2 de abr. de 2009

Rádios buscam caminhos na Internet

Cerca de cinco mil emissoras de rádios, de todo o mundo, marcam presença na Internet, com programas ao vivo ou nem tanto. A qualquer hora do dia ou da noite, você pode ouvir os principais sucessos da música polonesa, acompanhar o noticiário on-line de uma emissora na Macedônia, descobrir como está o trânsito em Moscou, o tempo em Londres e, com um pouco de paciência, torcer pela vitória do seu time onde quer que ele esteja jogando. Fantástico, não é? Mas será isso mesmo que o internauta espera de um site de rádio?

Como muitos outros aspectos na Internet, a resposta não é tão simples. Mas uma boa pista pode estar no ranking mensal da Arbitron, uma empresa especializada em medir a audiência de áudio e vídeo transmitidos pela Internet: entre as 10 emissoras de rádio mais acessadas nos Estados Unidos sete existem apenas no mundo virtual. O número é significativo, principalmente se levarmos em conta que as emissoras tradicionais representam mais de 80% dos endereços www de rádio.

E esta não parece ser uma situação passageira. Desde que o ranking foi divulgado pela primeira vez, em outubro de 99, as emissoras virtuais têm aparecido no topo das listas de audiência. Para os analistas da Arbitron, talvez seja um sinal de que os internautas estão em busca de uma programação que não está disponível nas rádios tradicionais.

E como nunca existiram na forma tradicional, as chamadas rádios “internet-only” não puderam levar para a rede um modelo já existente. Tiveram que inovar no conteúdo, na linguagem e, principalmente, na montagem de grades de programação mais próximas não do ouvinte tradicional de rádio, mas do internauta ávido por explorar as maravilhas da multimídia.

Uma outra conclusão possível é a de que, com os seus sites normais, as emissoras tradicionais demonstram uma preocupação até certo ponto compreensível, mas talvez não tão eficiente: atender ao ouvinte habitual, ao invés de perseguir um público novo, que amplie a audiência, sem que isso signifique mudanças de foco na programação.

Faltam pesquisas neste sentido, mas o perfil do rádio-internauta tem se revelado bem diferente do ouvinte tradicional. A começar pela faixa etária. Boa parte do público que coloca as rádios virtuais no topo dos rankings de audiência tem entre 12 anos e 24 anos. Não é coincidência o fato de ter sido esta mesma turma a responsável pelo sucesso estrondoso dos sistemas de troca de arquivos MP3, que teve no Naspter o seu maior representante.

Uma rádio tradicional com este perfil de público talvez tivesse dificuldades na montagem de uma estratégia comercial de longo prazo. Mas na Internet, ignorar tal público é desprezar uma parcela significativa da audiência. Uma parcela que, na prática, representa a primeira geração genuinamente internauta.

Beethoven.com

A julgar pelos números, público não parece ser o problema da rádio on-line, ao contrário do que ocorre com outros serviços e conteúdos existentes na Internet. No mês passado, algo em torno de 18 milhões de americanos ouviram rádio pela Rede. No total, as 2.300 emissoras auditadas pela Arbitron geraram uma audiência equivalente a 17 milhões de horas em março, um número três vezes maior do que o registrado há dois anos.

Pelo terceiro mês consecutivo, o primeiro lugar no ranking ficou com a Beethoven.com (http://www.beethoven.com/), com 741 mil horas de audiência. A NetRadio (http://www.netradio.com/), outro gigante virtual, conseguiu emplacar dois canais entre as dez estações mais acessadas (NetRadio - 80s Hits, com 293 mil horas, e NetRadio - Smooth Jazz, com 200 mil horas de conexão).

Monte uma rádio

A metodologia é bem diferente daquela adotada nos Estados Unidos, mas quem quiser saber como anda a audiência das emissoras de rádio na Internet brasileira tem um bom ponto de partida no http://www.radios.com.br/. Além do ranking das 100 mais acessadas no Brasil, o site oferece um banco de dados com quase 5 mil emissoras cadastradas, com um sistema de busca por país ou por tipo de programação. O site também apresenta um verdadeiro passo-a-passo para quem quiser montar uma rádio na Internet, inclusive com o download gratuito de alguns softwares necessários para a transmissão de áudio on-demand ou ao vivo.

Semelhanças

Se existem diferenças, também existem coincidências. A maioria das pessoas ouve rádio enquanto realiza outras atividades. A diferença é que, no caso do rádio on-line, as atividades complementares geralmente estão ligadas ao próprio computador.

Europarada

Quem gosta de música pop e quer estar em dia com o que toca nas principais rádios da Europa não precisa sair por aí de site em site. Em um só endereço é possível ouvir – e baixar - as 40 mais do Velho Continente. O Europarada (http://www.europarada.nl/) é um programa da Rádio Nederland (http://www.rnw.nl/) apresentado simultaneamente em inglês, francês, espanhol e português. A versão em português, por sinal, é produzida pelo jornalista Luís Henrique de Freitas Pádua, nascido em Franca, São Paulo, e há 13 anos radicado na Holanda. Por e-mail, ele define a Europarada como uma espécie de União Européia no campo da musica pop-internacional, por reunir as músicas mais tocadas em 18 países do continente. O programa é distribuído gratuitamente à emissoras de rádio de todo o mundo – 400 delas no Brasil - o que faz do programa um dos mais ouvidos na Internet. Ponto para as rádios convencionais.

Televisão ou internet?

Se você tivesse de optar entre o aparelho de televisão e o computador com acesso à Internet com qual ficaria? Agora tente imaginar qual seria a opção escolhida pelo seu filho ou por aquele sobrinho adolescente. Se você respondeu que ficaria com a televisão, mas demonstrou dúvida com relação à segunda pergunta, é provável que tenhamos muita coisa em comum.

Uma pesquisa – a primeira do gênero – realizada pela Edison Media Research revelou que três em cada dez internautas nos Estados Unidos abriria mão da TV para permanecer conectado à Web. Isso significa que algo em torno de 16 milhões de pessoas não teriam dúvidas em abandonar a TV para ficar exclusivamente com o computador. Os responsáveis pela pesquisa consideraram os resultados “significativos”, tendo em vista que a televisão está completando meio século de existência, enquanto a web apenas ensaia os seus primeiros passos.
Como toda estatística, esta também permite uma dupla interpretação. Ao ouvir pessoas que simultaneamente navegam pela Internet e assistem televisão, a pesquisa da Edison poderia ser entendida como uma desilusão dos internautas com o mundo web. Afinal, sete em cada dez deles abririam mão do computador se tivessem de optar entre a Internet e a televisão. Mas como a TV digital vem por aí, é provável que você e eu jamais tenhamos de fazer tal opção.

Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo em 21/06/2001

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