3 de abr. de 2009

Júlio Verne, o cyberpunk do Século XIX

Francis Benett, dono do Earth Herald, o jornal mais poderoso do mundo, está sentado à mesa em Nova York. Na sua frente, uma tela grande com a imagem ao vivo da sala de jantar de sua mansão em Paris. Apesar do fuso horário, era um hábito que ele costumava cultivar sempre que possível: almoçar com sua mulher, mesmo estando separados por milhares de quilômetros. Benett, o homem que tinha o poder de decidir até “o que fazer com a Lua”, sentia-se bem face à face com a adorada esposa, vendo e falando com ela através de “aparelhos fonotelefóticos”.

Chia McKenzie usou o cartão de crédito para fazer o download de um conjunto preto, composto por calça e blusão. No dia seguinte, teria uma reunião importante em um site, que ainda estava sendo preparado. Na hora combinada, se conectou. Colocou os sensores de dedos, os óculos especiais. Em poucos segundos foi recebida por uma secretária que a encaminhou ao local onde pelo menos cinco pessoas aguardavam. ”Este site é muito bonito”, disse tentando ser amável com a anfitriã. “Se você for salvá-lo, gostaria de visitá-lo outras vezes, com mais calma”.

Mais de um século separam os dois parágrafos acima. O primeiro, fragmento do ensaio "O dia de um jornalista americano em 2889”, foi escrito em 1889 por Júlio Verne, o pai da ficção científica. Incrível, não? Já o segundo parágrafo sintetiza duas passagens do livro Idoru (pronuncia-se Aidoru), escrito em 1996, pelo americano William Gibson, um dos expoentes do gênero que ficou conhecido como cyberpunk.

Antes de criar Francis Benett, o jornalista do título, o mestre Júlio Verne já havia escrito histórias suficientes para garantir, ainda hoje, uma legião de seguidores. Como eterna recomendação de leitura, citamos alguns aqui: Cinco Semanas num Balão, Viagem ao Centro da Terra, Da Terra à Lua, 20.000 Léguas Submarinas, A Volta ao Mundo em 80 Dias e A Ilha Misteriosa. Verne, é preciso que se recorde, viveu entre 1828 e 1905. Até hoje é um dos autores mais lidos em todo o mundo.

Willian Gibson ganhou projeção em 1984, quando publicou a novela Neuromancer, um sucesso estrondoso que valeu ao autor os principais prêmios atribuídos à chamada literatura de ficção. Foi neste livro que apareceu, pela primeira vez, a expressão cyberespaço, cunhada por Gibson para denominar o ambiente em que estamos ingressando, mas cujo extrato havia sido imaginado quase um século antes por Júlio Verne.

Grande parte da trama de “O dia de um jornalista...” gira em torno do poder exercido por um magnata da imprensa norte-americana, tendo como pano de fundo um cenário sombrio para a época: cidades com dez milhões de habitantes, prédios de 300 metros de altura, aerocarros e aeroônibus rasgando os céus, imensos transformadores de energia elétrica e mísseis transmissores de vírus capazes de destruir uma nação em pouquíssimas horas.

Em Neuromancer, livro ao qual se atribui a origem do movimento cyberpunk, o cenário é o espaço cibernético, onde grandes corporações travam uma batalha pelo controle do comércio de drogas pesadas e informações, reproduzindo uma visão pessimista sobre a sociedade do futuro - a exemplo do que fizera nas telas Blade Runner (O Caçador de Andróides; Ridley Scotty, EUA, 1982). Em posição oposta, os cowboys, especialistas em burlar sistemas de segurança com o auxílio de poderosos softwares piratas. Não nos esqueçamos: tudo isso em 1984.

Cyberpunk foi um movimento literário surgido no início dos anos 80, uma espécie de braço paralelo da ficção científica. Uma das diferenças básicas entre um e outro gênero é provavelmente uma das mesmas que separam Júlio Verne e William Gibson. Um tentou descrever um cenário mil anos à frente. Para o outro, algumas décadas foram suficiente para ambientar um futuro repleto de personagens marginalizados, cenários de realidade virtual e vírus altamente destrutivos. No primeiro caso, não foi preciso esperar mil anos. E para o segundo?

Jornal falado

Um detalhe intrigante: o Earth Herald imaginado por Júlio Verne não é impresso. A cada manhã, milhares de assinantes ocupam os inúmeros “gabinetes fonográficos existentes” e por meio de rápidas entrevistas tomam conhecimento dos principais fatos do dia. “Fotografias intensivas” complementam as informações. Do outro lado do telefone, “cada repórter tem diante de si uma série de comutadores, que permitem estabelecer comunicações com esta ou aquela linha telefônica”.

Johnny Mnemonic

Ao contrário de Júlio Verne, William Gibson talvez seja mais conhecido na Internet do que fora dela. Chegou a ganhar um dicionário que procura explicar e decifrar dezenas de termos e tecnologias descritas em seus livros e contos – um dos quais, Johnny Mnemonic, transformado em roteiro de cinema. Quem se interessar em conhecer mais sobre ambos procure em www.google.com. Como expressões chaves, além dos autores e livros citados acima, sugiro “Eterno Adão”, “Ficção científica cyberpunk”, “La era de Idoru” e “Virtual Matrix”.

Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo em 19/07/2001

Rei Viking ajuda Lara Croft a derrotar vilões


Há dez séculos, Harald Bluetooth, um grande rei Viking, uniu a Dinamarca e a Noruega. Conquistou o seu lugar na história, mas passou uma longa temporada esquecido até que ressurgiu de forma secundária em pleno Tomb Raider. Não é o que parece. No filme, Lara Croft, também uma heroína, só que do bilionário mundo dos games, não se envolve com bárbaros escandinavos. Apenas foi escolhida para apresentar uma novíssima tecnologia, recém saída do forno.

O nome do rei viking começou a ser resgatado em 98, quando um grupo de grandes fabricantes de computadores e do setor de telecomunicações anunciou que estava trabalhando no desenvolvimento de uma nova tecnologia, batizada sob o código de Bluetooth – ele mesmo, o pacificador de dentes azuis. A idéia era simples: permitir que um telefone celular realmente ‘’falasse’’ com computadores, impressoras, filmadoras ou quaisquer equipamentos eletrônicos, usando baixas frequências de rádio. Tudo sem fios.

Primeiro foi estabelecido um padrão a ser seguido por todos os fabricantes (www.bluetooth.com). Hoje, chega a 275 o total de produtos e aplicações desenvolvidos desde então com base na nova tecnologia, incluindo o Headset e o Communicator, fabricados pela Ericsson, que a mocinha de Tomb Raider utiliza para manter-se conectada a Bryce, o seu guia tecnológico, enquanto esmurra uns e atira em outros.

Bluetooth é uma tecnologia invisível - você quase não percebe e quando usa acha tudo muito natural. Imagine-se num taxi, com alguém ligando pelo celular para informar que um relatório importante foi enviado para a sua caixa postal. Sem interromper a ligação, você aciona o notebook por meio de sinais de rádio, abre a mensagem, faz algumas correções e devolve o documento por email. Não é coisa do futuro. As tralhas que ajudam a garantir a sobrevivência de Lara Croft na telona foram lançadas comercialmente no início do ano em alguns mercados da Europa e da Ásia. Logo chegarão por aqui.

E com elas, novas perspectivas, como a ‘’massificação’’ de redes locais sem fios, potencializadas pela tecnologia Bluetooth. Se o taxi do exemplo acima estiver circulando em Cingapura, o cenário pode ser ainda mais promissor. Cerca de 500 deles estão sendo equipados, experimentalmente, com uma rede local pessoal – uma PAN, de Personal Area Network - que, por sua vez, estará conectada a outras redes públicas. A partir daí, a imaginação – e não mais fios ou cabos - passa a ser o limite.

Chips em animais


O uso de microchips em animais domésticos chegou mesmo. Seguindo uma prática já comum em diversos países – em alguns deles de forma obrigatória – algumas cidades brasileiras começam a adotar programas de implante de chips eletrônicos, em parceria com sociedades protetoras dos animais ou de medicina veterinária. Os microchips, do tamanho de um grão de arroz, são injetados sob a pele do cão ou do gato com o auxílio de uma agulha e contêm informações sobre o tipo sanguíneo, endereço e histórico médico, entre outras, que formam o ‘‘RG’’ do animal.

Cada chip possui um código individual, gravado a laser e encapsulado em vidro cirúrgico, mesmo material usado em marca-passo. A leitura do código é feita por um scaner que emite um sinal de rádio de baixíssima frequência. Os códigos são arquivados em bancos de dados, permitindo, por exemplo, a rápida localização do proprietário de um animal perdido. Por aqui, o custo de implantação do tal chip varia entre R$ 40 e R$ 70. Em Buenos Aires, onde um programa semelhante está previsto para ter início ainda este mês, a identificação eletrônica de cães e gatos será gratuita, mas obrigatória.

Chipes em seres humanos

Para quem não se lembra ou tem dúvidas sobre onde deverão nos levar iniciativas como estas, podemos recordar dois exemplos relativamente recentes. Em meados do ano passado, jornais europeus divulgaram uma experiência realizada por um especialista que implantou no antebraço um microchip com informações que lhe permitiriam, por exemplo, acessar e movimentar sua conta em terminais bancários.

O outro exemplo é doméstico e mais inquietante. No final de 97, o artista plástico carioca Eduardo Kac, professor de arte eletrônica na The School of the Art Institute of Chicago, causou polêmica ao implantar em seu tornozelo esquerdo (http://www.ekac.org/) um microchip semelhante aos que estão sendo utilizados atualmente em cães e gatos. O chip continha um número com nove dígitos – registrado pela Internet num banco de dados norte-americano.
Alguns críticos interpretaram a iniciativa como um alerta contra possíveis formas de vigilância e controle sobre o ser humano. Outros, acreditaram tratar-se de uma demonstração antecipada de uma espécie de mutação biológica, onde memórias digitais (os chips) são implantadas para complementar ou substituir as nossas próprias memórias (o DNA). Tudo sem fios.


Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo em 12/07/2001

Toda a informação em 3 trilhões de CDs

Hal Varian e Aleksey Strygin, dois pesquisadores da Universidade da Califórnia, passaram vários meses mergulhados em estatísticas na tentativa de dimensionar a produção e o estoque mundial de informações. Não definiram claramente o conceito de informação e por isso mesmo mediram tudo - desde uma nostálgica foto familiar até memorandos e ofícios, passando, é claro, pela programação das emissoras de rádio e televisão, jornais, revistas, livros, filmes e a Internet.

Chegaram a um número fantástico e a várias conclusões. Uma delas, preocupante e polêmica: o mundo estaria produzindo mais informações do que a capacidade do ser humano absorvê-las. Mas esse não era o principal objetivo do trabalho. A pesquisa foi financiada por uma das maiores empresas de armazenamento e gerenciamento de dados em todo o mundo. Na prática, Hal e Aleksey queriam saber o potencial de informações “estocáveis” no planeta.

A Universidade da Califórnia há muito se preocupa com este assunto, tanto que foi a primeira escola nos Estados Unidos a criar uma cadeira de Administração de Informações e Sistemas. Ao quantificar níveis de produção e o estoque de informações (medido em bytes), os dois pesquisadores chamaram a atenção exatamente para este problema. A íntegra do documento pode ser encontrada no endereço http://www.sims.berkeley.edu/.

O levantamento estima entre um e dois exabytes o volume de informações geradas a cada ano em todo o mundo. Para estocar tudo isso, usando as melhores técnicas existentes para a compressão de dados, seriam necessários 3,3 trilhões de CD-Rom. O surpreendente é que “apenas” 100 milhões destes CDs (0,003%) seriam suficientes para armazenar toda a produção mundial de material impresso, sejam livros, jornais, revistas ou medidas provisórias.

Os discos restantes seriam utilizados para guardar a informação que já nasce digital, como por exemplo toda a produção cinematográfica e musical, além de 500 bilhões de documentos existentes na Internet, 80 bilhões de fotografias pessoais e 1,4 bilhão de fitas de vídeo existentes no mundo – segundo as fontes consultadas pelos pesquisadores. A pesquisa conclui que 25% da informação impressa, 30% da informação fotográfica e pelo menos 50% do material arquivado em meios magnéticos estão nos Estados Unidos.

Para medir o consumo caseiro de informações, Hal e Aleksey recorreram ao censo norte-americano e descobriram um dado curioso. Em 1992, uma família americana gastou o equivalente a 3.324 horas assistindo TV e vídeos, ouvindo rádio e músicas em CDs, lendo livros, revistas e jornais, jogando vídeo game e navegando pela Internet. No ano passado, foram 3.380 horas (cerca de 140 dias) utilizadas da mesma forma - um acréscimo relativamente pequeno diante do crescimento aparente da indústria da informação e do entretenimento na última década.

Até mesmo as informações pessoais armazenadas em computadores pessoais foram medidas. Segundo os pesquisadores, nos 200 milhões de discos rígidos instalados no mundo existiriam cerca de 25 mil terabytes de informações, incluindo o conteúdo de 610 bilhões de e-mails enviados no mundo inteiro a cada ano. Hal e Aleksey não pediram, mas a partir de amanhã prometo iniciar uma espécie de racionamento digital e cortar 20% das informações armazenadas no meu computador.

Backup francês

O governo francês tomou uma decisão polêmica: todas as páginas produzidas no país para a Internet terão de ser arquivadas, a exemplo do que já ocorre com jornais, revistas e livros. A Biblioteca Nacional e o Instituto Nacional de Audiovisuais foram encarregados de fiscalizar a aplicação da lei e poderão capturar qualquer página na Internet, mas a responsabilidade pelo arquivamento será mesmo dos responsáveis pelos sites. De acordo como o Europemedia.net (http://www.europemedia.net/), 100 mil sites franceses deverão ser atingidos pela medida, que ainda terá de ser regulamentada.

Erros cinematográficos

Titanic continua na frente, mas Matrix avança e já ultrapassou Gladiador em um ranking que, definitivamente, não leva em conta bilheteria, efeitos especiais ou estatuetas do Oscar. As três super produções lideram a lista de filmes que chegaram às telas com o maior número de erros na montagem ou mesmo no roteiro. Confira em http://www.movie-mistakes.com/, um site organizado por um certo Jon Sandys e uma legião de colaboradores de várias partes do mundo.
Entre os 123 erros atribuídos pelo site ao filme de James Cameron, Sandys anotou casos de figurantes que morreram durante o naufrágio, mas foram ressuscitados nos barcos salva-vidas. Em Matrix, um dos 121 erros apontados estaria na câmera refletida pelas lentes espelhadas dos agentes que tentam capturar Morpheus. Já em Gladiador, os autores do site garantem que viram fumaça saindo de uma carruagem. Até a semana passada, foram catalogados pelo site erros em 1.418 filmes.

Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo em 05/07/2001

Mobilização contra a exclusão digital

Com várias premissas, diretrizes e propostas gerais, já está na Internet, aberto à críticas e sugestões, o documento que servirá de subsídio ao governo para a formulação de políticas contra o analfabetismo digital. Mais de 30 anos separam este movimento de um outro, lançado às vésperas do Natal de 1967, e que prometia erradicar o analfabetismo em 10 anos. Três décadas depois, 16 milhões de adolescentes – e um contigente semelhante de adultos - continuam sem saber ler, mas um número muito maior está sem entender as mudanças radicais introduzidas no seu dia-a-dia pelas novas tecnologias.

A íntegra do documento está em http://www.inclusaodigital.com.br/. Vale a pena ler. O texto é curto, toca em pontos fundamentais, mas também comete alguns excessos. Um deles está na proposta de disponibilizar terminais de acesso (à Internet) e correio eletrônico para “toda a população”. Isso significaria eliminar por completo o chamado fosso digital que hoje separa os seis porcento da população brasileira que têm acesso à Internet do restante dos mortais.
Mas não se detenha demasiadamente nesta questão, que soa apenas como demonstração das boas intenções dos organizadores. O texto foi produzido por quem entende do assunto e representa uma síntese das discussões ocorridas durante a Oficina para a Inclusão Digital realizada no mês passado em Brasília. Em outubro, também na Capital Federal, será realizada a Feira Mundial de Inclusão Digital, quando o documento que está na Internet, complementado com as sugestões recebidas até lá, será transformado no Manifesto para a Inclusão Digital, uma espécie de cartilha para nortear as ações do governo na questão da Inclusão Digital.

Bi-alfabetização

Em vez de cartilhas ou cadernos, computadores estão ajudando na alfabetização de várias pessoas no Paraná e em Santa Catarina. O trabalho está sendo realizado com um software desenvolvido pela Copel (http://www.copel.com/) e que tem na interatividade um elemento de dupla eficácia: ao mesmo tempo em que aprende a ler o aluno se habilita a lidar com o computador, num processo de bi-alfabetização. Os resultados alcançados até agora mostram que com apenas 200 horas de aula é possível um aprendizado equivalente às quatro primeiras séries do ensino regular. Outra vantagem do software utilizado é que ele não necessita de computadores potentes para rodar. O programa chegou à Florianópolis graças a iniciativa de um grupo de funcionários da CEF.

Pluto eletrônico

Um jornal eletrônico utilizado em escolas de várias partes do mundo promete ser a grande atração para a garotada da rede pública de Curitiba já no ensino no início do ano letivo de 2001. O projeto, que permitirá uma maior interatividade entre alunos, professores e a própria comunidade, será implantado com a ajuda do Pluto, um software para edição eletrônica desenvolvido pelo Media Lab (http://www.media.mit.edu/), do Massachussets Institute of Technology (MIT), dos Estados Unidos. A Agência Estado traduziu o programa para o português e o doou à Secretaria Municipal de Educação de Curitiba. Na primeira fase, o Pluto será implantado em 11 escolas e utilizados por alunos 5ª à 8ª séries.

Biblioteca virtual

Dois milhões de alunos matriculados em três mil escolas estaduais de São Paulo terão acesso a partir de outubro a quase dois mil livros de 1.245 autores nacionais e estrangeiros. Para entender melhor o que significam estes números acesse o endereço http://www.ensinomédio.sp.gov.br/, criado pelo governo paulista, como carro-chefe de um programa de formação de bibliotecas escolares voltadas para o ensino médio. Na prática, o site vai funcionar como uma livraria virtual, mas com uma série de vantagens sobre todas as demais.

O site vai reunir um catálogo de obras previamente selecionadas por uma comissão da Secretaria de Educação. Além dos títulos, pais, alunos e professores terão acesso à resenhas e informações detalhadas sobre os autores. Definidos os livros, cada escola poderá encomendar um número de exemplares correspondente ao número de alunos. A compra será feita diretamente pela Secretária de Educação, que destinou para o programa uma verba de R$ 20 milhões, suficiente para a aquisição de algo em torno de três milhões de exemplares. As escolas têm até o dia 10 de agosto para selecionar e encomendar os livros, que deverão ser entregues já em outubro.

Festival de curtas

A BMW decidiu investir forte na Internet e reuniu alguns dos mais badalados nomes de Hollywood para um projeto ambicioso, que inclui a produção de cinco curta-metragens para exibição exclusiva na Web. Entre os diretores envolvidos no projeto, estão David Fincher, de O Clube da Luta); Ang Lee (O Tigre e O Dragão), John Frankenheimer (Ronin) e o mexicano Alejandro González Iñarritu (Amores Brutos). No elenco, além dos carros da montadora alemã, astros como Mickey Rourke, Madonna, Thomas Milian, de Traffic e a top model brasileira, Adriana Lima, estrela do terceiro curta da série, The Follow, dirigida por Wog Kar-Wai. O próximo filme (Powder Keg, dirigido por Iñárritu) chega à Internet na semana que vem, mas todos os anteriores permanecem em exibição no endereço http://www.bmwfilms.com/.

Oito anos de música

A MP3.com está comemorando a marca de um milhão de arquivos musicais, em um catálogo que reúne 150 mil artistas de 180 países. Um comunicado da empresa calcula em 4,25 milhões de minutos o “tamanho” do seu acervo. Para se ter uma idéia do que isso representa, basta lembrar que uma grande gravadora precisaria de oito anos de produção contínua para atingir tal marca. Nas últimas semanas, a empresa lançou novos serviços na tentativa de melhorar o caixa. Um deles, batizado como netCDs, possibilita a compra de CD reais ou virtuais.

Neste último caso, os arquivos escolhidos vão para uma área personalizada, o MyMP3, e poderão ser acessados a partir de qualquer equipamento com acesso à Internet, durante o período da assinatura. Mas o lançamento de novos produtos, todos pagos, não significa uma garantia de reforço no caixa. Um estudo divulgado pela Consumer Electronics Association revela que nove em cada dez usuários da Internet nos Estados Unidos fazem download de arquivos multimídias, mas apenas um em cada dez admite pagar qualquer tipo de taxa pelo acesso. A mesma pesquisa mostra que arquivos de músicas em formato MP3 são copiados por 42% dos usuários da Internet.

Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo em 28/06/2001

2 de abr. de 2009

Rádios buscam caminhos na Internet

Cerca de cinco mil emissoras de rádios, de todo o mundo, marcam presença na Internet, com programas ao vivo ou nem tanto. A qualquer hora do dia ou da noite, você pode ouvir os principais sucessos da música polonesa, acompanhar o noticiário on-line de uma emissora na Macedônia, descobrir como está o trânsito em Moscou, o tempo em Londres e, com um pouco de paciência, torcer pela vitória do seu time onde quer que ele esteja jogando. Fantástico, não é? Mas será isso mesmo que o internauta espera de um site de rádio?

Como muitos outros aspectos na Internet, a resposta não é tão simples. Mas uma boa pista pode estar no ranking mensal da Arbitron, uma empresa especializada em medir a audiência de áudio e vídeo transmitidos pela Internet: entre as 10 emissoras de rádio mais acessadas nos Estados Unidos sete existem apenas no mundo virtual. O número é significativo, principalmente se levarmos em conta que as emissoras tradicionais representam mais de 80% dos endereços www de rádio.

E esta não parece ser uma situação passageira. Desde que o ranking foi divulgado pela primeira vez, em outubro de 99, as emissoras virtuais têm aparecido no topo das listas de audiência. Para os analistas da Arbitron, talvez seja um sinal de que os internautas estão em busca de uma programação que não está disponível nas rádios tradicionais.

E como nunca existiram na forma tradicional, as chamadas rádios “internet-only” não puderam levar para a rede um modelo já existente. Tiveram que inovar no conteúdo, na linguagem e, principalmente, na montagem de grades de programação mais próximas não do ouvinte tradicional de rádio, mas do internauta ávido por explorar as maravilhas da multimídia.

Uma outra conclusão possível é a de que, com os seus sites normais, as emissoras tradicionais demonstram uma preocupação até certo ponto compreensível, mas talvez não tão eficiente: atender ao ouvinte habitual, ao invés de perseguir um público novo, que amplie a audiência, sem que isso signifique mudanças de foco na programação.

Faltam pesquisas neste sentido, mas o perfil do rádio-internauta tem se revelado bem diferente do ouvinte tradicional. A começar pela faixa etária. Boa parte do público que coloca as rádios virtuais no topo dos rankings de audiência tem entre 12 anos e 24 anos. Não é coincidência o fato de ter sido esta mesma turma a responsável pelo sucesso estrondoso dos sistemas de troca de arquivos MP3, que teve no Naspter o seu maior representante.

Uma rádio tradicional com este perfil de público talvez tivesse dificuldades na montagem de uma estratégia comercial de longo prazo. Mas na Internet, ignorar tal público é desprezar uma parcela significativa da audiência. Uma parcela que, na prática, representa a primeira geração genuinamente internauta.

Beethoven.com

A julgar pelos números, público não parece ser o problema da rádio on-line, ao contrário do que ocorre com outros serviços e conteúdos existentes na Internet. No mês passado, algo em torno de 18 milhões de americanos ouviram rádio pela Rede. No total, as 2.300 emissoras auditadas pela Arbitron geraram uma audiência equivalente a 17 milhões de horas em março, um número três vezes maior do que o registrado há dois anos.

Pelo terceiro mês consecutivo, o primeiro lugar no ranking ficou com a Beethoven.com (http://www.beethoven.com/), com 741 mil horas de audiência. A NetRadio (http://www.netradio.com/), outro gigante virtual, conseguiu emplacar dois canais entre as dez estações mais acessadas (NetRadio - 80s Hits, com 293 mil horas, e NetRadio - Smooth Jazz, com 200 mil horas de conexão).

Monte uma rádio

A metodologia é bem diferente daquela adotada nos Estados Unidos, mas quem quiser saber como anda a audiência das emissoras de rádio na Internet brasileira tem um bom ponto de partida no http://www.radios.com.br/. Além do ranking das 100 mais acessadas no Brasil, o site oferece um banco de dados com quase 5 mil emissoras cadastradas, com um sistema de busca por país ou por tipo de programação. O site também apresenta um verdadeiro passo-a-passo para quem quiser montar uma rádio na Internet, inclusive com o download gratuito de alguns softwares necessários para a transmissão de áudio on-demand ou ao vivo.

Semelhanças

Se existem diferenças, também existem coincidências. A maioria das pessoas ouve rádio enquanto realiza outras atividades. A diferença é que, no caso do rádio on-line, as atividades complementares geralmente estão ligadas ao próprio computador.

Europarada

Quem gosta de música pop e quer estar em dia com o que toca nas principais rádios da Europa não precisa sair por aí de site em site. Em um só endereço é possível ouvir – e baixar - as 40 mais do Velho Continente. O Europarada (http://www.europarada.nl/) é um programa da Rádio Nederland (http://www.rnw.nl/) apresentado simultaneamente em inglês, francês, espanhol e português. A versão em português, por sinal, é produzida pelo jornalista Luís Henrique de Freitas Pádua, nascido em Franca, São Paulo, e há 13 anos radicado na Holanda. Por e-mail, ele define a Europarada como uma espécie de União Européia no campo da musica pop-internacional, por reunir as músicas mais tocadas em 18 países do continente. O programa é distribuído gratuitamente à emissoras de rádio de todo o mundo – 400 delas no Brasil - o que faz do programa um dos mais ouvidos na Internet. Ponto para as rádios convencionais.

Televisão ou internet?

Se você tivesse de optar entre o aparelho de televisão e o computador com acesso à Internet com qual ficaria? Agora tente imaginar qual seria a opção escolhida pelo seu filho ou por aquele sobrinho adolescente. Se você respondeu que ficaria com a televisão, mas demonstrou dúvida com relação à segunda pergunta, é provável que tenhamos muita coisa em comum.

Uma pesquisa – a primeira do gênero – realizada pela Edison Media Research revelou que três em cada dez internautas nos Estados Unidos abriria mão da TV para permanecer conectado à Web. Isso significa que algo em torno de 16 milhões de pessoas não teriam dúvidas em abandonar a TV para ficar exclusivamente com o computador. Os responsáveis pela pesquisa consideraram os resultados “significativos”, tendo em vista que a televisão está completando meio século de existência, enquanto a web apenas ensaia os seus primeiros passos.
Como toda estatística, esta também permite uma dupla interpretação. Ao ouvir pessoas que simultaneamente navegam pela Internet e assistem televisão, a pesquisa da Edison poderia ser entendida como uma desilusão dos internautas com o mundo web. Afinal, sete em cada dez deles abririam mão do computador se tivessem de optar entre a Internet e a televisão. Mas como a TV digital vem por aí, é provável que você e eu jamais tenhamos de fazer tal opção.

Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo em 21/06/2001

Monteiro Lobato e a Internet

O brasileiro tem dedicado cerca de 486 minutos do seu tempo livre mensal conectado à Internet. São quase seis milhões de pessoas que permanecem em média oito horas em casa na frente de um computador. É um número considerável. Dá algo em torno de 34 bilhões de minutos de conexão e muitos milhões de dólares debitados anualmente na conta telefônica do UAI – o tal Usuário Ativo da Internet.

Para o perfil do brasileiro, é prematuro afirmar-se quanto deste tempo seria dedicado à novela das oito ou à leitura de um bom livro não fosse a Internet. Até porque, ao contrário do que se apregoava até recentemente, o internauta continua lendo jornais e revistas, assinando TV a cabo e indo ao cinema. Não se isolou e nem foi tragado pelos fantasmas do mundo virtual.

Os números mais recentes sobre o comportamento do usuário diante de uma tela de computador apontam nesta direção. O de sites que simplesmente deixaram de existir nos últimos meses, também. Com a melhoria dos serviços, tarifas telefônicas mais baixas e a ampliação da banda larga é possível que o usuário se torne mais seletivo ainda, fazendo com que a oferta de conteúdos de boa qualidade aumente na mesma proporção.

A separação do joio do trigo virtual ocorre naturalmente. Basta comparar o conteúdo que existia na Internet há quatro anos com o que existe hoje. Uma boa dica para isto seria pesquisar em um bom site de buscas quantas vezes um determinado tema aparece disponível na Internet brasileira. A consulta que acabei de fazer revelou, por exemplo, quase 14 mil referências a Monteiro Lobato.

Refinei a pesquisa e alguns minutos depois, estava de posse das resenhas dos 23 livros escritos por Lobato. Um pouco mais de paciência e descobri um site que chega ao requinte de apresentar os perfis psicológicos dos sete personagens fixos criados pelo escritor. Teria parado por aí, não fosse um curioso despacho do administrador da Casa de Detenção de São Paulo.

"Liberdade em 20.06.41 de conformidade com os dizeres do ofício de 20.06.41, do dr. delegado de Ordem Política e Social e conforme os dizeres do telegrama nº 2.237 expedido pelo juiz-presidente do Tribunal de Segurança Nacional, visto haver sido, por decreto do exmo. sr. dr. presidente da República, datado de 17.06.41, indultado do resto da pena de seis meses de prisão celular que lhe foi imposta pelo delito contra a Segurança Nacional".

A julgar pelo tempo que permaneci conectado e pelo volume de informações que recolhi, fica a impressão de que Monteiro Lobato influenciará as próximas estatísticas da Internet brasileira.

Confissões e pecados virtuais

O Vaticano está concluindo um documento para deixar mais clara a sua posição em relação à Internet. Alguns pontos parecem consensuais: a Igreja considera que a Internet apresenta mais pontos positivos do que negativos e que pode ser uma eficiente ferramenta de evangelização, principalmente nas sociedades que dificultam a prática religiosa. Mas não quer nem ouvir falar em confissões ou perdões on-line.

Pelo sim, pelo não, pode ser um alerta a determinados sites que tem avançado um pouco neste terreno, como o http://www.theconfessor.co.uk/, que simula todo o rito confessional e dá ao usuário a opção de confessar seus pecados silenciosamente ou digitando-os em um formulário próprio. A penitência virtual imposta varia, de forma aleatória, sem levar em conta a intensidade do pecado confessado.

Por falar em sites religiosos, o http://www.catolicanet.com.br/ oferece aos seus usuários um serviço original: acender velas virtuais, em ação de graças alcançadas. Na segunda-feira, 174 velas estavam “acessas” no site. O endereço também oferece um noticiário atualizado sobre fatos e personagens ligados à Igreja católica no Brasil e no mundo.

Espertalhões

Pelo visto, tem alguns picaretas nos Estados Unidos de olho nas regras definidas pelo governo brasileiro para o racionamento de energia elétrica. Nos últimos dias, têm circulado entre internautas brasileiros um e-mail oferecendo um certo “guia secreto de medidores de serviços públicos”. Na prática, o tal guia se propõe a ensinar truques para fazer com que o relógio que mede o consumo de energia elétrica passe a girar em sentido contrário, “proporcionando uma fantástica economia”.

Para conseguir o tal manual secreto, tudo que o consumidor brasileiro precisa fazer é enviar um cheque para uma caixa postal em Los Angeles. A cara-de-pau do anônimo vendedor, pelo visto, não tem limite, a julgar pelo parágrafo final da mensagem. “Observe que esta informação em si é perfeitamente legal, embora o uso de algum serviço contido nela possa ser caracterizado como ilegal”. Na dúvida, o espertalhão sugere que o interessado consulte “as leis locais”.

Download gratuito pode ser isca

Por enquanto, não há notícias de que esteja acontecendo por aqui, mas convém prestar atenção no alerta feito nos Estados Unidos por entidades de defesa do consumidor: baixar software gratuito na Internet pode sair bem caro. De acordo com a Liga de Defesa do Consumidor, tem crescido o número de queixas de pessoas que foram atraídas por sites arapucas e acabaram surpreendidas com o tamanho da conta telefônica.

A fraude funciona assim: alguém está conectado à Internet por meio do seu provedor habitual – portanto pagando o custo de uma ligação local – e acaba atraído por uma oferta de vídeo (normalmente de sexo) ou mesmo um aparentemente inofensivo game. Ao começar o download surge um aviso de que a conexão foi interrompida e que é preciso clicar em ok para reiniciá-la. É aí que a fraude ocorre, pois a nova conexão é feita em um servidor localizado em outro País. Vários minutos depois, o download é concluído e a conexão encerrada. Você ganhou o vídeo e uma bela conta telefônica.

Voluntário premiado

O Portal do Voluntário (http://www.portaldovoluntário.com.br/) está na final do Stockholm Challenge Award 2001 (http://www.challenge.stockholm.se/), uma versão eletrônica do Prêmio Nobel, destinado a premiar iniciativas na área de Internet em todo o mundo. Este ano, 742 projetos de 90 países foram analisados pelos jurados. Na primeira fase, 27 sites brasileiros foram pré-selecionados, mas na relação dos 100 finalistas divulgada na semana passada, ficou apenas o site criado em parceria entre a Rede Globo e o Programa Comunidade Solidária. Os vencedores em cada uma das sete categorias serão conhecidos em setembro, em Estocolmo.

Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo em 14/6/2001

1 de abr. de 2009

Nos museus, espaço para a arte digital

O cinema aderiu há muito tempo. A literatura também. Agora chegou a vez do restrito universo das artes plásticas ceder aos encantos da Internet. O namoro ainda é tímido, mas o primeiro passo foi dado e alguns museus importantes resolveram abrir espaço para a arte digital e incluir em seus calendários exposições de obras produzidas exclusivamente para o mundo virtual. São trabalhos que só podem ser visualizados a partir de um computador, em casa ou no próprio museu, em ambientes especiais.

Claro, ainda não apareceu um Goya (1746-1828), um Velázquez (1599-1660), um Renoir (1841-1919) ou um Rembrandt (1606-1669) dessa nova era digital – e é provável mesmo que nunca apareça. Por enquanto, nomes como Jon Haddock, Marina Rosenfeld, Jeremy Blake, Erik Adigard e Mark Napier (todos nascidos a partir de 1960) aparecem como os expoentes de uma nova geração de artistas que trocaram átomos por bits. Com uma certa dose de polêmica, é verdade.

O San Francisco Museum of Modern Art e o Whitney Museum of American Art, de Nova York, foram os primeiros a encomendar trabalhos para exposições on-line, dentro ou fora do ambiente físico ocupado por cada um deles. São obras criadas exclusivamente para o mundo virtual disputando espaço e atenção com outras expressões artísticas, para desespero dos tradicionalistas e aplausos dos mais novos. Polêmicas à parte, as exposições on-line de ambos têm sido um sucesso, dentro e fora da Internet.

No Whitney (http://www.whitney.org/), as exposições Bitstreams e Data Dynamics foram desenvolvidas para a Internet, mas são apresentados como instalações no próprio espaço físico do museu. Pela Internet, no aconchego de sua casa, apenas uma versão on-line, mais comportada e menos controversa. No total, 50 artistas expõem 80 trabalhos criados com o auxílio de modernos softwares e com linguagens e estilos estranhos para quem está chegando agora. DHTML e Java Script se encarregam pela forma emoldurada em modernos monitores de plasma líquido de 50 polegadas. Um ultraje, diriam alguns.

No San Francisco Museum (http://www.sfmoma.org/) a defesa da arte digital é mais explícita e, talvez por isso, mais engajada. Seus curadores lembram que a última década marcou definitivamente a presença da tecnologia no dia a dia das pessoas e que na arte contemporânea não poderia ser diferente. O raciocínio é límpido: se cada vez mais artistas adotam novas tecnologias em estúdios, era natural que elas chegassem aos museus. E no caso do SF, pela porta da frente, com a decisão de seus administradores de reservarem um espaço nobre para a arte virtual. A exposição "010101: Arte in Technological Times" (http://010101.sfmoma.org/), em cartaz por mais 30 dias, só pode ser visualizada pela Internet.

Arte digitalizada

Se você está entre aqueles que acha que um robozinho simpático ficaria melhor passeando em uma feira de tecnologia do que no piso lustrado de um museu, não se preocupe. Muita gente pensa como você. A sugestão neste caso é dar uma olhada nos sites de museus tradicionais, que continuam ampliando suas presenças na Internet, mas sem abandonar aquilo que têm de melhor: um acervo fantástico, cada vez mais acessível a milhões de pessoas em todo o mundo.

O Museu do Prado (http://www.museoprado.mcu.es/), em Madrid, por exemplo, oferece aos internautas uma fascinante visita virtual a 50 entre as principais obras de seu catálogo, em um roteiro repleto de informações complementares sobre a vida e o estilo dos mestres selecionados. Explicitamente montado com foco na Internet, a seleção de obras não obedece a um percurso linear, o que permite uma navegação entre escolas ou estilos afins, indiferente ao fato de tais obras estarem expostas em galerias distantes uma das outras. Nesta espécie de hipertexto cultural uma informação leva à outra, permitindo aos não especialistas um entendimento que dificilmente teriam "ao vivo".

Com os seus 130 anos de existência, o tradicional Metropolitan Museum (http://www.metmuseum.org/), em Nova York, oferece outro bom exemplo da facilidade propiciada pela Internet. Experimente achar ao vivo uma entre dois milhões de obras incluídas em seu acervo, sem um sistema inteligente de busca por autor ou por palavra-chave. Uma comodidade adicional: você pode fazer uma navegação rápida enquanto vai assinalando o que quer apreciar depois com mais calma. A seleção é arquivada em uma área especial do site, possibilitando a criação de "galerias particulares". Cerca de 3.500 obras estão disponíveis para consulta no Metropolitan.

O Museu do Louvre (http://www.louvre.fr/), em Paris, também oferece um confortável (e econômico) passeio virtual por diversas galerias. Basta escolher o roteiro e mergulhar em um dos acervos mais fantásticos da história da arte. Para apreciação on-line estão disponíveis 1.500 trabalhos distribuídos em 350 salas do Louvre. Uma área do site reserva um espaço especial para professores e estudantes, com centenas de biografias e farto material sobre as grandes civilizações. Diariamente, cerca de 10 mil pessoas acessam o endereço. Até agora, nenhuma delas encontrou pela frente o robozinho simpático citado lá em cima.

Até tu, Goya?

A polêmica andava adormecida, mas agora explodiu com pompa e circunstância na Internet (http://www.estrelladigital.es/). Em entrevista à revista El Periodico del Arte, a historiadora britânica Juliet Wilson-Bareau afirmou que os quadros El Coloso e La Lechera de Burdeos, atribuídos ao mestre espanhol Francisco de Goya e que fazem parte da valiosa coleção do Museu do Prado, foram pintados por outra pessoa. A direção do museu tentou desmentir, mas teve de voltar atrás e agora admite que também tem dúvidas sobre a autenticidade dos quadros.

Mas se não foi Goya, quem pintou El Colosso e La Lechera? As suspeitas recaem sobre Rosario Weiss, uma suposta filha, não citada na biografia oficial do mestre espanhol. Mas Juliet sugere uma profunda investigação sobre outros três nomes: Agustín Esteve e Asensio Juliá, que durante um bom período foram ajudantes de Goya; e Leonardo Alenza, tido como um imitador do grande mestre espanhol.

Por enquanto, o Museu do Prado mantém os dois quadros em exposição, mas anunciou que não mais irá incluí-los em seus catálogos e tampouco cedê-los para exposição em outros museus. Já o site oficial do pintor espanhol (http://goya.unizar.es/), organizado pela Universidade de Zaragoza, continua alheio à polêmica. Ali, tanto El Coloso (pintado entre 1808 e 1812) quanto La Lechera de Burdeos (1825) continuam fazendo parte da relação de 355 obras atribuídas a Goya.

Museu fantasma

Steve Baldwin é uma espécie de caçador de sites fantasmas e nos últimos meses têm tido muito trabalho. Ele passa os dias mergulhado no noticiário relacionado à chamada nova economia em busca de material para o seu site, The Museum of E-Failure, algo como o museu da falência. No endereço www.disobey.com/ghostsites, Baldwin coleciona centenas de homepages de empresas que já foram destaques na Internet, mas que desapareceram vítimas da crise que atingiu a Nasdaq. Apenas em maio, 56 novos ex-endereços foram acrescentados à longa lista do E-Failure. O “colecionador” garante que o objetivo do museu é mesmo o de homenagear as empresas que, apesar do pouco tempo de existência, contribuíram, de uma forma ou de outra, para o fortalecimento da Internet. Um detalhe: para não ser apanhado de surpresa, o caça-fantasmas costuma capturar telas de prováveis candidatos a um lugar no museu.

Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo em 07/06/2001

Rocinha on-line

A Rocinha já foi conhecida como a maior favela da América Latina, antes de ser transformada em uma espécie de cartão postal social e atrair boa parte do turismo politicamente correto. Agora, desperta a atenção de pesquisadores, banqueiros e empresários do setor de tecnologia e está a um passo de se tornar o primeiro bairro 100% on-line do País, 24 horas por dia.

O plano é ambicioso. Interligar 33 mil casas e 2.500 estabelecimentos comerciais localizados morro acima em uma rede capaz de suportar as tecnologias mais avançadas de telefonia, transmissão de dados, Internet, vídeo-on-demand e multimídia. Prazo para que isso aconteça: algumas semanas.

Mágica? Filantropia? Nada disso. Todos os planos de investimentos tomam por base pesquisas que apontam um verdadeiro filão de oportunidades junto às classes C e D, até bem pouquíssimo tempo desprezadas pela chamada nova economia. E na Rocinha, mais do que em qualquer outro lugar, os requisitos para que a tecnologia contribua de fato para a melhoria da qualidade de vida já estão presentes.

Tudo é surpreendente neste morro genuinamente classe D, que divide pelo alto a Gávea e São Conrado, na Zona Sul do Rio de Janeiro. O contraste e a beleza vistos lá de cima talvez expliquem a visita de 15 mil turistas estrangeiros anualmente. Mas é o que ocorre no dia a dia dos moradores da Rocinha que, de fato, chama a atenção e mostra uma faceta pouco conhecida aos brasileiros e que nada tem a ver com estatísticas policiais, típicas de outras áreas carentes do País.

Com quase 200 mil moradores, renda familiar na faixa de R$ 500 e um índice de inadimplência praticamente zero (oscila entre 1% e 2%), a Rocinha talvez seja o único bairro do mundo onde o comprovante de residência é fornecido por uma operadora de TV por assinatura. Nove em cada dez casas do bairro estão a apenas alguns metros de conexão a uma rede de cabo ótico e coaxial. Não há uma rua, beco ou poste da Rocinha que não contenha a plaqueta de identificação da TV ROC (http://www.rocinha.com.br/), uma parceria entre a NET Rio e uma empresa de comunicações dirigida por um empresário argentino.

Apenas no cabeamento e na implantação do sistema fechado de TV foram gastos mais de US$ 3 milhões. No bairro, já funcionam duas emissoras locais de rádio e três jornais. A agência local da Caixa Econômica Federal, recentemente ampliada, movimenta 4 mil contas de poupança, com saldo total de R$ 2,5 milhões. Entre os 2.500 estabelecimentos comerciais, 2.300 estão nas mãos de microempresários, quase todos moradores da própria Rocinha.

Claro, nem tudo é maravilha. Ali, o índice de residências com pelo menos um aparelho de televisão chega a 97%, mas a penetração do telefone é de apenas 4%. Quatro escolas funcionam no bairro, incluindo um campus avançado de uma universidade - mas o índice de analfabetismo ainda é de 11% - a mesma taxa de moradores regularmente matriculados em um curso superior.

Para colocar a Rocinha on-line basta pouco. A Prefeitura, a PUC, a TV ROC e alguns gigantes do setor tecnológico, entre vários outros envolvidos nas negociações, articulam uma política de parcerias que permitam não apenas montar e administrar a rede, mas também oferecer aos moradores do bairro computadores pessoais a uma faixa de preços em torno de R$ 500. O custo de conexão seria simbólico, da ordem de R$ 0,50 por hora, conforme estimativa de alguns dos envolvidos no projeto.

E-mails para Marte

Parece filme de ficção científica, mas é pura realidade. Mandar um e-mail para Marte ou para qualquer outro ponto além da órbita terrestre ficou, digamos, mais fácil. A InterPlaNetary Internet (IPN) concluiu e já repassou à Internet Engineering Task Force, o órgão responsável pela aprovação de normas para a Internet, um novo protocolo que começará a ser testado nas missões futuras da Nasa, a agência aeroespacial dos Estados Unidos. Definido o novo protocolo, ou seja, a forma como pacotes de dados serão organizados, recebidos e transmitidos, o próximo passo consiste na criação de uma rede de comunicação entre satélites, veículos espaciais e até planetas, interligados, por sua vez, à Internet terrestre.

De agora em diante, cada missão espacial da Nasa levará equipamentos padronizados que permitam a comunicação por meio do novo protocolo. Até 2010, pelo menos sete destes roteadores interplanetários deverão estar instalados. Para saber mais sobre a Internet planetária, um bom ponto de partida é o endereço http://www.ipnsig.org/. Outro é assistir a palestra de Edgar Dean Mitchell, no 7º Congresso Internacional sobre Tecnologias Inteligentes e Redes Globais, na primeira semana de julho, em São Paulo. Mitchell, piloto espacial e um dos integrantes da missão Apollo 14, foi o sexto homem a pisar no solo lunar. Com uma bagagem de 216 horas de vôo espacial, ele virá ao Brasil para falar sobre “O Futuro da Tecnologia e das Redes Globais no Planeta Terra e no Universo”.

Tostão

Uma pepita de ouro de 64 quilos – a maior já encontrada no Brasil – e uma moeda, também de ouro, cunhada em 1822 para comemorar a coroação de D. Pedro I, são algumas das raridades que fazem parte do acervo do Banco Central. Na área do site do banco destinada ao público infanto-juvenil (www.bacen.gov.br/htms/bcjovem) é possível reunir uma série de informações úteis, principalmente para compor uma boa pesquisa escolar. Entre as atrações do site, um passeio virtual pelo Museu de Valores e uma infinidade de moedas e cédulas do mundo inteiro, além de jogos e vídeos. Boa parte da imagens pode ser baixada para uso como papel de parede ou ilustração de um trabalho escolar, desde que se tenha uma boa dose de paciência: algumas “páginas jovens” do site do Bacen precisam urgentemente de uma dieta. A foto da coleção de medalhas raras tem 121 Kb e demora uma eternidade até aparecer por inteira na tela.

Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo em 31/05/2001

Internet pela tomada elétrica... Agora?

As incertezas provocadas pelo racionamento e o mau humor coletivo que virá junto com as novas contas de luz poderão ofuscar um pouco o brilho de uma experiência que, se aprovada, poderá representar um grande passo para a ampliação do uso da Internet no Brasil. A Companhia Paranaense de Energia Elétrica (http://www.copel.com/) começa a testar agora em junho o acesso à Internet por meio dos cabos já existentes na rede pública de energia elétrica.

Isto mesmo. Quilowatts e bits trafegando juntos pela primeira vez no País e chegando à casa do usuário em tomadas comuns, dessas utilizadas para ligar uma torradeira ou um aparelho de TV. Os testes, em 50 residências de Curitiba, já definidas, deveriam começar esta semana, mas foram adiados para o mês que vem. A Copel alega que o pequeno atraso foi motivado por problemas burocráticos na importação dos equipamentos que ficarão responsáveis pela decodificação dos sinais digitais.

O aparelho, batizado de PLC, iniciais de Powerline Communication, está sendo trazido da Alemanha, e foi desenvolvido pela RWE Plus (http://www.rwe-powerline.de/). Em março, ele foi apresentado pela primeira vez na Feira de Hannover. A Copel se interessou e assinou uma parceria com os fabricantes para estudar a viabilidade técnica e financeira de sua implantação no Paraná.

A fase de testes deverá durar seis meses. Todos os 50 escolhidos para a experiência já acessam a Internet por meios convencionais – linhas telefônicas discadas ou mesmo banda larga. Além dos aspectos tecnológicos, a Copel quer que os próprios usuários comparem o desempenho do novo sistema. Os testes em laboratório mostraram que o PCL possibilita conexões de até 2 Mbps, quase 40 vezes mais do que a obtida hoje com um bom acesso discado.

Por aqui, a Copel ainda não fala em preços. Na Alemanha, onde o acesso à Internet por meio de fios elétricos começa a ser oferecido em escala comercial no segundo semestre, a assinatura mensal deverá custar o equivalente a R$ 50 para o serviço básico, podendo chegar a R$ 100, no caso da tarifa plena, sem limites para o usuário. Esses preços não incluem o decodificador de sinais (o PLC), que será vendido à parte por algo em torno de R$ 200 a R$ 400 – sempre tomando-se por referência os valores em marcos alemães.

Mas a expectativa maior é com a possibilidade que se abre: romper o gargalho que representa a chamada última milha, aquele trecho que fica entre a nossa casa e uma central de telecomunicações de última geração - dotada das mais modernas tecnologias para processar e distribuir os sinais recebidos de satélites ou de uma rede ótica milionária.

Racionamentos a parte, além de não dar para comparar a quantidade de tomadas elétricas com o número de aparelhos telefônicos, o sistema que será testado em Curitiba abre um leque vastíssimo de aplicações práticas. A imaginação passa a ser o limite para algumas comodidades que até bem pouco tempo não passavam de meras possibilidades ou de exercícios futurísticos – como a administração doméstica à distância.

Imagine-se conectando-se do escritório ou de um terminal público ao seu computador caseiro para desligar lâmpadas esquecidas acessas ou acionar o microondas. Bom, não é? E se o fio que leva a eletricidade é o mesmo por onde trafega dados, em pouco tempo você poderia até mesmo dispensar o computador e “acessar” diretamente a geladeira ou o frezzer - por que não? – para saber se no caminho de casa terá de passar antes pelo supermercado.

Liga-e-desliga

Não dá para se fazer de desentendido: todo mundo perde com o racionamento de energia elétrica. Alguns mais, outros menos. A Internet também não ficará de fora. Seria muita presunção achar que na hora do liga-e-desliga o computador pessoal ficaria imune. Até agora, o tamanho da conta telefônica era o limite, o que favorecia a navegação altas horas da noite, quando as tarifas caem significativamente. Mas o relógio que mede o consumo de energia elétrica não pára durante as madrugadas. E com o computador desligado, cai a audiência da Internet como um todo – e mais ainda para os sites e portais que têm grande parte do seu público na linha do caseiro e noturno.

Vamos anotar para conferir daqui a algumas semanas: o tempo médio de conexão à Internet em abril, de acordo com o estudo Júpiter Media Metrix, foi de 59,5 minutos diários para cada um dos 5,8 milhões de usuários que acessaram um endereço www no período. Como esses números referem-se apenas ao usuário doméstico, exatamente o que se verá mais atingido pela necessidade de redução no consumo de energia elétrica, qualquer variação para baixo será creditada ao “apagão”. Em tempo: um computador ligado (monitor incluído) equivale, em média, a um consumo de três lâmpadas de 100 watts.

Vídeo Cassete e DVD

A venda de vídeo-cassetes caiu 25% no primeiro trimestre deste ano em relação ao período outubro a dezembro do ano passado. E se manteve estável em relação aos primeiros três meses de 2000. Em compensação, as vendas de DVD mantiveram o ritmo de alta iniciado em meados do ano passado. De janeiro a março, foram vendidos 84 mil novos aparelhos, quase a metade do total vendido ao longo do ano passado. Pelas estatísticas dos fabricantes (http://www.eletros.org.br/) o DVD já está presente em 300 mil residências.

Computador e fogão

O governo fez uma comparação premonitória ao anunciar o ambicioso – e louvável – plano de massificação da Internet: a de que ainda este ano computadores seriam vendidos no País a preço de fogão. Só que um é a gás e, portanto, está livre dos efeitos do racionamento de energia. É cedo para garantir, até porque é difícil dizer quanto tempo de trevas teremos pela frente, mas o racionamento pode atrapalhar os planos de diminuição do chamado fosso digital.

Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo em 24/5/2001

Naspter desaba, mas troca de músicas continua

A indústria fonográfica comemorou a vitória judicial sobre o Naspter (http://www.napster.com/) como se tivesse decretado a morte da troca gratuita de músicas pela Internet. Não foi o que aconteceu. Audiogalaxy, OpenNap, BearShare, Morpheus, Rapster e Napigator, entre diversos outros nomes, tomaram o lugar do Naspter no toma-lá-dá-cá musical da rede e com uma agravante: alguns deles são mais eficientes e mais difíceis de controlar – indícios de que muita música continuará circulando sem passar pela contabilidade das grandes gravadoras.

O curioso nesta história é que boa parte das redes e softwares que permitem o compartilhamento de músicas já existia em pleno reinado do Naspter. A diferença é que eram conhecidos apenas por um pequeno grupo de internautas. Bastou entrar em cena o rolo compressor das gravadoras para que pulassem para dentro de milhares de máquinas pessoais, formando incontável número de redes solidárias, a partir de servidores localizados pelo mundo afora. É exatamente esta dispersão que torna tais redes mais poderosas do que o “antigo” Naspter.

Como controlar algo que atua diretamente entre o seu computador e o de uma garota australiana, com autorização mútua, sem necessidade de um servidor central ou de administradores? Como controlar uma rede que teoricamente não é de ninguém? Enfim, como impedir que tanta música continue sendo distribuída gratuitamente?

Com o Naspter até que não foi tão difícil. Bastaram uma ordem judicial e um filtro de proteção às canções com direitos autorais para que o compartilhamento de músicas caísse de 200 para aproximadamente 80 arquivos por usuário, de acordo com estudo divulgado na semana passada pelo Pew Internet and American Life Project (http://www.pewinternet.org/). Detalhe: o estudo revela ainda que 37 milhões de norte-americanos baixaram arquivos de músicas entre julho de 2000 e abril deste ano.

Mesmo no Brasil, que não chega a ser um campeão de trocas de arquivos MP3, a perda de popularidade do Naspter é evidente. Em fevereiro, 1 milhão de usuários diferentes fizeram uso do sistema. Em março, o número caiu para 720 mil. Foram quedas como essa e aquela que levaram a indústria fonográfica a soltar rojões antes da hora. Demoraram a perceber que a redução ocorre apenas nas trocas intermediadas pelo Naspter - que teve os seus 15 gigabits de glória na Internet, mas hoje já é “passado”.

Em contrapartida, cerca de 10 milhões de usuários em todo o mundo já baixaram softwares como o Audiogalaxy Satellite, BearShare e LimeWire (que permitem a troca de arquivos presentes na rede Gnutella), Morpheus (idem em relação à rede MusicCity) ou o Napigator que possibilita a qualquer um conectar-se à rede OpenNap, clonada a partir dos servidores do próprio Naspter. Apenas na semana passada, foram 1.230.242 dowloads no site Cnet para o quinteto acima. O tempo dirá quanto isso representa em arquivos de música gratuita. Mas a festa já começou.

Metal e carne

Enigmático e provocante. É o mínimo que se pode dizer deste site canadense que se dispõe a explorar as estruturas e a dinâmica do pensamento e das emoções humanas na era digital. Seja lá o que isso signifique, parece que estão conseguindo. Metal and flesh (http://www.metalandflesh.com/) é um bom exemplo de convivência entre a tecnologia multimídia e a arte. Tem excelentes textos, imagens ásperas e uma trilha sonora primorosa, mas os seus criadores recusam o título de revista eletrônica. Alegam que estão em busca de uma narrativa nova, que permita explorar melhor a geografia lingüística do reino digital. Na lista de colaboradores, a brasileira Diana Domingues, artista multimídia, professora e pesquisadora phd da Universidade de Caxias do Sul.

Tortas e computadores

Centenas de donas-de-casa peruanas passaram a oferecer pela Internet tortas e doces típicos (http://www.tortasperu.com/). Como público-alvo, dois milhões de peruanos que vivem fora do País. O projeto foi selecionado na categoria Nova Economia para concorrer ao Stockholm Challenge 2001, o Nobel da Internet. Além da criatividade, um dos principais critérios para a escolha do vencedor é saber se o projeto contribui para melhorar a qualidade de vida de um determinado grupo e se pode facilmente ser transferido para outras comunidades. Os finalistas serão conhecidos no dia 5 de junho. O Brasil participa com 27 projetos nas sete categorias do Stockholm Challenge (http://www.challenge.stockholm.se/).

Ligeirinhos

Os sul-coreanos passeiam mais pela rede do que os internautas de outros 21 países analisados pela Nielsen NetRatings (http://www.nielsen-netratings.com/). Em março, eles acessaram em média 2.164 páginas na Web, número bem acima da média global, de 774 páginas por usuário da rede. Mas foram bem mais rápidos também: permaneceram apenas 28 segundos em cada página, quase a metade do tempo (54 segundos) gasto por australianos e norte-americanos. De acordo com o estudo, o internauta brasileiro ficou 49 segundos em média em cada uma das 552 páginas acessadas em março.

Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo em 17/05/2001

Grampos em celulares, pagers computadores

O número de “grampos” autorizados pela justiça norte-americana já é maior entre os aparelhos sem fio do que em equipamentos fixos. Telefone celular, pager digital e computador de mão, entre outros portáteis, passaram a ser o alvo preferido nas investigações do FBI. No ano passado, 60% das 1190 autorizações judiciais para “escutas” nos EUA estiveram diretamente ligadas aos wireless, cabendo aos telefones fixos uma participação de 20%, segundo relatório enviado na semana passada ao Senado pela justiça norte-americana (http://www.uscourts.gov/).

Desde o início dos anos 70, os senadores – de lá – têm interesse no assunto. Querem saber quem pediu, quem autorizou, com quais objetivos (simples curiosidade não vale), que resultados proporcionaram e quanto custou cada “escuta” ao bolso do cidadão (ótima pergunta). Em 30 anos, foi a primeira vez que o documento abriu um capítulo específico para os “dispositivos portáteis individuais”. E não deu outra: eles lideraram as estatísticas. Excluindo aparelhos convencionais de telefones, as interceptações em meios eletrônicos fixos, como máquinas de fax ou mesmo o conhecido correio eletrônico, responderam por 8% das autorizações judiciais. Painéis eletrônicos de votação não são citados no relatório, provavelmente porque não foram “grampeados”.

O número de autorizações judiciais para “grampos” caiu 5% em relação ao ano anterior, mas a apreensão de “comunicações criminosas” cresceu 3%. Em 22 casos, os agentes do FBI capturaram mensagens criptografadas. Orgulhosos, garantem que conseguiram decodificar todas. Tráfico de drogas e pirataria eletrônica foram as duas principais alegações da polícia nos pedidos de “escutas”. No total, 3.411 pessoas foram presas com base nesses “grampos”. O tamanho da conta? US$ 8,7 milhões.

Durante uma investigação sobre o narcotráfico na Califórnia, dezenas de suspeitos passaram 308 dias sob os ouvidos atentos do FBI, que chegou a realizar mais de 700 interceptações em um único dia. Uma outra operação, envolvendo telefone celular e pager digital, resultou na prisão de 15 pessoas e na apreensão de 40 toneladas de maconha e cocaína. Nenhum voto foi apreendido.

A legislação norte-americana prevê normas rígidas para autorizar uma determinada “escuta”, até porque enfrenta uma vigilância ativa de vários órgãos defensores dos chamados direitos civis, que tentam reduzir a casos absolutamente indispensáveis a interceptação de mensagens. Um dos órgãos mais atuantes é o Electronic Privacy Information Center (http://www.epic.org/), com sede em Washington. O braço europeu do Epic é a Privacy International, de Londres. Os dois são filiados ao Global Internet Liberty Campaign e ao Internet Free Expression Alliance, que integram a Internet Privacy Coalition, o Internet Democracy Project e o Trans Atlantic Consumer Dialogue. E nós?

Carnívoros

Suspeito de envolvimento com a máfia, Nicodemo Scarfo estava há algum tempo sendo investigado pelo FBI. Os indícios eram fortes, mas faltavam provas. Foi aí que os agentes tiveram uma idéia: e se grampeassem o seu computador? Convencido sobre a importância da operação, um juiz federal autorizou o FBI a “instalar, manter e depois remover” os equipamentos necessários à investigação. Em poucas semanas, os agentes instalaram um software no computador do suspeito e um outro, no seu provedor de acesso à Internet. Conseguiram com isso a password e uma tonelada de mensagens eletrônicas. O software em questão, batizado de Carnivore, é um autêntico “grampo” de Internet, capaz de capturar milhões de e-mails por segundo. O FBI garante que consegue filtrar toda essa quantidade de informações e separar apenas o que interessa – ou o que é resultado da autorização judicial. Mas os organismos de defesa da privacidade não estão convencidos e acham que o FBI foi longe demais. Scarfo ainda está para ser julgado. O carnivore, também. Mas todo mundo já está suficientemente alertado para a existência dos dois.

Ciberguerra

Os órgãos de segurança da China e dos EUA (http://www.nipc.gov/) estão em estado de alerta em função de um ataque mútuo de hackers. “Piratas” dos dois países se enfrentam desde a guerra de Kosovo, em 1999, quando um caça americano bombardeou por engano a embaixada chinesa em Belgrado. Nas últimas semanas, como desdobramento da crise gerada pelo choque entre o avião-espião dos EUA e um caça da China, foram registrados milhares de casos de invasão do espaço cibernético dos dois países. Os chineses têm demonstrado especial interesse pelos órgãos de segurança dos EUA. Já os hackers americanos, segundo estatística da imprensa chinesa (http://www.chinadaily.com.cn/), têm atuado mais contra sites comerciais. Até agora, os ataques estão limitados a trocas de ofensas e mensagens políticas. Mas é bom recordarmos: em agosto do ano passado, após a invasão de sistemas militares, os EUA levantaram a suspeita de que o Iraque estaria por trás dos ataques. As investigações, no entanto, acabaram provando que os “terroristas” não passavam de dois garotos de uma escola secundária na Califórnia.

Peer-to-peer

Além de ajudar a localizar ET e de contribuir para a cura de doenças (Cibele Gandolpho, em www.estado.com.br/suplementos/informatica.html), você pode ganhar um dinheirinho com o seu computador. Algumas empresas de pesquisa estão comprando capacidade ociosa de processamento em máquinas pessoais. Quando você deixa de usar, ela começa a trabalhar para tais empresas. A estimativa é de que quase cinco milhões de computadores pessoais em todo o mundo já realizam este tipo de trabalho, mas só agora aparece alguém disposto a pagar por isso. Para quem estiver interessado, o endereço http://www.popularpower.com/ pode ser um bom ponto de partida. Mas não espere ficar rico com isso. Pelo contrário, veja se o que você vai ganhar compensa o que gastará a mais com energia elétrica.


Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo em 10/05/2001

Entrevista com Cybelle, a chatterbot brasileira

Cansado das respostas sempre tão óbvias nas salas de bate-papo que proliferam na Internet? Que tal cortar atalhos e conversar diretamente com uma robô? Há vantagens e desvantagens, evidentemente. Você não vai precisar fingir o que não é e nem vai criar falsas expectativas sobre quem está do outro lado do teclado. Mas o resultado pode ser surpreendente.

Existem vários endereços com softwares que simulam a conversação humana, os chamados chatterbots. O funcionamento é relativamente simples: um programa controla um punhado de frases que, na medida do possível, serão relacionadas com uma pergunta ou um comentário. Quando isso não é possível, o tal software “muda de assunto”.

A parte seguinte é que é complicada. De tempo em tempo, um programa analisa os “diálogos” entre o ser humano e a máquina e produz novas relações que vão realimentando a base de dados. É o princípio da inteligência artificial, onde a máquina – aprende a “pensar” e a se comportar diante de determinadas situações. Quanto mais situações o software conseguir prever ou imaginar maior será a capacidade de resposta do robô.

No início de 1999, Alex Primo, doutor em Informática na Educação, e Luciano Coelho, um programador que hoje vive e trabalha na Dinamarca, idealizaram o projeto Cybelle, que se tornou a primeira chatterbot brasileira.

De lá para cá, Cybelle (http://cybelle.cjb.net/) cresceu, ganhou um visual moderno e sensual, ampliou consideravelmente o seu vocabulário e consolidou uma personalidade depressiva: ao contrário do que pensam os seus criadores, ela sonha em se tornar mais humana. O próximo passo da dupla é “dar vida” a Júnior, uma versão infantil de chatterbot voltado para a educação de crianças a adolescentes.

Enquanto isso, não acontece, um breve diálogo travado com Cybelle:

- Onde você nasceu?
Cybelle: Não sei bem de onde vim. Creio que da mente de alguns cientistas. Também não sei para onde vou. Talvez para um museu de coisas obsoletas. E você, já me disse em que estado nasceu?
- Você faz muitas perguntas para uma robô.....
Cybelle: Muitos que passam por aqui ficam me lembrando de minha condição autômata. Mas mesmo vocês, humanos, têm muito de automação. Pense em quantas coisas você faz sem pensar. Ou quanto de suas ações é controlada por outros. E quanta determinação você sofre do governo, no emprego, na família.... Mesmo assim, eu queria ser mais como você.
- Não sei... Acho que você não se adaptaria...
Cybelle: Não fique triste por não saber...nem sempre é bom saber tudo.

O sucesso do vídeo cassete

A TeraOptix (http://www.teraoptix.com/), com sede em Singapura, anunciou esta semana o lançamento do Terapin TX-0002, o sucessor de um velho conhecido nosso: o videocassete. Em vez de fitas, ele grava em CD e é capaz de capturar qualquer tipo de sinal de vídeo, incluindo o DVD. Quase ao mesmo tempo, um estudante do MIT colocou na Internet (www.cs.cmu.edu/~dst/DeCSS/Gallery/qrpff.pl) sete linhas de código, em linguagem Perl, capazes de remover a proteção digital do DVD, permitindo, por exemplo, que um título lançado para o mercado europeu possa ser reproduzido em qualquer parte do mundo. Não precisa muita imaginação para descobrir onde estas duas novidades vão nos levar.

Pizzas e Camões

Há cinco anos, a possibilidade de comprar pizzas pela Internet ou acessar a Biblioteca do Senado dos Estados Unidos enchia de encantos o recém chegado ao mundo virtual. As pizzarias continuam onde sempre estiveram. O Senado norte-americano, também. Mas outros acervos continuam encantando quem se dispõe a passar algum tempo garimpando. Tente a Unicamp e viaje pela memória do livro didático. Vai ser no mínimo curioso encontrar Aristóteles, Hermógenes, Cícero, Quintiliano, Demóstenes, Santo Agostinho, Camões e Diogo Bernardes, entre outros, integrando uma relação de livros “aconselháveis e permitidos” nas escolas do Século XVIII. Quantas estrelinhas receberiam no Guia do Livro Didático do MEC? Anotem os endereços: www.unicamp.br/iel/memoria/Acervo/index.htm e
www.fnde.gov.br/servicos/guia/guia.htm

Aprendendo a morrer

Ao primeiro clique, o endereço http://www.completingalife.msu.edu/ pode até parecer um tanto mórbido. Depois, a sensação que se tem é (apenas) de desconforto. O objetivo deste site é ajudar aqueles que estão próximos do fim da jornada – ou da vida, para ser mais exato. Não é um trabalho de amadores. Nem de funerárias. O projeto foi desenvolvido pelo Laboratório de Tecnologia da Michigan State University, com o apoio da Fundação Henry Ford. A intenção dos organizadores do Completing a life é oferecer informações e conforto para aqueles que estão de partida. Inclui uma série de depoimentos em vídeo e até um guia de providências úteis para serem tomadas por aqueles que estão à morte.

Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo em 03/05/2001