Morte sempre foi uma tema tabu em várias sociedades, mas recentemente ganhou um aliado importante e um campo fértil a ser explorado. Mais de 5 milhões de endereços na Internet abordam e discutem livremente o assunto, ao mesmo tempo em que consolidam um mercado que se tem revelado extremamente lucrativo.
Destaco quatro ou cinco histórias recolhidas na Web e que ilustram bem o tamanho desse mercado. Algumas podem parecer mórbidas – certamente, muitos entederão assim -, mas vamos tentar deixar de lado, temporariamente, ao menos, preconceitos ou juízos de valor.
A primeira dessas histórias diz respeito a uma celebração que se repete há 40 anos, quando familiares e amigos de James Bedford se reúnem para um aniversário diferente. Não há o tradicional “parabéns prá você”, tampouco os votos de “muito anos de vida”, mesmo porquê James Bedford, o homenageado, morreu em 1967, logo após completar 74 anos.
No mesmo dia em que morreu, a família mandou congelar o corpo, um desejo várias vezes reiterado pelo próprio Bedford. Jamais passaria pela sua cabeça episódios como a Guerra do Golfo, a derrocada do Império Soviético, o ataque às torres gêmeas do WTC, o enforcamento de Sadam Hussein e muito menos a eleição de Luiz Inácio da Silva para a presidente. Mas James acreditava na possibilidade de, “um dia, no futuro”, ter a sua vida restaurada e descobrir que o câncer que o matou deixara de ser um desafio para a medicina.
Foi o primeiro homem a ser congelado com base em métodos científicos. Depois dele, milhares de pessoas foram submetidas à mesma técnica, a criogenia. De maneira simplificada, funciona assim: retirar-se todo o sangue do cadáver e o substitui por uma substância anticongelante, seguida pela imersão de todo o corpo em um tubo repleto de nitrogênio líquido.
O processo completo já foi testado com êxito relativo em pequenos animais, mas não há garantias de que possa dar certo com um ser humano. Pelo contrário, cientistas de renome garantem que o sonho de Bedford continuará a ser sempre um sonho, (ele “pensa” que está dormindo), exceto no que diz respeito à cura para o câncer.
Tal certeza não é compartilhada pelos pesquisadores da Alcor Life Extension Foundation (www.alcor.org) e do Cryonics Institute (www.cryonics.org), apenas duas entre um vasto leque de empresas que atuam nesse segmento – o congelamento de seres humanos com vistas a uma hipotética ressurreição.
A primeira procura se defender contra as críticas que recebe de todosos lados, dizendo que “apenas preserva o corpo hgumano em estado viável para possa ser tratado no futuro”, apostando, como muitos outros no avanço espetacular da medicina.
Já o Instituto Crionics vai direto ao ponto, a julgar pelasua página na internet, com o sugestivo apelo “sua última chance de viver”, em lugar de destaque.
A taxa de inscrição para programas como esses não é alta, mas o custo total, com direito a assistência permanente por um período de até dois séculos, pode chegar a US$ 120 mil, sob a forma de um seguro de vida contratado pelo interessado e que tem nas empresas os principais beneficiários.
Em pelo menos um caso, a questão foi parar nos tribunais.
Uma das filhas do lendário Ted Willians, um dos maiores nomes do beisebol americano, morto em julho de 2001, aos 83 anos, tenta reaver o corpo do pai, que repousa em uma das urnas da Alcor. Willians foi congelado com autorização do filho mais velho, supostamente para atender um pedido feito anos atrás pelo astro.
A filha argumenta que o pai jamais manifestou tal intenção e desconfia que o irmão pretenda vender – bem caro – “porções” de DNA do maior nome do beisebol em todos os tempos.
Além das centenas de corpos congelados (a uma temperatura que pode chegar a 300 graus negativos), pelo menos outras mil pessoas de várias partes do mundo (o Brasil, inclusive) encontram-se na lista de espera da Alef e do Cryonics.
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