2 de abr. de 2009

Monteiro Lobato e a Internet

O brasileiro tem dedicado cerca de 486 minutos do seu tempo livre mensal conectado à Internet. São quase seis milhões de pessoas que permanecem em média oito horas em casa na frente de um computador. É um número considerável. Dá algo em torno de 34 bilhões de minutos de conexão e muitos milhões de dólares debitados anualmente na conta telefônica do UAI – o tal Usuário Ativo da Internet.

Para o perfil do brasileiro, é prematuro afirmar-se quanto deste tempo seria dedicado à novela das oito ou à leitura de um bom livro não fosse a Internet. Até porque, ao contrário do que se apregoava até recentemente, o internauta continua lendo jornais e revistas, assinando TV a cabo e indo ao cinema. Não se isolou e nem foi tragado pelos fantasmas do mundo virtual.

Os números mais recentes sobre o comportamento do usuário diante de uma tela de computador apontam nesta direção. O de sites que simplesmente deixaram de existir nos últimos meses, também. Com a melhoria dos serviços, tarifas telefônicas mais baixas e a ampliação da banda larga é possível que o usuário se torne mais seletivo ainda, fazendo com que a oferta de conteúdos de boa qualidade aumente na mesma proporção.

A separação do joio do trigo virtual ocorre naturalmente. Basta comparar o conteúdo que existia na Internet há quatro anos com o que existe hoje. Uma boa dica para isto seria pesquisar em um bom site de buscas quantas vezes um determinado tema aparece disponível na Internet brasileira. A consulta que acabei de fazer revelou, por exemplo, quase 14 mil referências a Monteiro Lobato.

Refinei a pesquisa e alguns minutos depois, estava de posse das resenhas dos 23 livros escritos por Lobato. Um pouco mais de paciência e descobri um site que chega ao requinte de apresentar os perfis psicológicos dos sete personagens fixos criados pelo escritor. Teria parado por aí, não fosse um curioso despacho do administrador da Casa de Detenção de São Paulo.

"Liberdade em 20.06.41 de conformidade com os dizeres do ofício de 20.06.41, do dr. delegado de Ordem Política e Social e conforme os dizeres do telegrama nº 2.237 expedido pelo juiz-presidente do Tribunal de Segurança Nacional, visto haver sido, por decreto do exmo. sr. dr. presidente da República, datado de 17.06.41, indultado do resto da pena de seis meses de prisão celular que lhe foi imposta pelo delito contra a Segurança Nacional".

A julgar pelo tempo que permaneci conectado e pelo volume de informações que recolhi, fica a impressão de que Monteiro Lobato influenciará as próximas estatísticas da Internet brasileira.

Confissões e pecados virtuais

O Vaticano está concluindo um documento para deixar mais clara a sua posição em relação à Internet. Alguns pontos parecem consensuais: a Igreja considera que a Internet apresenta mais pontos positivos do que negativos e que pode ser uma eficiente ferramenta de evangelização, principalmente nas sociedades que dificultam a prática religiosa. Mas não quer nem ouvir falar em confissões ou perdões on-line.

Pelo sim, pelo não, pode ser um alerta a determinados sites que tem avançado um pouco neste terreno, como o http://www.theconfessor.co.uk/, que simula todo o rito confessional e dá ao usuário a opção de confessar seus pecados silenciosamente ou digitando-os em um formulário próprio. A penitência virtual imposta varia, de forma aleatória, sem levar em conta a intensidade do pecado confessado.

Por falar em sites religiosos, o http://www.catolicanet.com.br/ oferece aos seus usuários um serviço original: acender velas virtuais, em ação de graças alcançadas. Na segunda-feira, 174 velas estavam “acessas” no site. O endereço também oferece um noticiário atualizado sobre fatos e personagens ligados à Igreja católica no Brasil e no mundo.

Espertalhões

Pelo visto, tem alguns picaretas nos Estados Unidos de olho nas regras definidas pelo governo brasileiro para o racionamento de energia elétrica. Nos últimos dias, têm circulado entre internautas brasileiros um e-mail oferecendo um certo “guia secreto de medidores de serviços públicos”. Na prática, o tal guia se propõe a ensinar truques para fazer com que o relógio que mede o consumo de energia elétrica passe a girar em sentido contrário, “proporcionando uma fantástica economia”.

Para conseguir o tal manual secreto, tudo que o consumidor brasileiro precisa fazer é enviar um cheque para uma caixa postal em Los Angeles. A cara-de-pau do anônimo vendedor, pelo visto, não tem limite, a julgar pelo parágrafo final da mensagem. “Observe que esta informação em si é perfeitamente legal, embora o uso de algum serviço contido nela possa ser caracterizado como ilegal”. Na dúvida, o espertalhão sugere que o interessado consulte “as leis locais”.

Download gratuito pode ser isca

Por enquanto, não há notícias de que esteja acontecendo por aqui, mas convém prestar atenção no alerta feito nos Estados Unidos por entidades de defesa do consumidor: baixar software gratuito na Internet pode sair bem caro. De acordo com a Liga de Defesa do Consumidor, tem crescido o número de queixas de pessoas que foram atraídas por sites arapucas e acabaram surpreendidas com o tamanho da conta telefônica.

A fraude funciona assim: alguém está conectado à Internet por meio do seu provedor habitual – portanto pagando o custo de uma ligação local – e acaba atraído por uma oferta de vídeo (normalmente de sexo) ou mesmo um aparentemente inofensivo game. Ao começar o download surge um aviso de que a conexão foi interrompida e que é preciso clicar em ok para reiniciá-la. É aí que a fraude ocorre, pois a nova conexão é feita em um servidor localizado em outro País. Vários minutos depois, o download é concluído e a conexão encerrada. Você ganhou o vídeo e uma bela conta telefônica.

Voluntário premiado

O Portal do Voluntário (http://www.portaldovoluntário.com.br/) está na final do Stockholm Challenge Award 2001 (http://www.challenge.stockholm.se/), uma versão eletrônica do Prêmio Nobel, destinado a premiar iniciativas na área de Internet em todo o mundo. Este ano, 742 projetos de 90 países foram analisados pelos jurados. Na primeira fase, 27 sites brasileiros foram pré-selecionados, mas na relação dos 100 finalistas divulgada na semana passada, ficou apenas o site criado em parceria entre a Rede Globo e o Programa Comunidade Solidária. Os vencedores em cada uma das sete categorias serão conhecidos em setembro, em Estocolmo.

Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo em 14/6/2001

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