1 de abr. de 2009

Rocinha on-line

A Rocinha já foi conhecida como a maior favela da América Latina, antes de ser transformada em uma espécie de cartão postal social e atrair boa parte do turismo politicamente correto. Agora, desperta a atenção de pesquisadores, banqueiros e empresários do setor de tecnologia e está a um passo de se tornar o primeiro bairro 100% on-line do País, 24 horas por dia.

O plano é ambicioso. Interligar 33 mil casas e 2.500 estabelecimentos comerciais localizados morro acima em uma rede capaz de suportar as tecnologias mais avançadas de telefonia, transmissão de dados, Internet, vídeo-on-demand e multimídia. Prazo para que isso aconteça: algumas semanas.

Mágica? Filantropia? Nada disso. Todos os planos de investimentos tomam por base pesquisas que apontam um verdadeiro filão de oportunidades junto às classes C e D, até bem pouquíssimo tempo desprezadas pela chamada nova economia. E na Rocinha, mais do que em qualquer outro lugar, os requisitos para que a tecnologia contribua de fato para a melhoria da qualidade de vida já estão presentes.

Tudo é surpreendente neste morro genuinamente classe D, que divide pelo alto a Gávea e São Conrado, na Zona Sul do Rio de Janeiro. O contraste e a beleza vistos lá de cima talvez expliquem a visita de 15 mil turistas estrangeiros anualmente. Mas é o que ocorre no dia a dia dos moradores da Rocinha que, de fato, chama a atenção e mostra uma faceta pouco conhecida aos brasileiros e que nada tem a ver com estatísticas policiais, típicas de outras áreas carentes do País.

Com quase 200 mil moradores, renda familiar na faixa de R$ 500 e um índice de inadimplência praticamente zero (oscila entre 1% e 2%), a Rocinha talvez seja o único bairro do mundo onde o comprovante de residência é fornecido por uma operadora de TV por assinatura. Nove em cada dez casas do bairro estão a apenas alguns metros de conexão a uma rede de cabo ótico e coaxial. Não há uma rua, beco ou poste da Rocinha que não contenha a plaqueta de identificação da TV ROC (http://www.rocinha.com.br/), uma parceria entre a NET Rio e uma empresa de comunicações dirigida por um empresário argentino.

Apenas no cabeamento e na implantação do sistema fechado de TV foram gastos mais de US$ 3 milhões. No bairro, já funcionam duas emissoras locais de rádio e três jornais. A agência local da Caixa Econômica Federal, recentemente ampliada, movimenta 4 mil contas de poupança, com saldo total de R$ 2,5 milhões. Entre os 2.500 estabelecimentos comerciais, 2.300 estão nas mãos de microempresários, quase todos moradores da própria Rocinha.

Claro, nem tudo é maravilha. Ali, o índice de residências com pelo menos um aparelho de televisão chega a 97%, mas a penetração do telefone é de apenas 4%. Quatro escolas funcionam no bairro, incluindo um campus avançado de uma universidade - mas o índice de analfabetismo ainda é de 11% - a mesma taxa de moradores regularmente matriculados em um curso superior.

Para colocar a Rocinha on-line basta pouco. A Prefeitura, a PUC, a TV ROC e alguns gigantes do setor tecnológico, entre vários outros envolvidos nas negociações, articulam uma política de parcerias que permitam não apenas montar e administrar a rede, mas também oferecer aos moradores do bairro computadores pessoais a uma faixa de preços em torno de R$ 500. O custo de conexão seria simbólico, da ordem de R$ 0,50 por hora, conforme estimativa de alguns dos envolvidos no projeto.

E-mails para Marte

Parece filme de ficção científica, mas é pura realidade. Mandar um e-mail para Marte ou para qualquer outro ponto além da órbita terrestre ficou, digamos, mais fácil. A InterPlaNetary Internet (IPN) concluiu e já repassou à Internet Engineering Task Force, o órgão responsável pela aprovação de normas para a Internet, um novo protocolo que começará a ser testado nas missões futuras da Nasa, a agência aeroespacial dos Estados Unidos. Definido o novo protocolo, ou seja, a forma como pacotes de dados serão organizados, recebidos e transmitidos, o próximo passo consiste na criação de uma rede de comunicação entre satélites, veículos espaciais e até planetas, interligados, por sua vez, à Internet terrestre.

De agora em diante, cada missão espacial da Nasa levará equipamentos padronizados que permitam a comunicação por meio do novo protocolo. Até 2010, pelo menos sete destes roteadores interplanetários deverão estar instalados. Para saber mais sobre a Internet planetária, um bom ponto de partida é o endereço http://www.ipnsig.org/. Outro é assistir a palestra de Edgar Dean Mitchell, no 7º Congresso Internacional sobre Tecnologias Inteligentes e Redes Globais, na primeira semana de julho, em São Paulo. Mitchell, piloto espacial e um dos integrantes da missão Apollo 14, foi o sexto homem a pisar no solo lunar. Com uma bagagem de 216 horas de vôo espacial, ele virá ao Brasil para falar sobre “O Futuro da Tecnologia e das Redes Globais no Planeta Terra e no Universo”.

Tostão

Uma pepita de ouro de 64 quilos – a maior já encontrada no Brasil – e uma moeda, também de ouro, cunhada em 1822 para comemorar a coroação de D. Pedro I, são algumas das raridades que fazem parte do acervo do Banco Central. Na área do site do banco destinada ao público infanto-juvenil (www.bacen.gov.br/htms/bcjovem) é possível reunir uma série de informações úteis, principalmente para compor uma boa pesquisa escolar. Entre as atrações do site, um passeio virtual pelo Museu de Valores e uma infinidade de moedas e cédulas do mundo inteiro, além de jogos e vídeos. Boa parte da imagens pode ser baixada para uso como papel de parede ou ilustração de um trabalho escolar, desde que se tenha uma boa dose de paciência: algumas “páginas jovens” do site do Bacen precisam urgentemente de uma dieta. A foto da coleção de medalhas raras tem 121 Kb e demora uma eternidade até aparecer por inteira na tela.

Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo em 31/05/2001

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