1 de abr. de 2009

Internet pela tomada elétrica... Agora?

As incertezas provocadas pelo racionamento e o mau humor coletivo que virá junto com as novas contas de luz poderão ofuscar um pouco o brilho de uma experiência que, se aprovada, poderá representar um grande passo para a ampliação do uso da Internet no Brasil. A Companhia Paranaense de Energia Elétrica (http://www.copel.com/) começa a testar agora em junho o acesso à Internet por meio dos cabos já existentes na rede pública de energia elétrica.

Isto mesmo. Quilowatts e bits trafegando juntos pela primeira vez no País e chegando à casa do usuário em tomadas comuns, dessas utilizadas para ligar uma torradeira ou um aparelho de TV. Os testes, em 50 residências de Curitiba, já definidas, deveriam começar esta semana, mas foram adiados para o mês que vem. A Copel alega que o pequeno atraso foi motivado por problemas burocráticos na importação dos equipamentos que ficarão responsáveis pela decodificação dos sinais digitais.

O aparelho, batizado de PLC, iniciais de Powerline Communication, está sendo trazido da Alemanha, e foi desenvolvido pela RWE Plus (http://www.rwe-powerline.de/). Em março, ele foi apresentado pela primeira vez na Feira de Hannover. A Copel se interessou e assinou uma parceria com os fabricantes para estudar a viabilidade técnica e financeira de sua implantação no Paraná.

A fase de testes deverá durar seis meses. Todos os 50 escolhidos para a experiência já acessam a Internet por meios convencionais – linhas telefônicas discadas ou mesmo banda larga. Além dos aspectos tecnológicos, a Copel quer que os próprios usuários comparem o desempenho do novo sistema. Os testes em laboratório mostraram que o PCL possibilita conexões de até 2 Mbps, quase 40 vezes mais do que a obtida hoje com um bom acesso discado.

Por aqui, a Copel ainda não fala em preços. Na Alemanha, onde o acesso à Internet por meio de fios elétricos começa a ser oferecido em escala comercial no segundo semestre, a assinatura mensal deverá custar o equivalente a R$ 50 para o serviço básico, podendo chegar a R$ 100, no caso da tarifa plena, sem limites para o usuário. Esses preços não incluem o decodificador de sinais (o PLC), que será vendido à parte por algo em torno de R$ 200 a R$ 400 – sempre tomando-se por referência os valores em marcos alemães.

Mas a expectativa maior é com a possibilidade que se abre: romper o gargalho que representa a chamada última milha, aquele trecho que fica entre a nossa casa e uma central de telecomunicações de última geração - dotada das mais modernas tecnologias para processar e distribuir os sinais recebidos de satélites ou de uma rede ótica milionária.

Racionamentos a parte, além de não dar para comparar a quantidade de tomadas elétricas com o número de aparelhos telefônicos, o sistema que será testado em Curitiba abre um leque vastíssimo de aplicações práticas. A imaginação passa a ser o limite para algumas comodidades que até bem pouco tempo não passavam de meras possibilidades ou de exercícios futurísticos – como a administração doméstica à distância.

Imagine-se conectando-se do escritório ou de um terminal público ao seu computador caseiro para desligar lâmpadas esquecidas acessas ou acionar o microondas. Bom, não é? E se o fio que leva a eletricidade é o mesmo por onde trafega dados, em pouco tempo você poderia até mesmo dispensar o computador e “acessar” diretamente a geladeira ou o frezzer - por que não? – para saber se no caminho de casa terá de passar antes pelo supermercado.

Liga-e-desliga

Não dá para se fazer de desentendido: todo mundo perde com o racionamento de energia elétrica. Alguns mais, outros menos. A Internet também não ficará de fora. Seria muita presunção achar que na hora do liga-e-desliga o computador pessoal ficaria imune. Até agora, o tamanho da conta telefônica era o limite, o que favorecia a navegação altas horas da noite, quando as tarifas caem significativamente. Mas o relógio que mede o consumo de energia elétrica não pára durante as madrugadas. E com o computador desligado, cai a audiência da Internet como um todo – e mais ainda para os sites e portais que têm grande parte do seu público na linha do caseiro e noturno.

Vamos anotar para conferir daqui a algumas semanas: o tempo médio de conexão à Internet em abril, de acordo com o estudo Júpiter Media Metrix, foi de 59,5 minutos diários para cada um dos 5,8 milhões de usuários que acessaram um endereço www no período. Como esses números referem-se apenas ao usuário doméstico, exatamente o que se verá mais atingido pela necessidade de redução no consumo de energia elétrica, qualquer variação para baixo será creditada ao “apagão”. Em tempo: um computador ligado (monitor incluído) equivale, em média, a um consumo de três lâmpadas de 100 watts.

Vídeo Cassete e DVD

A venda de vídeo-cassetes caiu 25% no primeiro trimestre deste ano em relação ao período outubro a dezembro do ano passado. E se manteve estável em relação aos primeiros três meses de 2000. Em compensação, as vendas de DVD mantiveram o ritmo de alta iniciado em meados do ano passado. De janeiro a março, foram vendidos 84 mil novos aparelhos, quase a metade do total vendido ao longo do ano passado. Pelas estatísticas dos fabricantes (http://www.eletros.org.br/) o DVD já está presente em 300 mil residências.

Computador e fogão

O governo fez uma comparação premonitória ao anunciar o ambicioso – e louvável – plano de massificação da Internet: a de que ainda este ano computadores seriam vendidos no País a preço de fogão. Só que um é a gás e, portanto, está livre dos efeitos do racionamento de energia. É cedo para garantir, até porque é difícil dizer quanto tempo de trevas teremos pela frente, mas o racionamento pode atrapalhar os planos de diminuição do chamado fosso digital.

Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo em 24/5/2001

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