função da temperatura ambiente ou até mesmo do estado de espírito de quem se deixa trair, por exemplo, pelos batimentos cardíacos.

Meias que retêm o suor do corpo e calças com ajuste automático à silhueta também estão chegando ao mercado. Logo será a vez de lingeries ou tailleurs e, apesar de o conceito por trás dos wearable computers ultrapassar o universo fashion, ninguém deve se espantar quando em breve for anunciado o primeiro desfile high tech e, consequentemente, a primeira top model cibernética virar capa de revistas especializadas em moda.

Imaginem brincos receptores de áudio, óculos monitores ou transmissores de vídeo, sapatos e sandálias dotados de modem ultra modernos ou uma jaqueta jeans com acesso à Internet e ainda por cima capaz de reproduzir arquivos em MP3. Parece exagero? Pois saiba que algumas dessas maravilhas, fruto de parcerias entre empresas de alta tecnologia e fabricantes de roupas ou até mesmo de jóias já estão no mercado, ainda que a preços proibitivos para a grande maioria dos mortais.

Antes do Natal, por exemplo, a jaqueta do parágrafo acima terá na etiqueta as marcas Levi's e Philips e um valor estimado na casa dos US$ 2 mil. A Hitachi também promete colocar no mercado ainda este ano a sua versão de wearable computers, com acesso total à Internet, numa parceria com a Xybernaut (www.xybernaut.com), que desde 90 fornece aplicações para mercados profissionais. O equipamento ainda parece pouco prático e consiste num módulo central em forma de cinto, um teclado adaptado ao pulso, com fones e visores apoiados no ouvido.

Em outra linha de atuação, a Land’s End (www.landsend.com), especializada na venda por catálogos, e a Image Twin, uma empresa de tecnologia, tentam expandir o comércio de roupas pela Internet, com a instalação de quiosques dotados de um aparelho capaz de reproduzir qualquer silhueta em três dimensões. O tal scanner é capaz de "ler" 200.000 pontos da superfície do corpo, tornando possível a confecção de uma roupa realmente sob medida. As informações são armazenadas em um banco-de-dados e podem ser enviadas para as confecções associadas ao sistema, que entregam em casa o modelo pronto para ser usado, sem a necessidade de nenhum ajuste.

Enquanto o body-scanning não chega por aqui, é possível simular a confecção de quase 300 modelos no site da empresa (www.mvm.com). Você preenche um quadro com várias informações e um software se encarrega de sugerir o estilo que melhor se adapta ao seu modo de vida e às suas medidas. A partir daí, você passa a contar com a ajuda de um consultor virtual de moda. Experimente contar "mentirinhas inocentes" e se divirta – ou não - com os resultados.

Desenhando para vestir

Grandes nomes do design e da tecnologia estarão reunidos em outubro na quinta edição do International Symposium on Wearable Computers, em Zurique. A programação do evento (http://iswc.gatech.edu/) resume tudo o que está sendo pensado e desenvolvido sobre os tais computadores "vestíveis", inclusive com demonstrações práticas de algumas aplicações aparentemente futurísticas. No centro das atenções, a preocupação em moldar ao corpo humano várias tecnologias já existentes no mercado.

Um dos destaques mais aguardados é um desfile de moda, produzido por uma equipe multidisciplinar, que reúne estilistas, físicos e especialistas em nanotecnologia, entre outros campos do conhecimento (www.wearablegroup.org). Alguns modelos que serão apresentados foram produzidos a partir de fios que funcionam como cabos transmissores de informações ou capazes de atuar como baterias solares para garantir o funcionamento dos equipamentos "vestíveis".

Bizarros e mutilados

Até o final do mês é possível conferir a evolução da moda e dos costumes em www.mode2001.be, uma grande exposição organizada pelo Museu de Arte Contemporânea da Antuérpia, Bélgica. Como sugestão, procure pela mostra Mutilate?, que possibilita uma reflexão sobre o universo fashion a partir de uma abordagem histórica e como homens e mulheres movidos por razões estéticas, sociais ou religiosas enveredaram pela decoração e manipulação corporais. Um dos destaques desta mostra são os corselets criados e exibidos pelo polêmico estilista sul-africano Mr. Pearl.

Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo, em 06/09/2001

DivX avança sobre o império de Hollywood

A bilionária indústria cinematográfica decidiu se precaver e anunciou que vai entrar de cabeça no mercado de distribuição de filmes pela Internet. Dois fatores fundamentaram a decisão: a expansão dos serviços de banda larga e o receio de que aconteça com os filmes algo parecido com o Naspter, um pesadelo que até hoje atormenta a vida e as finanças da indústria fonográfica. O curioso é que um argumento reforça – e muito - o outro.

A ameaça é real. Campeões de bilheteria que nem sequer foram lançados em VHS ou DVDs – como Hannibal, Shrek, Pearl Harbor e Lara Croft - Tomb Raider, entre outros - aparecem em cópias piratas na Internet ou em CDs. No mês passado, o alarme sou mais forte para os poderosos de Hollywood quando uma cópia de American Pìe 2 chegou à Internet duas semanas antes do lançamento oficial nos cinemas dos Estados Unidos.

O problema é tão grave a ponto de fomentar rankings dos filmes mais pirateados na rede. Um desses "top ten" é divulgado mensalmente pela MediaForce, uma empresa especializada em proteger copyright e rastrear conteúdos ilegais na Web. O ranking (disponível em www.mediaforce.com/news/topten), aponta a comédia Cara, Cadê Meu Carro? como a campeã de downloads piratas em julho, seguida de perto por Quem Vai Ficar Com Mary?, ambas produzidas pela Twentieth Century Fox.

Assim como o MP3 deu origem ao festival de trocas de arquivos musicais, o segredo da pirataria de filmes está no DivX, um padrão de compactação de vídeo, capaz de fazer com que um DVD de 5 gigabytes caiba inteiro em um CD comum. Com isso, está aberto o caminho para que o filme possa ser copiado, assistido (sem necessidade de um aparelho de DVD) ou “simplesmente” trocado, com o auxílio de programas como o Scour Exchange (http://www.scour.com/) ou o iMesh (http://www.imesh.com/) - semelhantes ao Napster, mas que também realizam trocas de DivX.

Baixar filmes gratuitamente na rede é uma prática relativamente antiga na Web – o próprio DivX surgiu ali pelo final de 99 - e apenas o tamanho dos arquivos, o tempo descomunal para o download e a baixa penetração da banda larga impediam uma maior disseminação. Com o avanço das tecnologias de transmissão, o principal entrave para que ocorra com os filmes o mesmo troca-troca que acontece com os arquivos musicais, cai por terra. E nos EUA, berço do Naspter e agora também do DivX, cerca de 18 milhões de usuários já contam com conexões em alta velocidade.

Até dá para fazer isso por linha discada, principalmente com o auxílio de programas que melhoram consideravelmente a velocidade de downloads. “Não duvide se alguém lhe falar que fez download do filme Matrix com resolução máxima e som digital em poucas horas!”, ressalta em bom português um site com um farto estoque de filmes, trailers e vídeoclips “disponíveis” em Divx. É a mais pura verdade. Não duvide.

Quanto custa e quanto vai custar?

No comunicado conjunto divulgado na semana passada, MGM, Paramount, Sony Pictures, Universal e Warner Bros não revelaram quanto pretendem cobrar pela “legítima distribuição de conteúdo na Web”. Disseram apenas que vão somar esforços para garantir “um nível adequado de proteção de copyright”, por meio de um software de gerenciamento de direitos autorais.

A MPAA, entidade que reúne os grandes estúdios norte-americanos estima em US$ 3 bilhões a perda anual de receitas do setor provocada pela pirataria (www.mpaa.org/anti-piracy). É cedo para sabermos se o monstro será domado. Mas, pelo menos, a indústria do cinema não vai fazer como os executivos musicais que só despertaram para o problema quando já existiam 50 milhões de usuários torcendo contra.

Harry Potter e Stephen King

Já que o assunto é ranking de pirataria, um bom endereço a ser visitado é o www.envisional.com, que traz a relação dos e-books mais “trocados” na Internet. São quase 7.300 títulos diferentes, incluindo vários best-sellers, com destaque para os grandes autores de ficção científica. De acordo com a Envisional, os quatro livros da série Harry Potter (J. K. Rowling) e Dreamcatcher, do mestre do terror Stephen King, estão entre os mais pirateados na Internet.

Também na literatura, o modelo que possibilita a disseminação ilegal de e-books é semelhante ao que é utilizado na troca de arquivos digitais ou de filmes, todos inspirados no Naspter e no tão falado peer-to-peer.

A Envisional, criada por ex-estudantes da Universidade de Cambridge, desenvolveu uma tecnologia de rastreamento de conteúdos ilegais, batizada como Sistema Automático Anti-Pirataria (AAPS, na sigla em inglês). Ao identificar um endereço com material irregular, o software manda emails de alertas para o autor do original e para os responsáveis pela infração. O site da empresa não menciona a taxa de sucesso da estratégia.

Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo, em 30/08/2001

6 de abr. de 2009

Morro do Castelo, Cristo Redentor e internet

Um aspecto sempre fascinante na Internet é a possibilidade de você encontrar o que precisa na hora apropriada. Quando se trata do resultado de uma partida de futebol, da nova taxa de juros fixada pelo Copom, dos desdobramentos do escândalo do dia ou mesmo do roteiro de um bom filme e da resenha do livro lançado na semana passada, não há segredos. A qualquer hora do dia ou da noite, basta acessar um portal confiável e a informação estará disponível.

Mas quando se trata de assuntos específicos a saída é recorrer a uma boa ferramenta de busca na esperança de que ela nos leve rapidamente ao objeto da procura. Nestes casos, quase sempre o resultado da consulta estará em endereços especializados ou em websites pessoais – uma categoria ainda pouco explorada na Internet, a não ser pelos serviços de hospedagem de sites.

É verdade que boa parte das páginas pessoais continua sob efeito da febre inicial que marcou a chegada da Internet comercial e não passa de ingênuos (no bom e no mau sentido) exercícios explícitos de vaidades incontroláveis. Mas como tudo na “mãe de todas as redes”, vale o bom senso e a nossa capacidade de separar o que é útil daquilo que não passa de mera exibição.

Fazendo esta distinção, invariavelmente você encontrará ditas páginas pessoais que primam pela utilidade e bom gosto. Oferecem, gratuitamente, conteúdos valiosos a despeito da pouca visibilidade que as fazem conhecidas apenas por alguns poucos curiosos ou por ocasião de concursos periódicos sobre “o melhor da Internet”.

Recentemente, durante uma exposição sobre imagens do Rio de Janeiro no início do século senti necessidade de informações que me levassem a entender como a cidade se modificou tanto em tão curto espaço de tempo. A questão não era simplesmente relacionar imensas planícies com arranha-céus e avenidas congestionadas, mas descobrir onde foram parar o Colégio dos Jesuítas, fundado pelos padres José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, ou o Castelo de São Sebastião, que se destacavam no cenário colonial.

Após uma série de buscas diretas na Internet, o resultado ainda deixava a desejar. Dias depois, uma reportagem na tevê tocou no assunto e forneceu a dica que faltava. No meu caso, a palavra-chave que eu precisava: Morro do Castelo. Um dos primeiros endereços a surgir na tela (www.geocities.com/RainForest/1661/), uma página pessoal produzida pelo historiador Carlos Kessel, era, de fato, o que eu procurava.

Não foram apenas o castelo-fortaleza e o colégio construídos pelos colonizadores portugueses que desapareceram do cenário carioca. O morro inteiro foi demolido em prazo recorde - por obra e graça de um prefeito nomeado em 1920 pelo então presidente Epitácio Pessoa. Junto com o cargo, Carlos Sampaio, o prefeito, recebeu a missão de preparar” o Rio de Janeiro para uma grande exposição internacional, dois anos depois, por ocasião do centenário da Independência do Brasil.

A cidade perdeu o morro (www.carioca.webbr.net/image/ant0001.jpg) e as construções históricas, mas ganhou a Avenida Rio Branco, a Biblioteca Nacional, o Museu de Belas Artes, e até o Aeroporto Santos Dumont. Do Morro do Castelo, um capítulo da geografia do Rio que não aparece nos postais e que raramente é contado em salas de aulas, sobraram apenas alguns poucos metros, hoje conhecidos como Ladeira da Misericórdia. E um bom site pessoal para recontar esta história.

Sete novas maravilhas

A Prefeitura do Rio anunciou no início da semana a formação de uma comissão para organizar as comemorações pelo 70o aniversário da construção do Cristo Redentor, no dia 12 de outubro. Muita coisa está sendo planejada, mas pelo menos uma providência simples deixou de ser tomada e com ela uma oportunidade prática e econômica de divulgar ainda mais o principal cartão postal da cidade.

A vitrine seria o endereço http://www.new7wonders.org/ onde está sendo realizada uma votação para a escolha das Sete Novas Maravilhas do Mundo. Faltando pouco mais de quatro meses para o fim da votação, mais de 5,5 milhões de pessoas de 237 países já participaram desta que está sendo considerada a primeira eleição realmente mundial já realizada na Internet. O site computou até agora 31.250 votos de brasileiros. A estátua do Cristo Redentor não aparece na relação de candidatas.

Entre os mais votados, aparecem o palácio-mausoléu Taj Mahal, na Índia, (411 mil votos), Chichén Itzá, uma cidade maia no México (405 mil votos) e as Muralhas da China (308 mil votos). Os resultados devem ser anunciados em 2003, na Grécia, no mesmo local onde há mais de dois mil anos teria surgido a primeira lista com as Sete Maravilhas do Mundo Antigo - Os Jardins Suspensos da Babilônia, A Estátua de Zeus, O Mausoléu de Halicarnassus, O Templo de Artemis, O Colosso de Rhodes, O Farol de Alexandria e As Pirâmides do Egito.


Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo em 23/08/2001

Filmes interativos em destaque na internet

Se você acha que interatividade é pegar o telefone ou o controle remoto e votar no filme que será exibido amanhã pela tevê prepare-se para grandes surpresas. Cinema interativo de verdade está entre os destaques de dois grandes festivais internacionais que transformarão São Paulo em uma espécie de vitrine mundial da arte e da linguagem eletrônica. São pelo menos 325 trabalhos de 40 países diferentes, da África do Sul à Venezuela, em uma relação alfabética, que inclui ainda as presenças inéditas de artistas chineses e húngaros.

O primeiro deles, o Festival Internacional de Linguagem Eletrônica, File, foi aberto na semana passada e ficará em cartaz até o dia 2 do mês que vem no Museu da Imagem e do Som. Já o Vídeobrasil - Festival Internacional de Arte Eletrônica, em sua décima-terceira edição, tem abertura prevista para 19 de setembro, no Sesc Pompéia, mas com programação estendida até o fim de outubro. O roteiro completo, bem como uma boa radiografia do que está sendo feito mundo afora no campo da interatividade, em particular, ou da chamada webarte, como um todo, estão disponíveis nos endereços http://www.videobrasil.org.br/ e http://www.file.org.br/.

Entre tantas novidades e infinitas possibilidades, comece pelos webfilmes. Como sugestão, assista antes o canadense “Safehouse” ou o dinamarquês “The Intruders”, ambos no site do File. Em “Safehouse”, um grande estúdio é cenário de vários assassinatos. O espectador tem quatro câmeras a sua disposição, cada uma delas com acesso simultâneo às cenas filmadas pelas demais. A qualquer momento é possível definir por qual delas você pretende ver o filme, mas a trama só será entendida mesmo com a interação das imagens filmadas por cada câmera.

“The Intruders” tem uma proposta diferente, mas não menos enigmática – contar uma história a partir dos mais variados pontos de vista, em uma estrutura não-linear, diferente, portanto, daquela que estamos habituados a ver nos cinemas. O roteiro é relativamente simples – uma pessoa invade um apartamento onde vive um casal - , mas surpreende o fato de a trama se modificar a partir da intervenção do espectador, gerando uma clima de suspense sobre o que “realmente” está acontecendo.

Na Videobrasil, serão apresentados 135 trabalhos selecionados entre os 644 inscritos este ano, um recorde na história do festival. O tema definido - Fluxos, fusões e assimilações – procura refletir a tendência atual de uso cada vez mais intensivo de múltiplas plataformas e tecnologias para a criação de novas linguagens e conceitos. Tem filmes interativos também, mas o ponto alto promete ser a homenagem especial que está sendo preparada para Gary Hill, um dos grandes nomes da videoarte. Em uma mostra paralela serão exibidas algumas das principais obras do artista, incluindo as videoinstalações Remembering Paralinguay, Remarks On Color e Wall Piece - exposta na bienal de Veneza deste ano.

Uma chance imperdível para conferir as principais propostas e tendências da arte eletrônica nestes tempos de realidade virtual cada vez mais real.

DVD e VHS

Em janeiro, a relação entre as vendas de DVDs e de videocassetes era de um para três. Em abril, a mesma relação foi de um para dois. Em junho, ficou pouco acima de dois para três. Os números de julho ainda não foram divulgados pelos fabricantes, mas se esse ritmo for mantido, setembro de 2001 pode entrar para a história como o primeiro mês em que as vendas de DVDs superaram as do velho e bom videocassete. Com a produção de filmes isso já acontece. No primeiro semestre foram lançados no mercado brasileiro 310 títulos em DVD contra 254 títulos em vídeo, segundo a DVD Vídeo Business. No mercado mundial, a venda de filmes no formato digital já representa 30% (US$ 8,7 bilhões) do faturamento dos maiores estúdios cinematográficos de Hollywood, ante 9% relativos às fitas em VHS, conforme o balanço semestral da Motion Pictures Association of America (http://www.mpaa.org/).

The Sims III

A Electronic Arts está anunciando a terceira expansão de The Sims, o simulador de pessoas lançado em fevereiro do ano passado e que já vendeu mais de 4 milhões de cópias em todo o mundo. “The Sims Hot Date” será o nome em inglês da nova expansão, mas o título da versão em português só será definido após consulta aos usuários brasileiros, entre cinco opções disponíveis no site da Eletronics Arts (http://www.brasil.ea.com/). É a primeira vez que a EA abre espaço para este tipo de interação. A primeira expansão chegou por aqui com o título “The Sims Gozando a Vida” e foi seguida por “The Sims Fazendo a Festa”.

Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo em 16/08/2001

Internet perde 12% de audiência no trimestre

09/08/2001

O tempo total de conexão à Internet caiu 12% no Brasil nos últimos três meses, de 3,62 bilhões de minutos em abril, para 3,23 bilhões de minutos no mês passado, segundo o mais recente estudo divulgado pela Jupiter Media Metrix. Trocando em miúdos, isso representa uma queda na audiência web equivalente a 6,55 milhões de horas de navegação em apenas 90 dias. No mesmo período, o número de usuários que acessaram um endereço www a partir de suas casas permaneceu praticamente inalterado.

Quem acessava continuou acessando, mas navegou menos. No orçamento doméstico, economizou na conta de luz e, de quebra, na conta telefônica. Talvez tenha transferido para o local de trabalho parte do tempo que passava em determinados sites, mas por enquanto não dá para mensurar esse possível deslocamento, pois tanto o Media Metrix (http://www.mmxi.com/) quanto o Ibope eRatings (http://www.ibope.com.br/) medem apenas o chamado consumo doméstico da Internet.

Nos Estados Unidos, por razões distintas, a Internet também reduziu – e muito – a sua curva de crescimento, o que tem levado alguns analistas à previsão de que o mercado de Internet estaria próximo do pico por aquelas bandas. O principal argumento utilizado por esses analistas está na fantástica penetração do computador pessoal, atualmente presente em 65% dos lares norte-americanos.

No Brasil, onde o acesso à Internet ainda é privilégio de algo em torno de 7% da população total, a explicação é bem mais simples. O fantasma do apagão e a necessidade de reduzir em 20% o consumo de energia elétrica fizeram com que as pessoas desligassem tudo o que era possível, poupando do liga-e-desliga apenas aquilo que consideravam absolutamente imprescindível.

Quem atingiu a meta com facilidade já nas primeiras semanas do racionamento, relaxou um pouco. Quem ficou longe, continua tentando cortar aqui e ali. A dúvida é saber, após o período de penumbras, o que vai ser religado primeiro, o frezer ou o computador, embora todos nós saibamos que em termos de consumo energético não há comparações entre um e outro.

Se para as empresas de Internet o desafio está em continuar gerando conteúdos de qualidade de forma a manter e conquistar novos usuários, para as operadoras de telefonia a redução no faturamento deveria servir para apressar a implantação da chamada tarifa plena – pela qual o usuário pagaria um valor fixo, bem mais baixo que o sistema atual de tarifas, independentemente do tempo em que permanecer conectado à Internet.

De tempo em tempo

Devemos aos egípcios a divisão dos dias em 24 horas, como estamos habituados a contar e a conferir nos nossos relógios. Mas para quem vive atrasado e acha que 1440 minutos representam muito pouco diante de tudo o que é preciso fazer todos os dias, vale a pena “perder algum tempo” vasculhando o site do Museum of Science and Industry de Chicago (http://www.msichicago.org/) e conhecer as mais diversas e curiosas formas de medir o tempo. De preferência, faça isso em companhia do seu filho ou do seu aluno. Você e ele vão participar de uma proveitosa aula sobre o tempo, com exemplos práticos de vários enunciados da física moderna.

No site do museu estão expostos 30 entre os 500 tipos diferentes de relógios que integram a exposição permanente. Entre os equipamentos mais pitorescos encontra-se um despertador do Século 18, que acende uma vela na hora programada. Mais recente, mas não menos enigmático, é o relógio criado no final dos anos 60 por um astrônomo para medir com maior precisão a órbita dos planetas. Não espere uma demonstração prática deste relógio. Uma volta completa dos ponteiros leva “apenas” 25 mil anos para ser completada.

Relógio atômico

Um bom exemplo de tecnologia invisível – aquela que nos auxilia, mas que muitas vezes nem percebemos: 368 relógios de rua da capital paulista são atualizados permanentemente por GPS, de Global Positioning System. O sistema foi desenvolvido pelo Departamento de Defesa Norte-Americano, mas hoje é usado em aviões, barcos, alguns modelos de automóveis e até simples relógios de pulso com extrema precisão. Funciona assim: um conjunto de satélites em orbitas estratégicas ao redor da Terra trocando informações com estações de rastreamento terrestre e enviando os resultados para receptores de GPS.

Entre as informações transmitidas estão as quatro variáveis para uma navegação segura - latitude, longitude, altitude e o horário, controlado por um relógio atômico presente em cada um daqueles satélites. A Publicrono, a empresa que administra os relógios na área de concessão da Emurb, garante que o sistema de controle do horário e da temperatura por GPS dá a certeza de que nenhum relógio mostrará a hora errada durante o seu funcionamento normal.

Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo em 9/08/2001

Homenagens à diva do fado

Desde a semana passada, uma simpática casa amarela na Rua São Bento, centro de Lisboa, tem sido palco de uma movimentação contínua. Naquele endereço, por mais de 50 anos, viveu Amália Rodrigues, a diva do fado, morta em 1999, aos 79 anos de idade, ainda hoje homenageada por todos os portugueses, dentro e fora de Portugal. A casa foi transformada em museu, poucas semanas depois de o corpo da fadista ter sido trasladado para o Panteão Nacional, onde foi colocada em uma ala ao lado dos restos mortais dos escritores Almeida Garrett, João de Deus e Guerra Junqueiro – outros mitos da cultura lusitana.

Amália Rodrigues tornou-se a primeira mulher e a primeira artista portuguesa a receber tal honraria. Para ser sepultada no Panteão, foi preciso mudar uma lei que vigorava desde 1836 e que previa a possibilidade de traslados somente quatro anos, no mínimo, após a morte. Muitos portugueses queriam mais e achavam que o Mosteiro dos Jerônimos serviria melhor de morada eterna para a fadista - mas ali, como se sabe, repousam apenas heróis, como o rei D. Manuel I, o Infante D. Henrique, os navegadores Pedro Álvares Cabral e Vasco da Gama, além dos escritores Luís de Camões e Fernando Pessoa.

Outros achavam que deveria ser construído um jazigo no próprio Cemitério dos Prazeres – onde, aliás, Fernando Pessoa permaneceu até ser retirado da companhia da avó para ser levado aos Jerônimos. “Sei que a minha história vai ser aquela que escolherem”, cantava e dizia Amália, como se estivesse antevendo o desfecho.

Estas e muitas outras histórias envolvendo a diva do fado estão fartamente ilustradas na Internet e nestas noites frias podem ser um bom programa – desses que, de vez em quando, surgem em algum canal de TV. Como ponto de partida, a sugestão é que se visite os endereços http://www.instituto-camoes.pt/ (uma espécie de panteão virtual onde também repousam outros grandes nomes da cultura portuguesa) e www.cm-lisboa.pt/fonoteca/amalia, para ouvir dezenas de trechos de grandes fados na voz da própria Amália, gravados entre 1945 e 1998.

Vírusbilingue

Se você receber uma mensagem com uma saudação carinhosa, do tipo “Hola como estas?”, na versão em espanhol, ou “Hi! How are you?”, em inglês, tome cuidado. Vá até o final da mensagem. Se lá estiver um “Nos vemos pronto, gracias” ou “See you later. Thanks”, delete imediatamente o e-mail e esvazie a lixeira do seu computador. Caso contrário, você será mais uma vítima do SirCam, um programinha com características de um vírus que está se espalhando lenta e progressivamente pela rede. Brasil, México e EUA são os países mais atingidos pelo SirCam, detectado pela primeira vez no dia 17 do mês passado e com o gatilho apontado para o dia 16 de outubro – data em que foi programado para entrar em ação, destruindo arquivos e acabando com o espaço disponível no seu micro. Para quem já foi infectado, a dica é fazer o download do arquivo FixSirc.com, disponível em www.symantec.com.

Radiação em celulares

O Brasil fechou o primeiro semestre com 25,8 milhões de telefones celulares, 40% a mais do que nos primeiros seis meses de 2000. Fazendo as contas, são 15 celulares para cada grupo de 100 pessoas. Com tantos celulares e com quase 14 mil estações-bases em uso por aí, a Anatel (http://www.anatel.gov.br/) bem que poderia promover uma campanha para esclarecer a população sobre os efeitos da radiação transmitidas pelos celulares, um assunto que vem levantando muita polêmica. A agência trabalha em um projeto de regulamentação e definição dos chamados limites de exposição a Campos Elétricos, Magnéticos e Eletromagnéticos. Até o mês passado, o projeto esteve aberto à consulta pública, quando recebeu várias sugestões de caráter técnico, incompreensíveis para simples mortais.

Enquanto esta questão não é resolvida e enquanto os fabricantes de celulares não colocam no mercado novos modelos com antenas que direcionem para longe do ouvido as radiações, repito uma advertência contida em vários sites especialistas: celulares não devem ser usados por mais de seis minutos seguidos do mesmo lado da cabeça e a uma distância inferior a 2,5 centímetros do corpo. Em tempo: No endereço www.wapmaster.zip.net/info/radiacao/ é possível conferir a relação dos aparelhos mais (e menos) radioativos do mercado. Já o endereço http://www.amcham.com.br/ dá uma boa visão sobre o estágio atual da polêmica.

Telefonia criptografada

Os arapongas de plantão terão de se modernizar ou o festival de escutas telefônicas que assola o País corre risco de entrar em declínio. Chegou ao mercado brasileiro um serviço de telefonia criptografada, desenvolvido por especialistas do serviço secreto israelense (http://www.snapshield.com/). Batizado como SafeCall, o serviço codifica mensagens de voz e de fax tanto na rede de telefonia pública quanto em sistemas privativos de comunicação. O sistema protege, inclusive, os números chamados. Um chip instalado no telefone faz com que a voz flua através de uma espécie de túnel. Qualquer tentativa de “invasão” entre as duas pontas do túnel vai capturar apenas chiados. A Compugraf (http://www.compugraf.com.br/), a empresa que trouxe o serviço para o País, diz que nesta primeira fase de implantação vai oferecer o sistema ao primeiro escalão do governo e de grandes empresas.

Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo em 02/08/2001

Chip censor ou controle remoto de luxo?

A instalação de um chip nos aparelhos de TV para bloquear a programação considerada imprópria para crianças parece não estar despertando polêmicas. Entre as quase 350 sugestões de mudanças no texto do projeto da nova lei de radiodifusão já encaminhadas ao Ministério das Comunicações, nenhuma diz respeito ao artigo 95, que estabelece a obrigatoriedade do tal "dispositivo eletrônico".

A consulta pública deveria terminar esta semana, mas foi prorrogada até o dia 21. É claro que o adiamento não foi por causa do chip-censor, mas se a redação original (http://www.mc.gov.br/) for mantida ele passará a ser obrigatório em todos os aparelhos de TV fabricados ou vendidos no País e os pais poderão, teoricamente, controlar a programação, com base nas informações fornecidas pelas próprias emissoras.

Não ficou claro como funcionará o controle e ainda não dá para avaliar o alcance ou a eficiência da medida. Ou será que dá? A julgar pelo que acontece com a Internet, na qual os chamados filtros de conteúdos já existem há algum tempo, o bloqueio não vai ser fácil. Na rede, estão disponíveis dezenas de softwares, vários deles gratuitos, que impedem o acesso a páginas consideradas impróprias. Até agora, nenhum se revelou 100% eficiente.

O mais recente foi lançado há poucas semanas no EUA e com uma novidade: além de impedir o carregamento de páginas e endereços previamente cadastrados por pais e educadores, o software registra toda e qualquer atividade com o computador e denuncia, em detalhes, tudo o que foi feito pelo usuário. O rastreamento pode até ser enviado por e-mail, inclusive com a "foto" da página suspeita para que você fique sabendo exatamente o que os pirralhos fazem com o computador quando não tem ninguém por perto.

No final do ano passado, os EUA adotaram o Children's Internet Protection Act, uma lei que obriga escolas e bibliotecas a instalarem filtros de conteúdos nos computadores com acesso à Internet. Algumas entidades de defesa dos direitos individuais estão recorrendo à Justiça, com base em dois argumentos principais: por um lado, a lei seria inconstitucional por violar a liberdade de expressão; por outro, inócua, já que não existe um software capaz de fazer a distinção entre conteúdos protegidos constitucionalmente e outros simplesmente ilegais.

Com o tal chip imaginado no projeto de lei do governo brasileiro não vai ser diferente, embora, neste caso, exista uma sutileza. Partindo-se da premissa de que todo o conteúdo de nossa TV é legal, os pais terão de definir "apenas" entre o que é próprio e o que é inadequado para o seu filho. Mais ou menos como um controle remoto. Quem deve estar aguardando ansiosamente pela novidade são os fabricantes. Afinal, não é todo dia que se abre um mercado de 40 milhões de aparelhos passíveis de serem turbinados com um chip obrigatório. Um bom negócio, sem dúvida.

Rádio digital

Era só uma questão de tempo, mas parece que chegou a hora. As principais empresas responsáveis pelos diferentes padrões internacionais de rádio digital estarão reunidas na próxima semana em São Paulo, durante a SET 2001 - Broadcast & Cable. Os planos são proporcionais ao tamanho do mercado brasileiro, com 80 milhões de aparelhos de rádio - duas vezes mais do que o número de televisores. Embora estejamos apenas no início das discussões, a chegada do padrão digital ao rádio promete uma verdadeira revolução.

Há quem acredite mesmo no surgimento de um novo veículo, com novas funções, nova linguagem e novas aplicações - como, por exemplo, a recepção de imagens diretamente no display, em casa ou no trânsito. Enquanto ouve o noticiário, o usuário poderá, por exemplo, receber cotações da bolsa de valores - ou conferir, em mapas, o melhor trajeto entre a sua casa e o escritório. Durante o evento, será possível ver (e ouvir) demonstrações práticas destas maravilhas.

QI canino

O psicólogo e adestrador Stanley Coren desenvolveu um curioso método que permite a qualquer um, dotado de um mínimo de paciência, medir a inteligência dos cães. Isso mesmo, um teste de QI para cachorros, elaborado com métodos científicos. São 12 testes no total (confira em www.dogtimes.com.br/qi.htm), aplicáveis a partir dos 9 meses de vida dos animais. No final, basta somar os pontos. Se o seu cão de estimação ultrapassar a marca de 54 pontos, parabéns. Trata-se, segundo Coren, de um animal brilhante e muito raro. Se ficar abaixo dos 15 pontos, pode ser um animal "de difícil convivência".

A pontuação leva em conta a diversidade das raças. Os testes de QI medem a chamada inteligência adaptável - aquela que permite a um indivíduo compreender o meio em que vive, interagir com ele e superar os seus desafios. Quem não tiver paciência para aplicar o teste pode conferir o ranking com 79 raças já avaliadas por adestradores de várias partes do mundo.

Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo em 26/07/2001

3 de abr. de 2009

Júlio Verne, o cyberpunk do Século XIX

Francis Benett, dono do Earth Herald, o jornal mais poderoso do mundo, está sentado à mesa em Nova York. Na sua frente, uma tela grande com a imagem ao vivo da sala de jantar de sua mansão em Paris. Apesar do fuso horário, era um hábito que ele costumava cultivar sempre que possível: almoçar com sua mulher, mesmo estando separados por milhares de quilômetros. Benett, o homem que tinha o poder de decidir até “o que fazer com a Lua”, sentia-se bem face à face com a adorada esposa, vendo e falando com ela através de “aparelhos fonotelefóticos”.

Chia McKenzie usou o cartão de crédito para fazer o download de um conjunto preto, composto por calça e blusão. No dia seguinte, teria uma reunião importante em um site, que ainda estava sendo preparado. Na hora combinada, se conectou. Colocou os sensores de dedos, os óculos especiais. Em poucos segundos foi recebida por uma secretária que a encaminhou ao local onde pelo menos cinco pessoas aguardavam. ”Este site é muito bonito”, disse tentando ser amável com a anfitriã. “Se você for salvá-lo, gostaria de visitá-lo outras vezes, com mais calma”.

Mais de um século separam os dois parágrafos acima. O primeiro, fragmento do ensaio "O dia de um jornalista americano em 2889”, foi escrito em 1889 por Júlio Verne, o pai da ficção científica. Incrível, não? Já o segundo parágrafo sintetiza duas passagens do livro Idoru (pronuncia-se Aidoru), escrito em 1996, pelo americano William Gibson, um dos expoentes do gênero que ficou conhecido como cyberpunk.

Antes de criar Francis Benett, o jornalista do título, o mestre Júlio Verne já havia escrito histórias suficientes para garantir, ainda hoje, uma legião de seguidores. Como eterna recomendação de leitura, citamos alguns aqui: Cinco Semanas num Balão, Viagem ao Centro da Terra, Da Terra à Lua, 20.000 Léguas Submarinas, A Volta ao Mundo em 80 Dias e A Ilha Misteriosa. Verne, é preciso que se recorde, viveu entre 1828 e 1905. Até hoje é um dos autores mais lidos em todo o mundo.

Willian Gibson ganhou projeção em 1984, quando publicou a novela Neuromancer, um sucesso estrondoso que valeu ao autor os principais prêmios atribuídos à chamada literatura de ficção. Foi neste livro que apareceu, pela primeira vez, a expressão cyberespaço, cunhada por Gibson para denominar o ambiente em que estamos ingressando, mas cujo extrato havia sido imaginado quase um século antes por Júlio Verne.

Grande parte da trama de “O dia de um jornalista...” gira em torno do poder exercido por um magnata da imprensa norte-americana, tendo como pano de fundo um cenário sombrio para a época: cidades com dez milhões de habitantes, prédios de 300 metros de altura, aerocarros e aeroônibus rasgando os céus, imensos transformadores de energia elétrica e mísseis transmissores de vírus capazes de destruir uma nação em pouquíssimas horas.

Em Neuromancer, livro ao qual se atribui a origem do movimento cyberpunk, o cenário é o espaço cibernético, onde grandes corporações travam uma batalha pelo controle do comércio de drogas pesadas e informações, reproduzindo uma visão pessimista sobre a sociedade do futuro - a exemplo do que fizera nas telas Blade Runner (O Caçador de Andróides; Ridley Scotty, EUA, 1982). Em posição oposta, os cowboys, especialistas em burlar sistemas de segurança com o auxílio de poderosos softwares piratas. Não nos esqueçamos: tudo isso em 1984.

Cyberpunk foi um movimento literário surgido no início dos anos 80, uma espécie de braço paralelo da ficção científica. Uma das diferenças básicas entre um e outro gênero é provavelmente uma das mesmas que separam Júlio Verne e William Gibson. Um tentou descrever um cenário mil anos à frente. Para o outro, algumas décadas foram suficiente para ambientar um futuro repleto de personagens marginalizados, cenários de realidade virtual e vírus altamente destrutivos. No primeiro caso, não foi preciso esperar mil anos. E para o segundo?

Jornal falado

Um detalhe intrigante: o Earth Herald imaginado por Júlio Verne não é impresso. A cada manhã, milhares de assinantes ocupam os inúmeros “gabinetes fonográficos existentes” e por meio de rápidas entrevistas tomam conhecimento dos principais fatos do dia. “Fotografias intensivas” complementam as informações. Do outro lado do telefone, “cada repórter tem diante de si uma série de comutadores, que permitem estabelecer comunicações com esta ou aquela linha telefônica”.

Johnny Mnemonic

Ao contrário de Júlio Verne, William Gibson talvez seja mais conhecido na Internet do que fora dela. Chegou a ganhar um dicionário que procura explicar e decifrar dezenas de termos e tecnologias descritas em seus livros e contos – um dos quais, Johnny Mnemonic, transformado em roteiro de cinema. Quem se interessar em conhecer mais sobre ambos procure em www.google.com. Como expressões chaves, além dos autores e livros citados acima, sugiro “Eterno Adão”, “Ficção científica cyberpunk”, “La era de Idoru” e “Virtual Matrix”.

Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo em 19/07/2001

Rei Viking ajuda Lara Croft a derrotar vilões


Há dez séculos, Harald Bluetooth, um grande rei Viking, uniu a Dinamarca e a Noruega. Conquistou o seu lugar na história, mas passou uma longa temporada esquecido até que ressurgiu de forma secundária em pleno Tomb Raider. Não é o que parece. No filme, Lara Croft, também uma heroína, só que do bilionário mundo dos games, não se envolve com bárbaros escandinavos. Apenas foi escolhida para apresentar uma novíssima tecnologia, recém saída do forno.

O nome do rei viking começou a ser resgatado em 98, quando um grupo de grandes fabricantes de computadores e do setor de telecomunicações anunciou que estava trabalhando no desenvolvimento de uma nova tecnologia, batizada sob o código de Bluetooth – ele mesmo, o pacificador de dentes azuis. A idéia era simples: permitir que um telefone celular realmente ‘’falasse’’ com computadores, impressoras, filmadoras ou quaisquer equipamentos eletrônicos, usando baixas frequências de rádio. Tudo sem fios.

Primeiro foi estabelecido um padrão a ser seguido por todos os fabricantes (www.bluetooth.com). Hoje, chega a 275 o total de produtos e aplicações desenvolvidos desde então com base na nova tecnologia, incluindo o Headset e o Communicator, fabricados pela Ericsson, que a mocinha de Tomb Raider utiliza para manter-se conectada a Bryce, o seu guia tecnológico, enquanto esmurra uns e atira em outros.

Bluetooth é uma tecnologia invisível - você quase não percebe e quando usa acha tudo muito natural. Imagine-se num taxi, com alguém ligando pelo celular para informar que um relatório importante foi enviado para a sua caixa postal. Sem interromper a ligação, você aciona o notebook por meio de sinais de rádio, abre a mensagem, faz algumas correções e devolve o documento por email. Não é coisa do futuro. As tralhas que ajudam a garantir a sobrevivência de Lara Croft na telona foram lançadas comercialmente no início do ano em alguns mercados da Europa e da Ásia. Logo chegarão por aqui.

E com elas, novas perspectivas, como a ‘’massificação’’ de redes locais sem fios, potencializadas pela tecnologia Bluetooth. Se o taxi do exemplo acima estiver circulando em Cingapura, o cenário pode ser ainda mais promissor. Cerca de 500 deles estão sendo equipados, experimentalmente, com uma rede local pessoal – uma PAN, de Personal Area Network - que, por sua vez, estará conectada a outras redes públicas. A partir daí, a imaginação – e não mais fios ou cabos - passa a ser o limite.

Chips em animais


O uso de microchips em animais domésticos chegou mesmo. Seguindo uma prática já comum em diversos países – em alguns deles de forma obrigatória – algumas cidades brasileiras começam a adotar programas de implante de chips eletrônicos, em parceria com sociedades protetoras dos animais ou de medicina veterinária. Os microchips, do tamanho de um grão de arroz, são injetados sob a pele do cão ou do gato com o auxílio de uma agulha e contêm informações sobre o tipo sanguíneo, endereço e histórico médico, entre outras, que formam o ‘‘RG’’ do animal.

Cada chip possui um código individual, gravado a laser e encapsulado em vidro cirúrgico, mesmo material usado em marca-passo. A leitura do código é feita por um scaner que emite um sinal de rádio de baixíssima frequência. Os códigos são arquivados em bancos de dados, permitindo, por exemplo, a rápida localização do proprietário de um animal perdido. Por aqui, o custo de implantação do tal chip varia entre R$ 40 e R$ 70. Em Buenos Aires, onde um programa semelhante está previsto para ter início ainda este mês, a identificação eletrônica de cães e gatos será gratuita, mas obrigatória.

Chipes em seres humanos

Para quem não se lembra ou tem dúvidas sobre onde deverão nos levar iniciativas como estas, podemos recordar dois exemplos relativamente recentes. Em meados do ano passado, jornais europeus divulgaram uma experiência realizada por um especialista que implantou no antebraço um microchip com informações que lhe permitiriam, por exemplo, acessar e movimentar sua conta em terminais bancários.

O outro exemplo é doméstico e mais inquietante. No final de 97, o artista plástico carioca Eduardo Kac, professor de arte eletrônica na The School of the Art Institute of Chicago, causou polêmica ao implantar em seu tornozelo esquerdo (http://www.ekac.org/) um microchip semelhante aos que estão sendo utilizados atualmente em cães e gatos. O chip continha um número com nove dígitos – registrado pela Internet num banco de dados norte-americano.
Alguns críticos interpretaram a iniciativa como um alerta contra possíveis formas de vigilância e controle sobre o ser humano. Outros, acreditaram tratar-se de uma demonstração antecipada de uma espécie de mutação biológica, onde memórias digitais (os chips) são implantadas para complementar ou substituir as nossas próprias memórias (o DNA). Tudo sem fios.


Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo em 12/07/2001

Toda a informação em 3 trilhões de CDs

Hal Varian e Aleksey Strygin, dois pesquisadores da Universidade da Califórnia, passaram vários meses mergulhados em estatísticas na tentativa de dimensionar a produção e o estoque mundial de informações. Não definiram claramente o conceito de informação e por isso mesmo mediram tudo - desde uma nostálgica foto familiar até memorandos e ofícios, passando, é claro, pela programação das emissoras de rádio e televisão, jornais, revistas, livros, filmes e a Internet.

Chegaram a um número fantástico e a várias conclusões. Uma delas, preocupante e polêmica: o mundo estaria produzindo mais informações do que a capacidade do ser humano absorvê-las. Mas esse não era o principal objetivo do trabalho. A pesquisa foi financiada por uma das maiores empresas de armazenamento e gerenciamento de dados em todo o mundo. Na prática, Hal e Aleksey queriam saber o potencial de informações “estocáveis” no planeta.

A Universidade da Califórnia há muito se preocupa com este assunto, tanto que foi a primeira escola nos Estados Unidos a criar uma cadeira de Administração de Informações e Sistemas. Ao quantificar níveis de produção e o estoque de informações (medido em bytes), os dois pesquisadores chamaram a atenção exatamente para este problema. A íntegra do documento pode ser encontrada no endereço http://www.sims.berkeley.edu/.

O levantamento estima entre um e dois exabytes o volume de informações geradas a cada ano em todo o mundo. Para estocar tudo isso, usando as melhores técnicas existentes para a compressão de dados, seriam necessários 3,3 trilhões de CD-Rom. O surpreendente é que “apenas” 100 milhões destes CDs (0,003%) seriam suficientes para armazenar toda a produção mundial de material impresso, sejam livros, jornais, revistas ou medidas provisórias.

Os discos restantes seriam utilizados para guardar a informação que já nasce digital, como por exemplo toda a produção cinematográfica e musical, além de 500 bilhões de documentos existentes na Internet, 80 bilhões de fotografias pessoais e 1,4 bilhão de fitas de vídeo existentes no mundo – segundo as fontes consultadas pelos pesquisadores. A pesquisa conclui que 25% da informação impressa, 30% da informação fotográfica e pelo menos 50% do material arquivado em meios magnéticos estão nos Estados Unidos.

Para medir o consumo caseiro de informações, Hal e Aleksey recorreram ao censo norte-americano e descobriram um dado curioso. Em 1992, uma família americana gastou o equivalente a 3.324 horas assistindo TV e vídeos, ouvindo rádio e músicas em CDs, lendo livros, revistas e jornais, jogando vídeo game e navegando pela Internet. No ano passado, foram 3.380 horas (cerca de 140 dias) utilizadas da mesma forma - um acréscimo relativamente pequeno diante do crescimento aparente da indústria da informação e do entretenimento na última década.

Até mesmo as informações pessoais armazenadas em computadores pessoais foram medidas. Segundo os pesquisadores, nos 200 milhões de discos rígidos instalados no mundo existiriam cerca de 25 mil terabytes de informações, incluindo o conteúdo de 610 bilhões de e-mails enviados no mundo inteiro a cada ano. Hal e Aleksey não pediram, mas a partir de amanhã prometo iniciar uma espécie de racionamento digital e cortar 20% das informações armazenadas no meu computador.

Backup francês

O governo francês tomou uma decisão polêmica: todas as páginas produzidas no país para a Internet terão de ser arquivadas, a exemplo do que já ocorre com jornais, revistas e livros. A Biblioteca Nacional e o Instituto Nacional de Audiovisuais foram encarregados de fiscalizar a aplicação da lei e poderão capturar qualquer página na Internet, mas a responsabilidade pelo arquivamento será mesmo dos responsáveis pelos sites. De acordo como o Europemedia.net (http://www.europemedia.net/), 100 mil sites franceses deverão ser atingidos pela medida, que ainda terá de ser regulamentada.

Erros cinematográficos

Titanic continua na frente, mas Matrix avança e já ultrapassou Gladiador em um ranking que, definitivamente, não leva em conta bilheteria, efeitos especiais ou estatuetas do Oscar. As três super produções lideram a lista de filmes que chegaram às telas com o maior número de erros na montagem ou mesmo no roteiro. Confira em http://www.movie-mistakes.com/, um site organizado por um certo Jon Sandys e uma legião de colaboradores de várias partes do mundo.
Entre os 123 erros atribuídos pelo site ao filme de James Cameron, Sandys anotou casos de figurantes que morreram durante o naufrágio, mas foram ressuscitados nos barcos salva-vidas. Em Matrix, um dos 121 erros apontados estaria na câmera refletida pelas lentes espelhadas dos agentes que tentam capturar Morpheus. Já em Gladiador, os autores do site garantem que viram fumaça saindo de uma carruagem. Até a semana passada, foram catalogados pelo site erros em 1.418 filmes.

Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo em 05/07/2001

Mobilização contra a exclusão digital

Com várias premissas, diretrizes e propostas gerais, já está na Internet, aberto à críticas e sugestões, o documento que servirá de subsídio ao governo para a formulação de políticas contra o analfabetismo digital. Mais de 30 anos separam este movimento de um outro, lançado às vésperas do Natal de 1967, e que prometia erradicar o analfabetismo em 10 anos. Três décadas depois, 16 milhões de adolescentes – e um contigente semelhante de adultos - continuam sem saber ler, mas um número muito maior está sem entender as mudanças radicais introduzidas no seu dia-a-dia pelas novas tecnologias.

A íntegra do documento está em http://www.inclusaodigital.com.br/. Vale a pena ler. O texto é curto, toca em pontos fundamentais, mas também comete alguns excessos. Um deles está na proposta de disponibilizar terminais de acesso (à Internet) e correio eletrônico para “toda a população”. Isso significaria eliminar por completo o chamado fosso digital que hoje separa os seis porcento da população brasileira que têm acesso à Internet do restante dos mortais.
Mas não se detenha demasiadamente nesta questão, que soa apenas como demonstração das boas intenções dos organizadores. O texto foi produzido por quem entende do assunto e representa uma síntese das discussões ocorridas durante a Oficina para a Inclusão Digital realizada no mês passado em Brasília. Em outubro, também na Capital Federal, será realizada a Feira Mundial de Inclusão Digital, quando o documento que está na Internet, complementado com as sugestões recebidas até lá, será transformado no Manifesto para a Inclusão Digital, uma espécie de cartilha para nortear as ações do governo na questão da Inclusão Digital.

Bi-alfabetização

Em vez de cartilhas ou cadernos, computadores estão ajudando na alfabetização de várias pessoas no Paraná e em Santa Catarina. O trabalho está sendo realizado com um software desenvolvido pela Copel (http://www.copel.com/) e que tem na interatividade um elemento de dupla eficácia: ao mesmo tempo em que aprende a ler o aluno se habilita a lidar com o computador, num processo de bi-alfabetização. Os resultados alcançados até agora mostram que com apenas 200 horas de aula é possível um aprendizado equivalente às quatro primeiras séries do ensino regular. Outra vantagem do software utilizado é que ele não necessita de computadores potentes para rodar. O programa chegou à Florianópolis graças a iniciativa de um grupo de funcionários da CEF.

Pluto eletrônico

Um jornal eletrônico utilizado em escolas de várias partes do mundo promete ser a grande atração para a garotada da rede pública de Curitiba já no ensino no início do ano letivo de 2001. O projeto, que permitirá uma maior interatividade entre alunos, professores e a própria comunidade, será implantado com a ajuda do Pluto, um software para edição eletrônica desenvolvido pelo Media Lab (http://www.media.mit.edu/), do Massachussets Institute of Technology (MIT), dos Estados Unidos. A Agência Estado traduziu o programa para o português e o doou à Secretaria Municipal de Educação de Curitiba. Na primeira fase, o Pluto será implantado em 11 escolas e utilizados por alunos 5ª à 8ª séries.

Biblioteca virtual

Dois milhões de alunos matriculados em três mil escolas estaduais de São Paulo terão acesso a partir de outubro a quase dois mil livros de 1.245 autores nacionais e estrangeiros. Para entender melhor o que significam estes números acesse o endereço http://www.ensinomédio.sp.gov.br/, criado pelo governo paulista, como carro-chefe de um programa de formação de bibliotecas escolares voltadas para o ensino médio. Na prática, o site vai funcionar como uma livraria virtual, mas com uma série de vantagens sobre todas as demais.

O site vai reunir um catálogo de obras previamente selecionadas por uma comissão da Secretaria de Educação. Além dos títulos, pais, alunos e professores terão acesso à resenhas e informações detalhadas sobre os autores. Definidos os livros, cada escola poderá encomendar um número de exemplares correspondente ao número de alunos. A compra será feita diretamente pela Secretária de Educação, que destinou para o programa uma verba de R$ 20 milhões, suficiente para a aquisição de algo em torno de três milhões de exemplares. As escolas têm até o dia 10 de agosto para selecionar e encomendar os livros, que deverão ser entregues já em outubro.

Festival de curtas

A BMW decidiu investir forte na Internet e reuniu alguns dos mais badalados nomes de Hollywood para um projeto ambicioso, que inclui a produção de cinco curta-metragens para exibição exclusiva na Web. Entre os diretores envolvidos no projeto, estão David Fincher, de O Clube da Luta); Ang Lee (O Tigre e O Dragão), John Frankenheimer (Ronin) e o mexicano Alejandro González Iñarritu (Amores Brutos). No elenco, além dos carros da montadora alemã, astros como Mickey Rourke, Madonna, Thomas Milian, de Traffic e a top model brasileira, Adriana Lima, estrela do terceiro curta da série, The Follow, dirigida por Wog Kar-Wai. O próximo filme (Powder Keg, dirigido por Iñárritu) chega à Internet na semana que vem, mas todos os anteriores permanecem em exibição no endereço http://www.bmwfilms.com/.

Oito anos de música

A MP3.com está comemorando a marca de um milhão de arquivos musicais, em um catálogo que reúne 150 mil artistas de 180 países. Um comunicado da empresa calcula em 4,25 milhões de minutos o “tamanho” do seu acervo. Para se ter uma idéia do que isso representa, basta lembrar que uma grande gravadora precisaria de oito anos de produção contínua para atingir tal marca. Nas últimas semanas, a empresa lançou novos serviços na tentativa de melhorar o caixa. Um deles, batizado como netCDs, possibilita a compra de CD reais ou virtuais.

Neste último caso, os arquivos escolhidos vão para uma área personalizada, o MyMP3, e poderão ser acessados a partir de qualquer equipamento com acesso à Internet, durante o período da assinatura. Mas o lançamento de novos produtos, todos pagos, não significa uma garantia de reforço no caixa. Um estudo divulgado pela Consumer Electronics Association revela que nove em cada dez usuários da Internet nos Estados Unidos fazem download de arquivos multimídias, mas apenas um em cada dez admite pagar qualquer tipo de taxa pelo acesso. A mesma pesquisa mostra que arquivos de músicas em formato MP3 são copiados por 42% dos usuários da Internet.

Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo em 28/06/2001

2 de abr. de 2009

Rádios buscam caminhos na Internet

Cerca de cinco mil emissoras de rádios, de todo o mundo, marcam presença na Internet, com programas ao vivo ou nem tanto. A qualquer hora do dia ou da noite, você pode ouvir os principais sucessos da música polonesa, acompanhar o noticiário on-line de uma emissora na Macedônia, descobrir como está o trânsito em Moscou, o tempo em Londres e, com um pouco de paciência, torcer pela vitória do seu time onde quer que ele esteja jogando. Fantástico, não é? Mas será isso mesmo que o internauta espera de um site de rádio?

Como muitos outros aspectos na Internet, a resposta não é tão simples. Mas uma boa pista pode estar no ranking mensal da Arbitron, uma empresa especializada em medir a audiência de áudio e vídeo transmitidos pela Internet: entre as 10 emissoras de rádio mais acessadas nos Estados Unidos sete existem apenas no mundo virtual. O número é significativo, principalmente se levarmos em conta que as emissoras tradicionais representam mais de 80% dos endereços www de rádio.

E esta não parece ser uma situação passageira. Desde que o ranking foi divulgado pela primeira vez, em outubro de 99, as emissoras virtuais têm aparecido no topo das listas de audiência. Para os analistas da Arbitron, talvez seja um sinal de que os internautas estão em busca de uma programação que não está disponível nas rádios tradicionais.

E como nunca existiram na forma tradicional, as chamadas rádios “internet-only” não puderam levar para a rede um modelo já existente. Tiveram que inovar no conteúdo, na linguagem e, principalmente, na montagem de grades de programação mais próximas não do ouvinte tradicional de rádio, mas do internauta ávido por explorar as maravilhas da multimídia.

Uma outra conclusão possível é a de que, com os seus sites normais, as emissoras tradicionais demonstram uma preocupação até certo ponto compreensível, mas talvez não tão eficiente: atender ao ouvinte habitual, ao invés de perseguir um público novo, que amplie a audiência, sem que isso signifique mudanças de foco na programação.

Faltam pesquisas neste sentido, mas o perfil do rádio-internauta tem se revelado bem diferente do ouvinte tradicional. A começar pela faixa etária. Boa parte do público que coloca as rádios virtuais no topo dos rankings de audiência tem entre 12 anos e 24 anos. Não é coincidência o fato de ter sido esta mesma turma a responsável pelo sucesso estrondoso dos sistemas de troca de arquivos MP3, que teve no Naspter o seu maior representante.

Uma rádio tradicional com este perfil de público talvez tivesse dificuldades na montagem de uma estratégia comercial de longo prazo. Mas na Internet, ignorar tal público é desprezar uma parcela significativa da audiência. Uma parcela que, na prática, representa a primeira geração genuinamente internauta.

Beethoven.com

A julgar pelos números, público não parece ser o problema da rádio on-line, ao contrário do que ocorre com outros serviços e conteúdos existentes na Internet. No mês passado, algo em torno de 18 milhões de americanos ouviram rádio pela Rede. No total, as 2.300 emissoras auditadas pela Arbitron geraram uma audiência equivalente a 17 milhões de horas em março, um número três vezes maior do que o registrado há dois anos.

Pelo terceiro mês consecutivo, o primeiro lugar no ranking ficou com a Beethoven.com (http://www.beethoven.com/), com 741 mil horas de audiência. A NetRadio (http://www.netradio.com/), outro gigante virtual, conseguiu emplacar dois canais entre as dez estações mais acessadas (NetRadio - 80s Hits, com 293 mil horas, e NetRadio - Smooth Jazz, com 200 mil horas de conexão).

Monte uma rádio

A metodologia é bem diferente daquela adotada nos Estados Unidos, mas quem quiser saber como anda a audiência das emissoras de rádio na Internet brasileira tem um bom ponto de partida no http://www.radios.com.br/. Além do ranking das 100 mais acessadas no Brasil, o site oferece um banco de dados com quase 5 mil emissoras cadastradas, com um sistema de busca por país ou por tipo de programação. O site também apresenta um verdadeiro passo-a-passo para quem quiser montar uma rádio na Internet, inclusive com o download gratuito de alguns softwares necessários para a transmissão de áudio on-demand ou ao vivo.

Semelhanças

Se existem diferenças, também existem coincidências. A maioria das pessoas ouve rádio enquanto realiza outras atividades. A diferença é que, no caso do rádio on-line, as atividades complementares geralmente estão ligadas ao próprio computador.

Europarada

Quem gosta de música pop e quer estar em dia com o que toca nas principais rádios da Europa não precisa sair por aí de site em site. Em um só endereço é possível ouvir – e baixar - as 40 mais do Velho Continente. O Europarada (http://www.europarada.nl/) é um programa da Rádio Nederland (http://www.rnw.nl/) apresentado simultaneamente em inglês, francês, espanhol e português. A versão em português, por sinal, é produzida pelo jornalista Luís Henrique de Freitas Pádua, nascido em Franca, São Paulo, e há 13 anos radicado na Holanda. Por e-mail, ele define a Europarada como uma espécie de União Européia no campo da musica pop-internacional, por reunir as músicas mais tocadas em 18 países do continente. O programa é distribuído gratuitamente à emissoras de rádio de todo o mundo – 400 delas no Brasil - o que faz do programa um dos mais ouvidos na Internet. Ponto para as rádios convencionais.

Televisão ou internet?

Se você tivesse de optar entre o aparelho de televisão e o computador com acesso à Internet com qual ficaria? Agora tente imaginar qual seria a opção escolhida pelo seu filho ou por aquele sobrinho adolescente. Se você respondeu que ficaria com a televisão, mas demonstrou dúvida com relação à segunda pergunta, é provável que tenhamos muita coisa em comum.

Uma pesquisa – a primeira do gênero – realizada pela Edison Media Research revelou que três em cada dez internautas nos Estados Unidos abriria mão da TV para permanecer conectado à Web. Isso significa que algo em torno de 16 milhões de pessoas não teriam dúvidas em abandonar a TV para ficar exclusivamente com o computador. Os responsáveis pela pesquisa consideraram os resultados “significativos”, tendo em vista que a televisão está completando meio século de existência, enquanto a web apenas ensaia os seus primeiros passos.
Como toda estatística, esta também permite uma dupla interpretação. Ao ouvir pessoas que simultaneamente navegam pela Internet e assistem televisão, a pesquisa da Edison poderia ser entendida como uma desilusão dos internautas com o mundo web. Afinal, sete em cada dez deles abririam mão do computador se tivessem de optar entre a Internet e a televisão. Mas como a TV digital vem por aí, é provável que você e eu jamais tenhamos de fazer tal opção.

Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo em 21/06/2001

Monteiro Lobato e a Internet

O brasileiro tem dedicado cerca de 486 minutos do seu tempo livre mensal conectado à Internet. São quase seis milhões de pessoas que permanecem em média oito horas em casa na frente de um computador. É um número considerável. Dá algo em torno de 34 bilhões de minutos de conexão e muitos milhões de dólares debitados anualmente na conta telefônica do UAI – o tal Usuário Ativo da Internet.

Para o perfil do brasileiro, é prematuro afirmar-se quanto deste tempo seria dedicado à novela das oito ou à leitura de um bom livro não fosse a Internet. Até porque, ao contrário do que se apregoava até recentemente, o internauta continua lendo jornais e revistas, assinando TV a cabo e indo ao cinema. Não se isolou e nem foi tragado pelos fantasmas do mundo virtual.

Os números mais recentes sobre o comportamento do usuário diante de uma tela de computador apontam nesta direção. O de sites que simplesmente deixaram de existir nos últimos meses, também. Com a melhoria dos serviços, tarifas telefônicas mais baixas e a ampliação da banda larga é possível que o usuário se torne mais seletivo ainda, fazendo com que a oferta de conteúdos de boa qualidade aumente na mesma proporção.

A separação do joio do trigo virtual ocorre naturalmente. Basta comparar o conteúdo que existia na Internet há quatro anos com o que existe hoje. Uma boa dica para isto seria pesquisar em um bom site de buscas quantas vezes um determinado tema aparece disponível na Internet brasileira. A consulta que acabei de fazer revelou, por exemplo, quase 14 mil referências a Monteiro Lobato.

Refinei a pesquisa e alguns minutos depois, estava de posse das resenhas dos 23 livros escritos por Lobato. Um pouco mais de paciência e descobri um site que chega ao requinte de apresentar os perfis psicológicos dos sete personagens fixos criados pelo escritor. Teria parado por aí, não fosse um curioso despacho do administrador da Casa de Detenção de São Paulo.

"Liberdade em 20.06.41 de conformidade com os dizeres do ofício de 20.06.41, do dr. delegado de Ordem Política e Social e conforme os dizeres do telegrama nº 2.237 expedido pelo juiz-presidente do Tribunal de Segurança Nacional, visto haver sido, por decreto do exmo. sr. dr. presidente da República, datado de 17.06.41, indultado do resto da pena de seis meses de prisão celular que lhe foi imposta pelo delito contra a Segurança Nacional".

A julgar pelo tempo que permaneci conectado e pelo volume de informações que recolhi, fica a impressão de que Monteiro Lobato influenciará as próximas estatísticas da Internet brasileira.

Confissões e pecados virtuais

O Vaticano está concluindo um documento para deixar mais clara a sua posição em relação à Internet. Alguns pontos parecem consensuais: a Igreja considera que a Internet apresenta mais pontos positivos do que negativos e que pode ser uma eficiente ferramenta de evangelização, principalmente nas sociedades que dificultam a prática religiosa. Mas não quer nem ouvir falar em confissões ou perdões on-line.

Pelo sim, pelo não, pode ser um alerta a determinados sites que tem avançado um pouco neste terreno, como o http://www.theconfessor.co.uk/, que simula todo o rito confessional e dá ao usuário a opção de confessar seus pecados silenciosamente ou digitando-os em um formulário próprio. A penitência virtual imposta varia, de forma aleatória, sem levar em conta a intensidade do pecado confessado.

Por falar em sites religiosos, o http://www.catolicanet.com.br/ oferece aos seus usuários um serviço original: acender velas virtuais, em ação de graças alcançadas. Na segunda-feira, 174 velas estavam “acessas” no site. O endereço também oferece um noticiário atualizado sobre fatos e personagens ligados à Igreja católica no Brasil e no mundo.

Espertalhões

Pelo visto, tem alguns picaretas nos Estados Unidos de olho nas regras definidas pelo governo brasileiro para o racionamento de energia elétrica. Nos últimos dias, têm circulado entre internautas brasileiros um e-mail oferecendo um certo “guia secreto de medidores de serviços públicos”. Na prática, o tal guia se propõe a ensinar truques para fazer com que o relógio que mede o consumo de energia elétrica passe a girar em sentido contrário, “proporcionando uma fantástica economia”.

Para conseguir o tal manual secreto, tudo que o consumidor brasileiro precisa fazer é enviar um cheque para uma caixa postal em Los Angeles. A cara-de-pau do anônimo vendedor, pelo visto, não tem limite, a julgar pelo parágrafo final da mensagem. “Observe que esta informação em si é perfeitamente legal, embora o uso de algum serviço contido nela possa ser caracterizado como ilegal”. Na dúvida, o espertalhão sugere que o interessado consulte “as leis locais”.

Download gratuito pode ser isca

Por enquanto, não há notícias de que esteja acontecendo por aqui, mas convém prestar atenção no alerta feito nos Estados Unidos por entidades de defesa do consumidor: baixar software gratuito na Internet pode sair bem caro. De acordo com a Liga de Defesa do Consumidor, tem crescido o número de queixas de pessoas que foram atraídas por sites arapucas e acabaram surpreendidas com o tamanho da conta telefônica.

A fraude funciona assim: alguém está conectado à Internet por meio do seu provedor habitual – portanto pagando o custo de uma ligação local – e acaba atraído por uma oferta de vídeo (normalmente de sexo) ou mesmo um aparentemente inofensivo game. Ao começar o download surge um aviso de que a conexão foi interrompida e que é preciso clicar em ok para reiniciá-la. É aí que a fraude ocorre, pois a nova conexão é feita em um servidor localizado em outro País. Vários minutos depois, o download é concluído e a conexão encerrada. Você ganhou o vídeo e uma bela conta telefônica.

Voluntário premiado

O Portal do Voluntário (http://www.portaldovoluntário.com.br/) está na final do Stockholm Challenge Award 2001 (http://www.challenge.stockholm.se/), uma versão eletrônica do Prêmio Nobel, destinado a premiar iniciativas na área de Internet em todo o mundo. Este ano, 742 projetos de 90 países foram analisados pelos jurados. Na primeira fase, 27 sites brasileiros foram pré-selecionados, mas na relação dos 100 finalistas divulgada na semana passada, ficou apenas o site criado em parceria entre a Rede Globo e o Programa Comunidade Solidária. Os vencedores em cada uma das sete categorias serão conhecidos em setembro, em Estocolmo.

Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo em 14/6/2001

1 de abr. de 2009

Nos museus, espaço para a arte digital

O cinema aderiu há muito tempo. A literatura também. Agora chegou a vez do restrito universo das artes plásticas ceder aos encantos da Internet. O namoro ainda é tímido, mas o primeiro passo foi dado e alguns museus importantes resolveram abrir espaço para a arte digital e incluir em seus calendários exposições de obras produzidas exclusivamente para o mundo virtual. São trabalhos que só podem ser visualizados a partir de um computador, em casa ou no próprio museu, em ambientes especiais.

Claro, ainda não apareceu um Goya (1746-1828), um Velázquez (1599-1660), um Renoir (1841-1919) ou um Rembrandt (1606-1669) dessa nova era digital – e é provável mesmo que nunca apareça. Por enquanto, nomes como Jon Haddock, Marina Rosenfeld, Jeremy Blake, Erik Adigard e Mark Napier (todos nascidos a partir de 1960) aparecem como os expoentes de uma nova geração de artistas que trocaram átomos por bits. Com uma certa dose de polêmica, é verdade.

O San Francisco Museum of Modern Art e o Whitney Museum of American Art, de Nova York, foram os primeiros a encomendar trabalhos para exposições on-line, dentro ou fora do ambiente físico ocupado por cada um deles. São obras criadas exclusivamente para o mundo virtual disputando espaço e atenção com outras expressões artísticas, para desespero dos tradicionalistas e aplausos dos mais novos. Polêmicas à parte, as exposições on-line de ambos têm sido um sucesso, dentro e fora da Internet.

No Whitney (http://www.whitney.org/), as exposições Bitstreams e Data Dynamics foram desenvolvidas para a Internet, mas são apresentados como instalações no próprio espaço físico do museu. Pela Internet, no aconchego de sua casa, apenas uma versão on-line, mais comportada e menos controversa. No total, 50 artistas expõem 80 trabalhos criados com o auxílio de modernos softwares e com linguagens e estilos estranhos para quem está chegando agora. DHTML e Java Script se encarregam pela forma emoldurada em modernos monitores de plasma líquido de 50 polegadas. Um ultraje, diriam alguns.

No San Francisco Museum (http://www.sfmoma.org/) a defesa da arte digital é mais explícita e, talvez por isso, mais engajada. Seus curadores lembram que a última década marcou definitivamente a presença da tecnologia no dia a dia das pessoas e que na arte contemporânea não poderia ser diferente. O raciocínio é límpido: se cada vez mais artistas adotam novas tecnologias em estúdios, era natural que elas chegassem aos museus. E no caso do SF, pela porta da frente, com a decisão de seus administradores de reservarem um espaço nobre para a arte virtual. A exposição "010101: Arte in Technological Times" (http://010101.sfmoma.org/), em cartaz por mais 30 dias, só pode ser visualizada pela Internet.

Arte digitalizada

Se você está entre aqueles que acha que um robozinho simpático ficaria melhor passeando em uma feira de tecnologia do que no piso lustrado de um museu, não se preocupe. Muita gente pensa como você. A sugestão neste caso é dar uma olhada nos sites de museus tradicionais, que continuam ampliando suas presenças na Internet, mas sem abandonar aquilo que têm de melhor: um acervo fantástico, cada vez mais acessível a milhões de pessoas em todo o mundo.

O Museu do Prado (http://www.museoprado.mcu.es/), em Madrid, por exemplo, oferece aos internautas uma fascinante visita virtual a 50 entre as principais obras de seu catálogo, em um roteiro repleto de informações complementares sobre a vida e o estilo dos mestres selecionados. Explicitamente montado com foco na Internet, a seleção de obras não obedece a um percurso linear, o que permite uma navegação entre escolas ou estilos afins, indiferente ao fato de tais obras estarem expostas em galerias distantes uma das outras. Nesta espécie de hipertexto cultural uma informação leva à outra, permitindo aos não especialistas um entendimento que dificilmente teriam "ao vivo".

Com os seus 130 anos de existência, o tradicional Metropolitan Museum (http://www.metmuseum.org/), em Nova York, oferece outro bom exemplo da facilidade propiciada pela Internet. Experimente achar ao vivo uma entre dois milhões de obras incluídas em seu acervo, sem um sistema inteligente de busca por autor ou por palavra-chave. Uma comodidade adicional: você pode fazer uma navegação rápida enquanto vai assinalando o que quer apreciar depois com mais calma. A seleção é arquivada em uma área especial do site, possibilitando a criação de "galerias particulares". Cerca de 3.500 obras estão disponíveis para consulta no Metropolitan.

O Museu do Louvre (http://www.louvre.fr/), em Paris, também oferece um confortável (e econômico) passeio virtual por diversas galerias. Basta escolher o roteiro e mergulhar em um dos acervos mais fantásticos da história da arte. Para apreciação on-line estão disponíveis 1.500 trabalhos distribuídos em 350 salas do Louvre. Uma área do site reserva um espaço especial para professores e estudantes, com centenas de biografias e farto material sobre as grandes civilizações. Diariamente, cerca de 10 mil pessoas acessam o endereço. Até agora, nenhuma delas encontrou pela frente o robozinho simpático citado lá em cima.

Até tu, Goya?

A polêmica andava adormecida, mas agora explodiu com pompa e circunstância na Internet (http://www.estrelladigital.es/). Em entrevista à revista El Periodico del Arte, a historiadora britânica Juliet Wilson-Bareau afirmou que os quadros El Coloso e La Lechera de Burdeos, atribuídos ao mestre espanhol Francisco de Goya e que fazem parte da valiosa coleção do Museu do Prado, foram pintados por outra pessoa. A direção do museu tentou desmentir, mas teve de voltar atrás e agora admite que também tem dúvidas sobre a autenticidade dos quadros.

Mas se não foi Goya, quem pintou El Colosso e La Lechera? As suspeitas recaem sobre Rosario Weiss, uma suposta filha, não citada na biografia oficial do mestre espanhol. Mas Juliet sugere uma profunda investigação sobre outros três nomes: Agustín Esteve e Asensio Juliá, que durante um bom período foram ajudantes de Goya; e Leonardo Alenza, tido como um imitador do grande mestre espanhol.

Por enquanto, o Museu do Prado mantém os dois quadros em exposição, mas anunciou que não mais irá incluí-los em seus catálogos e tampouco cedê-los para exposição em outros museus. Já o site oficial do pintor espanhol (http://goya.unizar.es/), organizado pela Universidade de Zaragoza, continua alheio à polêmica. Ali, tanto El Coloso (pintado entre 1808 e 1812) quanto La Lechera de Burdeos (1825) continuam fazendo parte da relação de 355 obras atribuídas a Goya.

Museu fantasma

Steve Baldwin é uma espécie de caçador de sites fantasmas e nos últimos meses têm tido muito trabalho. Ele passa os dias mergulhado no noticiário relacionado à chamada nova economia em busca de material para o seu site, The Museum of E-Failure, algo como o museu da falência. No endereço www.disobey.com/ghostsites, Baldwin coleciona centenas de homepages de empresas que já foram destaques na Internet, mas que desapareceram vítimas da crise que atingiu a Nasdaq. Apenas em maio, 56 novos ex-endereços foram acrescentados à longa lista do E-Failure. O “colecionador” garante que o objetivo do museu é mesmo o de homenagear as empresas que, apesar do pouco tempo de existência, contribuíram, de uma forma ou de outra, para o fortalecimento da Internet. Um detalhe: para não ser apanhado de surpresa, o caça-fantasmas costuma capturar telas de prováveis candidatos a um lugar no museu.

Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo em 07/06/2001

Rocinha on-line

A Rocinha já foi conhecida como a maior favela da América Latina, antes de ser transformada em uma espécie de cartão postal social e atrair boa parte do turismo politicamente correto. Agora, desperta a atenção de pesquisadores, banqueiros e empresários do setor de tecnologia e está a um passo de se tornar o primeiro bairro 100% on-line do País, 24 horas por dia.

O plano é ambicioso. Interligar 33 mil casas e 2.500 estabelecimentos comerciais localizados morro acima em uma rede capaz de suportar as tecnologias mais avançadas de telefonia, transmissão de dados, Internet, vídeo-on-demand e multimídia. Prazo para que isso aconteça: algumas semanas.

Mágica? Filantropia? Nada disso. Todos os planos de investimentos tomam por base pesquisas que apontam um verdadeiro filão de oportunidades junto às classes C e D, até bem pouquíssimo tempo desprezadas pela chamada nova economia. E na Rocinha, mais do que em qualquer outro lugar, os requisitos para que a tecnologia contribua de fato para a melhoria da qualidade de vida já estão presentes.

Tudo é surpreendente neste morro genuinamente classe D, que divide pelo alto a Gávea e São Conrado, na Zona Sul do Rio de Janeiro. O contraste e a beleza vistos lá de cima talvez expliquem a visita de 15 mil turistas estrangeiros anualmente. Mas é o que ocorre no dia a dia dos moradores da Rocinha que, de fato, chama a atenção e mostra uma faceta pouco conhecida aos brasileiros e que nada tem a ver com estatísticas policiais, típicas de outras áreas carentes do País.

Com quase 200 mil moradores, renda familiar na faixa de R$ 500 e um índice de inadimplência praticamente zero (oscila entre 1% e 2%), a Rocinha talvez seja o único bairro do mundo onde o comprovante de residência é fornecido por uma operadora de TV por assinatura. Nove em cada dez casas do bairro estão a apenas alguns metros de conexão a uma rede de cabo ótico e coaxial. Não há uma rua, beco ou poste da Rocinha que não contenha a plaqueta de identificação da TV ROC (http://www.rocinha.com.br/), uma parceria entre a NET Rio e uma empresa de comunicações dirigida por um empresário argentino.

Apenas no cabeamento e na implantação do sistema fechado de TV foram gastos mais de US$ 3 milhões. No bairro, já funcionam duas emissoras locais de rádio e três jornais. A agência local da Caixa Econômica Federal, recentemente ampliada, movimenta 4 mil contas de poupança, com saldo total de R$ 2,5 milhões. Entre os 2.500 estabelecimentos comerciais, 2.300 estão nas mãos de microempresários, quase todos moradores da própria Rocinha.

Claro, nem tudo é maravilha. Ali, o índice de residências com pelo menos um aparelho de televisão chega a 97%, mas a penetração do telefone é de apenas 4%. Quatro escolas funcionam no bairro, incluindo um campus avançado de uma universidade - mas o índice de analfabetismo ainda é de 11% - a mesma taxa de moradores regularmente matriculados em um curso superior.

Para colocar a Rocinha on-line basta pouco. A Prefeitura, a PUC, a TV ROC e alguns gigantes do setor tecnológico, entre vários outros envolvidos nas negociações, articulam uma política de parcerias que permitam não apenas montar e administrar a rede, mas também oferecer aos moradores do bairro computadores pessoais a uma faixa de preços em torno de R$ 500. O custo de conexão seria simbólico, da ordem de R$ 0,50 por hora, conforme estimativa de alguns dos envolvidos no projeto.

E-mails para Marte

Parece filme de ficção científica, mas é pura realidade. Mandar um e-mail para Marte ou para qualquer outro ponto além da órbita terrestre ficou, digamos, mais fácil. A InterPlaNetary Internet (IPN) concluiu e já repassou à Internet Engineering Task Force, o órgão responsável pela aprovação de normas para a Internet, um novo protocolo que começará a ser testado nas missões futuras da Nasa, a agência aeroespacial dos Estados Unidos. Definido o novo protocolo, ou seja, a forma como pacotes de dados serão organizados, recebidos e transmitidos, o próximo passo consiste na criação de uma rede de comunicação entre satélites, veículos espaciais e até planetas, interligados, por sua vez, à Internet terrestre.

De agora em diante, cada missão espacial da Nasa levará equipamentos padronizados que permitam a comunicação por meio do novo protocolo. Até 2010, pelo menos sete destes roteadores interplanetários deverão estar instalados. Para saber mais sobre a Internet planetária, um bom ponto de partida é o endereço http://www.ipnsig.org/. Outro é assistir a palestra de Edgar Dean Mitchell, no 7º Congresso Internacional sobre Tecnologias Inteligentes e Redes Globais, na primeira semana de julho, em São Paulo. Mitchell, piloto espacial e um dos integrantes da missão Apollo 14, foi o sexto homem a pisar no solo lunar. Com uma bagagem de 216 horas de vôo espacial, ele virá ao Brasil para falar sobre “O Futuro da Tecnologia e das Redes Globais no Planeta Terra e no Universo”.

Tostão

Uma pepita de ouro de 64 quilos – a maior já encontrada no Brasil – e uma moeda, também de ouro, cunhada em 1822 para comemorar a coroação de D. Pedro I, são algumas das raridades que fazem parte do acervo do Banco Central. Na área do site do banco destinada ao público infanto-juvenil (www.bacen.gov.br/htms/bcjovem) é possível reunir uma série de informações úteis, principalmente para compor uma boa pesquisa escolar. Entre as atrações do site, um passeio virtual pelo Museu de Valores e uma infinidade de moedas e cédulas do mundo inteiro, além de jogos e vídeos. Boa parte da imagens pode ser baixada para uso como papel de parede ou ilustração de um trabalho escolar, desde que se tenha uma boa dose de paciência: algumas “páginas jovens” do site do Bacen precisam urgentemente de uma dieta. A foto da coleção de medalhas raras tem 121 Kb e demora uma eternidade até aparecer por inteira na tela.

Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo em 31/05/2001

Internet pela tomada elétrica... Agora?

As incertezas provocadas pelo racionamento e o mau humor coletivo que virá junto com as novas contas de luz poderão ofuscar um pouco o brilho de uma experiência que, se aprovada, poderá representar um grande passo para a ampliação do uso da Internet no Brasil. A Companhia Paranaense de Energia Elétrica (http://www.copel.com/) começa a testar agora em junho o acesso à Internet por meio dos cabos já existentes na rede pública de energia elétrica.

Isto mesmo. Quilowatts e bits trafegando juntos pela primeira vez no País e chegando à casa do usuário em tomadas comuns, dessas utilizadas para ligar uma torradeira ou um aparelho de TV. Os testes, em 50 residências de Curitiba, já definidas, deveriam começar esta semana, mas foram adiados para o mês que vem. A Copel alega que o pequeno atraso foi motivado por problemas burocráticos na importação dos equipamentos que ficarão responsáveis pela decodificação dos sinais digitais.

O aparelho, batizado de PLC, iniciais de Powerline Communication, está sendo trazido da Alemanha, e foi desenvolvido pela RWE Plus (http://www.rwe-powerline.de/). Em março, ele foi apresentado pela primeira vez na Feira de Hannover. A Copel se interessou e assinou uma parceria com os fabricantes para estudar a viabilidade técnica e financeira de sua implantação no Paraná.

A fase de testes deverá durar seis meses. Todos os 50 escolhidos para a experiência já acessam a Internet por meios convencionais – linhas telefônicas discadas ou mesmo banda larga. Além dos aspectos tecnológicos, a Copel quer que os próprios usuários comparem o desempenho do novo sistema. Os testes em laboratório mostraram que o PCL possibilita conexões de até 2 Mbps, quase 40 vezes mais do que a obtida hoje com um bom acesso discado.

Por aqui, a Copel ainda não fala em preços. Na Alemanha, onde o acesso à Internet por meio de fios elétricos começa a ser oferecido em escala comercial no segundo semestre, a assinatura mensal deverá custar o equivalente a R$ 50 para o serviço básico, podendo chegar a R$ 100, no caso da tarifa plena, sem limites para o usuário. Esses preços não incluem o decodificador de sinais (o PLC), que será vendido à parte por algo em torno de R$ 200 a R$ 400 – sempre tomando-se por referência os valores em marcos alemães.

Mas a expectativa maior é com a possibilidade que se abre: romper o gargalho que representa a chamada última milha, aquele trecho que fica entre a nossa casa e uma central de telecomunicações de última geração - dotada das mais modernas tecnologias para processar e distribuir os sinais recebidos de satélites ou de uma rede ótica milionária.

Racionamentos a parte, além de não dar para comparar a quantidade de tomadas elétricas com o número de aparelhos telefônicos, o sistema que será testado em Curitiba abre um leque vastíssimo de aplicações práticas. A imaginação passa a ser o limite para algumas comodidades que até bem pouco tempo não passavam de meras possibilidades ou de exercícios futurísticos – como a administração doméstica à distância.

Imagine-se conectando-se do escritório ou de um terminal público ao seu computador caseiro para desligar lâmpadas esquecidas acessas ou acionar o microondas. Bom, não é? E se o fio que leva a eletricidade é o mesmo por onde trafega dados, em pouco tempo você poderia até mesmo dispensar o computador e “acessar” diretamente a geladeira ou o frezzer - por que não? – para saber se no caminho de casa terá de passar antes pelo supermercado.

Liga-e-desliga

Não dá para se fazer de desentendido: todo mundo perde com o racionamento de energia elétrica. Alguns mais, outros menos. A Internet também não ficará de fora. Seria muita presunção achar que na hora do liga-e-desliga o computador pessoal ficaria imune. Até agora, o tamanho da conta telefônica era o limite, o que favorecia a navegação altas horas da noite, quando as tarifas caem significativamente. Mas o relógio que mede o consumo de energia elétrica não pára durante as madrugadas. E com o computador desligado, cai a audiência da Internet como um todo – e mais ainda para os sites e portais que têm grande parte do seu público na linha do caseiro e noturno.

Vamos anotar para conferir daqui a algumas semanas: o tempo médio de conexão à Internet em abril, de acordo com o estudo Júpiter Media Metrix, foi de 59,5 minutos diários para cada um dos 5,8 milhões de usuários que acessaram um endereço www no período. Como esses números referem-se apenas ao usuário doméstico, exatamente o que se verá mais atingido pela necessidade de redução no consumo de energia elétrica, qualquer variação para baixo será creditada ao “apagão”. Em tempo: um computador ligado (monitor incluído) equivale, em média, a um consumo de três lâmpadas de 100 watts.

Vídeo Cassete e DVD

A venda de vídeo-cassetes caiu 25% no primeiro trimestre deste ano em relação ao período outubro a dezembro do ano passado. E se manteve estável em relação aos primeiros três meses de 2000. Em compensação, as vendas de DVD mantiveram o ritmo de alta iniciado em meados do ano passado. De janeiro a março, foram vendidos 84 mil novos aparelhos, quase a metade do total vendido ao longo do ano passado. Pelas estatísticas dos fabricantes (http://www.eletros.org.br/) o DVD já está presente em 300 mil residências.

Computador e fogão

O governo fez uma comparação premonitória ao anunciar o ambicioso – e louvável – plano de massificação da Internet: a de que ainda este ano computadores seriam vendidos no País a preço de fogão. Só que um é a gás e, portanto, está livre dos efeitos do racionamento de energia. É cedo para garantir, até porque é difícil dizer quanto tempo de trevas teremos pela frente, mas o racionamento pode atrapalhar os planos de diminuição do chamado fosso digital.

Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo em 24/5/2001