Aqueles que duvidavam do poder da Internet terão de rever boa parte dos seus argumentos. Dois acontecimentos recentes – o sequestro da filha do apresentador Sílvio Santos e os ataques terroristas em Nova York e em Washington – colocaram a Internet ao lado da TV como fonte básica de informação em tempo real. As emissoras que transmitiram ao vivo os dois episódios e os seus desdobramentos bateram recordes de audiência, o mesmo ocorrendo com os principais sites de notícias do País.
E isso não ocorre apenas quando se tratam de catástrofes. Pouco a pouco, a Internet também consolida uma audiência cativa e específica no dia a dia – esta sim, sem concorrência com nenhum outro meio de comunicação, pelo menos enquanto não chegar por aqui a terceira geração de celulares ou a chamada banda larga. Exemplo desse predomínio ocorre na oferta de serviços bancários.
Todos os meses, cerca de 4,7 milhões de pessoas maiores de 18 anos, a grande maioria situada nas escalas A e B da pirâmide social, acessam, a partir de suas casas, algo em torno de 2 bilhões de páginas diferentes na Internet. Talvez cause surpresa, mas uma em cada seis destas páginas está localizada em um site de banco.
É isso mesmo: Itaú, CEF, Banco do Brasil, Bradesco, Real e Unibanco, em uma relação liderada pela Receita Federal, tiveram em conjunto 293 milhões de páginas diferentes acessadas em julho. Se tivessem em um mesmo endereço, a audiência destes sites seria a segunda maior da Internet brasileira, o que demonstra bem o poderio do setor financeiro também no mundo www.
Sob os mais variados pontos de vista, o setor bancário brasileiro ostenta números expressivos na Internet, não apenas por aqui, mas também se comparados com os EUA, o berço do capitalismo e da própria Web. Um levantamento divulgado recentemente pelo The New York Times concluiu que entre 22% e 25% dos clientes dos dois maiores bancos privados brasileiros - Bradesco e Itaú – realizam regularmente operações financeiras on-line - uma participação relativa bem maior do que os 15% do Wells Fargo, líder no mercado americano de transações bancárias pela rede.
O curioso nesta história é que a desconfiança do usuário brasileiro, que o impede de digitar o número do seu cartão de crédito na Internet e que tem sido apontada como o grande entrave para a expansão do comércio eletrônico no País, parece não prosperar no site do seu banco - assim como já não funcionava em postos de gasolina, restaurantes ou parques de diversão.
Mensagens do tipo "fique tranquilo, pois você está em ambiente seguro" é aceita como garantia e logo você estará digitando não apenas os números de sua conta bancária, mas também - pasme! - a sua senha "pessoal e intransferível". A partir daí, é como se estivesse na própria agência, utilizando de praticamente todos os serviços disponíveis no mundo real, com a vantagem de não precisar enfrentar filas torturantes - ou seguranças sempre prontos a duvidar de um inofensivo telefone celular.
Talvez seja esta a receita para o sucesso na Internet: sites que facilitem as nossas vidas – seja informando e explicando o que está acontecendo agora do outro lado do Atlântico, seja encurtando caminhos entre você, a agência bancária ou a bilheteria do cinema. Infelizmente, por mais simples que possa parecer, a fórmula ainda é ignorada por um bom número de endereços na Internet.
Correio eletrônico para todos
A série de ataques terroristas sobre Nova York e Washington certamente vai tirar o brilho sobre uma importante medida adotada pelas autoridades de Houston, também nos Estados Unidos. No início da semana, o governo local deu um passo importante contra a chamada exclusão digital, ao oferecer, de uma só vez, a todos os seus 2 milhões de habitantes, contas gratuitas de email e acesso a um software que reúne processador de texto, planilha de cálculos, agenda e outros aplicativos úteis no dia-a-dia. A iniciativa, inédita nos EUA e provavelmente no mundo, foi possível graças a um convênio entre o governo local e a Internet Access Technologies, a empresa que desenvolveu o software, que recebeu o sugestivo nome SimHouston (www.simdesk.com).
A diferença básica de outros sistemas de disseminação do uso da Internet está no fato de que o software é instalado em servidores centrais e não nos computadores pessoais, o que reduz consideravelmente os custos e permite o acesso a partir de qualquer máquina conectada à Internet. Jornais norte-americanos especulam que outras cidades devem adotar providências semelhantes nas próximas semanas. O último levantamento da Nielsen/NetRatings revela que três em cada cinco norte-americanos têm acesso a um computador conectado à Internet em casa ou no local de trabalho.
Sons para celulares
Cansado de ouvir sempre o mesmo tom de chamada do seu telefone celular? Que tal personalizá-lo com um trecho da trilha sonora de "Os Flinstones", de "A Pantera Cor de Rosa", "Missão Impossível" ou até mesmo do hino do seu clube de futebol? Embora de utilidade e gosto discutíveis, centenas de endereços na Internet estão oferecendo o serviço, em um leque de opções que agrada a alguns, diverte a outros e irrita a muita gente. Alguns sites chegam ao requinte de oferecer softwares de edição, que permitem ao usuário "compor" o som que quer ouvir ao atender uma ligação, usando como notas musicais as próprias teclas do aparelho celular.
Para quem estiver interessado - ou apenas quiser se divertir um pouco testando as opções disponíveis - aqui vai uma dica e uma advertência. A dica: utilize como palavras-chaves em um site de buscas "ring tones", "toques de campainha" ou "som para celular". A advertência: de cada 10 endereços que vão aparecer na sua tela, pelo menos sete oferecerão o serviço gratuitamente de forma, digamos, "informal". Segundo a Envisional, uma empresa inglesa especializada em identificar conteúdos piratas na Internet, esta "informalidade" causa um prejuízo diário de US$ 1,5 milhão às empresas detentoras dos direitos autorais dos tais ring tones.
Coluna publicada originalmente em O Estado de S. Paulo,em 13/09/2001
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