3 de abr. de 2009

Rei Viking ajuda Lara Croft a derrotar vilões


Há dez séculos, Harald Bluetooth, um grande rei Viking, uniu a Dinamarca e a Noruega. Conquistou o seu lugar na história, mas passou uma longa temporada esquecido até que ressurgiu de forma secundária em pleno Tomb Raider. Não é o que parece. No filme, Lara Croft, também uma heroína, só que do bilionário mundo dos games, não se envolve com bárbaros escandinavos. Apenas foi escolhida para apresentar uma novíssima tecnologia, recém saída do forno.

O nome do rei viking começou a ser resgatado em 98, quando um grupo de grandes fabricantes de computadores e do setor de telecomunicações anunciou que estava trabalhando no desenvolvimento de uma nova tecnologia, batizada sob o código de Bluetooth – ele mesmo, o pacificador de dentes azuis. A idéia era simples: permitir que um telefone celular realmente ‘’falasse’’ com computadores, impressoras, filmadoras ou quaisquer equipamentos eletrônicos, usando baixas frequências de rádio. Tudo sem fios.

Primeiro foi estabelecido um padrão a ser seguido por todos os fabricantes (www.bluetooth.com). Hoje, chega a 275 o total de produtos e aplicações desenvolvidos desde então com base na nova tecnologia, incluindo o Headset e o Communicator, fabricados pela Ericsson, que a mocinha de Tomb Raider utiliza para manter-se conectada a Bryce, o seu guia tecnológico, enquanto esmurra uns e atira em outros.

Bluetooth é uma tecnologia invisível - você quase não percebe e quando usa acha tudo muito natural. Imagine-se num taxi, com alguém ligando pelo celular para informar que um relatório importante foi enviado para a sua caixa postal. Sem interromper a ligação, você aciona o notebook por meio de sinais de rádio, abre a mensagem, faz algumas correções e devolve o documento por email. Não é coisa do futuro. As tralhas que ajudam a garantir a sobrevivência de Lara Croft na telona foram lançadas comercialmente no início do ano em alguns mercados da Europa e da Ásia. Logo chegarão por aqui.

E com elas, novas perspectivas, como a ‘’massificação’’ de redes locais sem fios, potencializadas pela tecnologia Bluetooth. Se o taxi do exemplo acima estiver circulando em Cingapura, o cenário pode ser ainda mais promissor. Cerca de 500 deles estão sendo equipados, experimentalmente, com uma rede local pessoal – uma PAN, de Personal Area Network - que, por sua vez, estará conectada a outras redes públicas. A partir daí, a imaginação – e não mais fios ou cabos - passa a ser o limite.

Chips em animais


O uso de microchips em animais domésticos chegou mesmo. Seguindo uma prática já comum em diversos países – em alguns deles de forma obrigatória – algumas cidades brasileiras começam a adotar programas de implante de chips eletrônicos, em parceria com sociedades protetoras dos animais ou de medicina veterinária. Os microchips, do tamanho de um grão de arroz, são injetados sob a pele do cão ou do gato com o auxílio de uma agulha e contêm informações sobre o tipo sanguíneo, endereço e histórico médico, entre outras, que formam o ‘‘RG’’ do animal.

Cada chip possui um código individual, gravado a laser e encapsulado em vidro cirúrgico, mesmo material usado em marca-passo. A leitura do código é feita por um scaner que emite um sinal de rádio de baixíssima frequência. Os códigos são arquivados em bancos de dados, permitindo, por exemplo, a rápida localização do proprietário de um animal perdido. Por aqui, o custo de implantação do tal chip varia entre R$ 40 e R$ 70. Em Buenos Aires, onde um programa semelhante está previsto para ter início ainda este mês, a identificação eletrônica de cães e gatos será gratuita, mas obrigatória.

Chipes em seres humanos

Para quem não se lembra ou tem dúvidas sobre onde deverão nos levar iniciativas como estas, podemos recordar dois exemplos relativamente recentes. Em meados do ano passado, jornais europeus divulgaram uma experiência realizada por um especialista que implantou no antebraço um microchip com informações que lhe permitiriam, por exemplo, acessar e movimentar sua conta em terminais bancários.

O outro exemplo é doméstico e mais inquietante. No final de 97, o artista plástico carioca Eduardo Kac, professor de arte eletrônica na The School of the Art Institute of Chicago, causou polêmica ao implantar em seu tornozelo esquerdo (http://www.ekac.org/) um microchip semelhante aos que estão sendo utilizados atualmente em cães e gatos. O chip continha um número com nove dígitos – registrado pela Internet num banco de dados norte-americano.
Alguns críticos interpretaram a iniciativa como um alerta contra possíveis formas de vigilância e controle sobre o ser humano. Outros, acreditaram tratar-se de uma demonstração antecipada de uma espécie de mutação biológica, onde memórias digitais (os chips) são implantadas para complementar ou substituir as nossas próprias memórias (o DNA). Tudo sem fios.


Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo em 12/07/2001

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