A indústria fonográfica comemorou a vitória judicial sobre o Naspter (http://www.napster.com/) como se tivesse decretado a morte da troca gratuita de músicas pela Internet. Não foi o que aconteceu. Audiogalaxy, OpenNap, BearShare, Morpheus, Rapster e Napigator, entre diversos outros nomes, tomaram o lugar do Naspter no toma-lá-dá-cá musical da rede e com uma agravante: alguns deles são mais eficientes e mais difíceis de controlar – indícios de que muita música continuará circulando sem passar pela contabilidade das grandes gravadoras.
O curioso nesta história é que boa parte das redes e softwares que permitem o compartilhamento de músicas já existia em pleno reinado do Naspter. A diferença é que eram conhecidos apenas por um pequeno grupo de internautas. Bastou entrar em cena o rolo compressor das gravadoras para que pulassem para dentro de milhares de máquinas pessoais, formando incontável número de redes solidárias, a partir de servidores localizados pelo mundo afora. É exatamente esta dispersão que torna tais redes mais poderosas do que o “antigo” Naspter.
Como controlar algo que atua diretamente entre o seu computador e o de uma garota australiana, com autorização mútua, sem necessidade de um servidor central ou de administradores? Como controlar uma rede que teoricamente não é de ninguém? Enfim, como impedir que tanta música continue sendo distribuída gratuitamente?
Com o Naspter até que não foi tão difícil. Bastaram uma ordem judicial e um filtro de proteção às canções com direitos autorais para que o compartilhamento de músicas caísse de 200 para aproximadamente 80 arquivos por usuário, de acordo com estudo divulgado na semana passada pelo Pew Internet and American Life Project (http://www.pewinternet.org/). Detalhe: o estudo revela ainda que 37 milhões de norte-americanos baixaram arquivos de músicas entre julho de 2000 e abril deste ano.
Mesmo no Brasil, que não chega a ser um campeão de trocas de arquivos MP3, a perda de popularidade do Naspter é evidente. Em fevereiro, 1 milhão de usuários diferentes fizeram uso do sistema. Em março, o número caiu para 720 mil. Foram quedas como essa e aquela que levaram a indústria fonográfica a soltar rojões antes da hora. Demoraram a perceber que a redução ocorre apenas nas trocas intermediadas pelo Naspter - que teve os seus 15 gigabits de glória na Internet, mas hoje já é “passado”.
Em contrapartida, cerca de 10 milhões de usuários em todo o mundo já baixaram softwares como o Audiogalaxy Satellite, BearShare e LimeWire (que permitem a troca de arquivos presentes na rede Gnutella), Morpheus (idem em relação à rede MusicCity) ou o Napigator que possibilita a qualquer um conectar-se à rede OpenNap, clonada a partir dos servidores do próprio Naspter. Apenas na semana passada, foram 1.230.242 dowloads no site Cnet para o quinteto acima. O tempo dirá quanto isso representa em arquivos de música gratuita. Mas a festa já começou.
Metal e carne
Enigmático e provocante. É o mínimo que se pode dizer deste site canadense que se dispõe a explorar as estruturas e a dinâmica do pensamento e das emoções humanas na era digital. Seja lá o que isso signifique, parece que estão conseguindo. Metal and flesh (http://www.metalandflesh.com/) é um bom exemplo de convivência entre a tecnologia multimídia e a arte. Tem excelentes textos, imagens ásperas e uma trilha sonora primorosa, mas os seus criadores recusam o título de revista eletrônica. Alegam que estão em busca de uma narrativa nova, que permita explorar melhor a geografia lingüística do reino digital. Na lista de colaboradores, a brasileira Diana Domingues, artista multimídia, professora e pesquisadora phd da Universidade de Caxias do Sul.
Tortas e computadores
Centenas de donas-de-casa peruanas passaram a oferecer pela Internet tortas e doces típicos (http://www.tortasperu.com/). Como público-alvo, dois milhões de peruanos que vivem fora do País. O projeto foi selecionado na categoria Nova Economia para concorrer ao Stockholm Challenge 2001, o Nobel da Internet. Além da criatividade, um dos principais critérios para a escolha do vencedor é saber se o projeto contribui para melhorar a qualidade de vida de um determinado grupo e se pode facilmente ser transferido para outras comunidades. Os finalistas serão conhecidos no dia 5 de junho. O Brasil participa com 27 projetos nas sete categorias do Stockholm Challenge (http://www.challenge.stockholm.se/).
Ligeirinhos
Os sul-coreanos passeiam mais pela rede do que os internautas de outros 21 países analisados pela Nielsen NetRatings (http://www.nielsen-netratings.com/). Em março, eles acessaram em média 2.164 páginas na Web, número bem acima da média global, de 774 páginas por usuário da rede. Mas foram bem mais rápidos também: permaneceram apenas 28 segundos em cada página, quase a metade do tempo (54 segundos) gasto por australianos e norte-americanos. De acordo com o estudo, o internauta brasileiro ficou 49 segundos em média em cada uma das 552 páginas acessadas em março.
Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo em 17/05/2001
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