4 de abr. de 2007

A unanimidade sobre os bombeiros

Dias atrás, mas precisamente em 29/03/2007, escrevi neste espaço sobre algumas constatações apuradas pelo Latinobarómetro (http://www.latinobarometro.org/), um imenso relatório feito a partir de pesquisa de opinião pública realizada em 18 países da América Latina. O relatório pode ser encarado como uma síntese do pensamento de 400 milhões de pessoas que vivem na região e um dos vários temas abordados foi o grau de credibilidade de instituições, como Congresso, Justiça e Partidos Políticos, entre outras. Apesar de não se enquadrar na categoria “institituições”, propriamente ditas, o elenco de opções incluía bombeiros e vizinhos, além do rádio, TV, jornais e revistas.

O texto completo por ser lido aqui (http://robson-pereira.blogspot.com/2007/03/vizinhos-mais-confiveis-do-que.html)

No texto abaixo, pretendo abordar apenas uma pequeníssima parte do relatório, mais especificamente a liderança absoluta dos bombeiros (82%) no ranking de credibilidade nos 18 países onde a pesquisa foi realizada.

Tamanha credibilidade nos bombeiros, apesar de não ser nova, continua um mistério para mim. Não que discorde dos resultados da pesquisa ou mesmo que eles não mereçam. Só não entendo. Talvez isso ocorra pela imagem de heróis que ontestam ou pelos perigos que enfrentam salvando vidas alheias enquanto colocam as suas próprias em risco.

Procurando pistas para eliminar ao menos parte destas dúvidas, localizei dados importantes no relatório Perfil das Organizações de Segurança Pública, divulgado recentemente pela Secretaria Nacional de Segurança Pública. É um calhamaço, com quase 150 páginas, analisando descrevendo o chamado Perfil das Organizações de Segurança Pública, englobando atividades do Corpo de Bombeiros, Policia Militar, Polícia Civil e da Guarda Municial em todo o País.

Merece uma leitura mais apurada e quem estiver disposto pode encontrar a íntegra do documento no endereço www.infoseg.gov.br/quest_pm_vers_2005.pdf. Separei alguns dados globais na expectativa de chegar a alguma conclusão. Servem, no mínimo, para conhecermos um pouco mais da rotina dos nossos “super-heróis”.

Na média nacional, 62,4% do efetivo do Corpo de Bombeiros têm mais de 10 anos de serviço. Os equipamentos utilizados por eles são modernos e constamente renovados. A maior parte participa ou já participou de programas de reciclagem profissional.

Mas ao contrário do que supõe a nossa vã filosofia, as atividades mais executadas pelos bombeiros não é o combate ao fogo ou operações que representem um alto risco de vidas. A estatísticas da Secretaria Nacional de Segurança Pública revelam que atendimentos pré-hospitalares, registro de ocorrências de acidentes e avaliações de projetos e realização de vistorias são as atividades mais realizadas por bombeiros em todo o País.

Vejamos:

O “perfil” dos bombeiros traçado pela Senaseg, a partir de dados repassados pelos próprios bombeiros, reserva um capítulo para a análise do cotidiano profissional da categoria, distribuido em cinco tipos de ocorrências: Incêndios, Explosões, Acidentes, Salvamentos, Buscas e Resgates, e Falsos Avisos e Ocorrências Não Atendidas.

Em 2005, o relatório nacional de atividades dos bombeiros registram 137.779 ocorrências de incêndios, 149 de explosões, 484.024 ocorrências de acidentes, 308.162 de salvamento, busca e resgates e 131.292 falsos avisos e não atendidimento.

Fazendo as contas, dá um total de 1.061.406 ocorrências.

Reparem que a soma de acidentes e falsos avisos e ocorrências não atendidas representam cerca de 60% do total.

Ao detalhar o item “Salvamento, Buscas e Resgates”, como 308.162 registros de ocorrências, algumas surpresas:

- em 38.162 vezes os bombeiros foram chamados para atividades de captura ou salvamentos de animais.

- existem na relação 40.134 registros para extermínio de insetos, número que equivale a duas vezes e meia o total de ocorrências de afogamento;

- 37.647 registros para corte de árvores, o que representam quase 10 vezes mais do chamados para tentativas de suicídios;

- 2.809 desobstruções de vias públicas;

- 143.994 ocorrências registradas como “outras”;

- 90% dos chamados descritos no item “explosões” não incluiam artefatos explosivos.

No grupo dos incêndios, as ocorrências mais freqüentes incluem residências e incêndios florestais. As menos freqüentes, aeronaves, cinemas ou teatros.

No item acidentes, as ocorrências mais comuns foram as de acidentes com vítima não fatal. Raros foram os casos envolvendo acidentes ferroviários e com aeronaves.

Não sei se o festival de estatíticas acima ajuda a entender o por quê de tamanha – e certamente merecida – credibilidade dos nossos bravos bombeiros. Mas uma conclusão é inevitável: a profissão (o meu sonho decriança) é típica daqueles de carne e ossos, como qualquer ser comum, com muito pouco espaço reservado a super-heróis.

Um último comentário a respeito: o leque de opções nessas pesquisas de opinião publica sobre credibilidade deveria ser ampliado. Gostaria de ver o resultado de uma amostra envolvendo outros personagens do dia a dia das pessoas. Quem ganharia o duelo bombeiros x carteiros ou até mesmo bombeiros x garis. Até por que ganhar de políticos e partidos políticos é bater em “cachorro morto”, como dizem por aí.

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